Ausência – Amanda Gomez

Acordei sobressaltada, havia terra em meu rosto e boa parte do meu corpo estava coberto por ela. Tentei conter o pânico, não era a primeira vez, nem mesmo seria a última.

Com dificuldades levantei, nada parecia ter mudado – escuridão, frio e a ausência. Observei a montanha que eu tão desesperadamente tentava escalar e senti um enorme cansaço, não parecia uma boa ideia fazer tudo de novo. A vontade era voltar para debaixo daquela mesma terra e esquecer.

Uma risadinha vinda da mais profunda escuridão fez meu corpo estremecer, não restava muito tempo depois daquilo, só havia uma escolha.

Corri com os pés descalços e comecei a escalar o abismo.

                                                               *****

Tentei sem sucesso ignorar a luz, abri os olhos e fitei a cortina voando pela janela aberta. Aos poucos a consciência foi tomando conta, o relógio marcava uma da tarde, no calendário a data era familiar – meu aniversário.

   Um sorriso triste nasceu em meus lábios, minha voz rouca cantarolou aquela canção.

“Twenty-five years and my life is still

I’m trying to get up that great big hill of hope

For a destination…

And so I cry sometimes when I’m lying in bed

Just to get it all out what’s in my head

And I, I am feeling a little peculia…”

  – Feliz aniversário, Ana. – sussurrei. Limpei uma lágrima, virei-me para o outro lado e voltei a dormir.

                                                             ******

 O barulho ficou cada vez mais insistente, algumas vozes começaram a fazer parte daquela trilha sonora irritante. Despertei quando o som de algo sendo quebrado tornou-se muito evidente. Meu coração deu um pulo e antes que eu conseguisse mover meu corpo para fora da cama, os vi entrando.

Minha mãe correu e me abraçou, fitou-me por um segundo procurando qualquer que fosse as respostas para as suas perguntas. Então me bateu.

   – Deus foi muito cruel dando-me uma filha como você.   – vociferou.

 Aparentemente eu sumi, mais precisamente por um mês. Foi o tempo em que me mudei sem comunicar a ninguém, saí do emprego e me isolei mais uma vez. Apesar dos transtornos, não entendia a reação deles até que me explicaram.

Minha avó faleceu há quatro dias, tentaram me localizar de todas as formas sem sucesso, até que um amigo em comum me encontrou. O fato do Porteiro relatar que não tinha me visto sair ou chegar do apartamento fez com que todos pensassem que me encontrariam sem vida em uma banheira, ou coisa parecida.

Eu apenas…dormia.

Aquela sensação tão familiar de vazio surgiu. Meu pai, cansado da rotina de se preocupar comigo não me dirigiu mais nenhuma palavra. Algum tempo depois eles partiram como sempre faziam, e eu lhes fiz promessas que sabíamos que nunca iria cumprir.

A porta fora improvisada, tranquei-a com força como se pudesse impedir todos os fantasmas que rondavam minha vida de entrar. Meu corpo aos poucos foi relaxando, os espasmos aumentando até o ponto que não consegui mais segurar as lágrimas que simbolizavam a dor que queimava minha garganta e sangrava em meu peito.

                                                                *****

O frio na barriga era bem vindo, a sensação me mantinha alerta.Com cuidado sentei na barra de proteção da ponte, lá embaixo a água parecia serena, apenas esperando por um erro meu. Passei o dia inteiro vagando depois da tentativa frustrada de ir à missa da minha avó, não consegui encará-los, nem a frieza e os julgamentos que receberia. A visita à casa de telhados brancos também não ajudou o meu humor, fechei os olhos e balancei minhas pernas no vazio, um sapato soltou-se e observei fascinada sua viagem de encontro ao nada. O vento passou por mim como um convite, o som de passos interrompeu meu flerte com a morte.

Um homem aparentemente bêbado passou, olhou-me intrigado mas continuou seu caminho. Alguns minutos depois ele voltou.

   – Escuta, você tá pretendendo se jogar daí? – perguntou, a voz arrastada.

   – Não. – hesitei.

   – Bom, é que parece que vai e por mais que eu esteja bêbado, amanhã vou me lembrar de você quando aparecer no noticiário, consequentemente vou me condenar por não ter impedido. Então se puder descer daí, agradeço.

Nos encaramos, notei seu olhar esgueirando-se em busca de uma solução eficiente para me tirar dali. Ele devia ter seus trinta e poucos anos, uma barba mal feita preenchia seu rosto, as roupas amarrotadas e o cheiro de álcool era evidente.

