Poema ao vento – Priscila Pereira

Um vento forte, cheirando a hortelã, bateu em meu rosto, esvoaçou meus cabelos e trouxe voando um pedaço de papel. Nele li um poema:

“O mesmo vento que traz a tempestade
Leva o rancor e a melancolia embora.
O mesmo vento que traz o perfume das flores
Leva embora o choro de roubados amores.
Deixe o vento soprar, abra o seu coração
Se sorte tiver, um furacão entrará
Transformará a paisagem, como após a tempestade.”


Não estava assinado, não pude adivinhar o autor, gostei do que li. Parei e pensei, sempre gostei de ventanias e tempestades, acho que varrem a alma e lavam e purificam os sentidos. Fiquei sentindo o vento, vendo tudo que ele levava, raios e trovões começaram a clarear o céu. Grossas gotas de chuva caíram  em meu rosto. Fechei os olhos por um instante. Senti que fazia parte de tudo, do vendaval, da tempestade, do mundo. O pedaço de papel com o poema em minha mão se encharcou e se desintegrou. Não me importei, o poema já havia entrado em meu coração.

22 comentários em “Poema ao vento – Priscila Pereira

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  1. Ah..a poesia e a sua força!
    Parabéns, guria… disse com muita emoção de um sentimento que abraça todos nós quando nos arrebatamos por um poema.
    😉

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  2. Oi, Priscila,
    Tudo bem?
    Foi de muito bom gosto, escolher um texto que fala justamente sobre o arrebatamento da leitura em uma estreia de um blog sobre literatura. Muito bom. Quem nunca se sentiu assim? Arrebatado por um livro, um conto, um texto, uma obra de arte, transportado para o meio de uma ventania, bem no olho do furação da história?
    Gostei também da imagem do papel se dissolvendo na chuva. O que fica, afinal de um texto após sua leitura? Ele vai morar dentro de nós e passa a fazer parte (um pouquinho ao menos) do que somos.
    Parabéns.
    Beijos
    Paula Giannini

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  3. Oi, Priscila!!
    …e o poema já entrou no meu coração! Amei, já havia lido ontem, hoje reli, e vivi a mesma emoção que senti na primeira leitura.
    Cada linha do conto-poema mostra o quão sensível você, e o quanto de força há, nesta sensibilidade.
    Quantos temporais, quantos ventos, quanto tempo? eu sei da sensação de saber-se parte de tudo.
    E é muito bom, mesmo que após as tempestades mais torrenciais, saber-se de pé.
    Parabéns!
    Beijo

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  4. Um encontro entre dois gêneros, conteúdo e estilo que se fundem conquistando a sensibilidade do leitor. A realidade ganhou em suas mãos um sopro poético, um tom harmônico, uma expressão simples e de comunicação fácil.

    Ah! E pelo vento temos um amor em comum. Veja estribilho de um poema que escrevi: “Rodopiar ao vento, / Levado pelo tempo!” – É, o “vento traz perfumes”, mas nos deixa descabeladas… Desculpe pela brincadeira, parabéns pela boa ideia e execução. Vamos nos dar muito bem aqui. Beijos.

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  5. Outra poetisa no Blog, muito bacana, uma poesia contada, lembrei da letra de “Louca Tempestade” da Ana Carolina. Como já comentei em outra poesia, admiro quem sabe do ofício, tenho dificuldades, sei lá, acho que são as tempestades na minha mente que não deixam a poesia se criar. bjs.

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  6. Tão curtinho e tão cheio de significado! A poesia já estava dentro do coração. As sensações vindas dela já haviam sido proporcionadas, a missão poética já havia viajado pelo vento e chegado ao destino errante, mas certeiro. Decerto a poesia é sua também. Priscila, quando eu era bem mocinha, na minha escola, ainda não existiam aquelas terríveis cadeiras de braço. Usávamos umas cadeiras acopladas a uma mesa com baú. Certo dia, antes da aula começar, encontrei um desenho belíssimo e um texto, tipo redação, chamado o O Homem do Olho de Vidro. Não tendo guardado a folha e nem conhecido o autor, desde então (aos onze anos) procuro este texto para ler de novo. Sinto que jamais o encontrarei. Creio que vai se desintegrar como esta sua poesia, na minha memória e no tempo que a tudo destrói. Muitos beijos.

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    1. Obrigada Iolandinha!! Que bom que gostou!! A poesia é minha sim…
      Tente fazer a sua versão do Homem com o olho de vidro. Aposto que ficaria ótima!!

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  7. Olá Priscila. Num espaço tão curto casou poesia com prosa, vento com liberdade, tempestade com renovação. Casamentos perfeitos. Gostei muito. Parabéns! Um beijo.

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