   – Eu não vou pular, estou apenas…

Ele bufou.

   – Ok, medidas drásticas, então. – disse, enquanto fazia esforço para subir na barra onde eu estava sentada. Imediatamente fiquei em pânico quando o vi precipitando-se para baixo.

   – O que diabos está fazendo? Você vai cair! – gritei. Empurrei-o de volta, aproveitando-se disso ele agarrou-se a mim e puxou-me  junto para o chão.

Passamos alguns minutos desferindo ofensas um ao outro, ele resmungava dos machucados que agora tinha nas mãos e, em como eu deveria agradecê-lo. Depois cansou da discussão e seguiu seu caminho.

 Sem nada melhor para fazer, o acompanhei.

Ele chamava-se Orlando, um estrangeiro que vivia no Brasil há bastante tempo, não contou o por quê, mas, não podia voltar ao seu país de origem – que pelo sotaque suspeitei ser a Espanha. Passamos o resto da noite conversando – não que ele quisesse, simplesmente cansou de me mandar embora.

   – Você transou com seu psiquiatra? – perguntou um tempo depois, gargalhando.

   – Sim. – admiti envergonhada. – O sexo era mais eficiente que a consulta. – notei que Orlando me deu uma conferida indiscreta.

   – Isso não vai dar certo, meu bem. – alertou.  Eu sabia, exatamente por isso que valeria a pena. Algumas horas depois estávamos ofegantes em uma cama, repetimos aquela noite por diversas outras vezes, agarrei-me àquela rotina com a um bote salva vidas.

Nos tornamos amigos, ele era chefe de um modesto restaurante onde passei a trabalhar. Gostei da experiência, mas sabia que tudo aquilo seria passageiro – o trabalho e Orlando. As minhas doses de realidade duravam muito pouco.

   – E então, qual é a sua história? – perguntou ele certa vez, enquanto fazíamos uma caminhada – aparentemente eu estava flácida e pouco flexível.

   – É longa. – desconversei.

   – Se for contar com o fato de que você não me deixa mais um minuto em paz, e tem gastado demasiadamente minha energia com sexo, tempo não deveria ser um problema.

Parei sem fôlego, as mãos nos joelhos. Minha garganta apertava sempre que mexia nas feridas.

   – Por mais tempo do que posso lembrar, sofro de alguns problemas… digamos assim, depressão, ansiedade… apatia, sou como um poço seco no meio do deserto. Tenho problemas com minhas emoções – ou a falta delas. Estou com vinte e cinco anos e vivo apenas de vagas lembranças.

Ele assentiu.

 – Você é bem doidinha mesmo. –  brincou. – Quem é Alice? Você costuma falar esse nome enquanto dorme.

O silêncio preencheu o ar até o ponto que sentir-me sufocada. Agradeci mentalmente quando ele mudou de assunto.

   – Bem, acho que por hoje já deu, vamos?

   – Acho que vou dar mais uma volta – falei. Ele assentiu e nos despedimos.

Quando dei por mim, meus pés tinham me levado até lá: Uma casa de telhados brancos com um modesto jardim dando seus primeiros sinais de exuberância, uma casinha de cachorro, um balanço pendurado numa mangueira. Ainda guardava os desenhos daquela planta em uma pasta cor de rosa, junto a várias cartas de amor.

  O deslumbre de um passado que parecia tão distante, me distraiu. – eu não os vi chegar.

 – Oi, Mamãe. – disse uma voz, que mais parecia um sininho.

 Virei-me lentamente para encarar aqueles olhos grandes tão parecidos com os meus. Os cachos escuros faziam uma moldura perfeita em seu rosto em forma de coração. Eu não conseguia falar, nem entendia por que ela sorria timidamente para mim como se me conhecesse há muito tempo – como se eu fosse sua pessoa favorita no mundo. Instintivamente me afastei.

   – Alice, acho que Bob está com fome, melhor ir dar comida a ele, que tal?

Ela revirou os olhos docemente e sorriu.

   – Tudo bem, Papai. Já entendi, é que eu não resisti! – respondeu sem tirar os olhos de mim. Então Correu para a casa.

 Não queria olhá-lo mas sua presença exigia isso, então cedi. Tudo era familiar, em seus olhos eu colhi lembranças de uma vida passada, o primeiro beijo e a primeira vez. As loucuras de adolescência, o laço e o rompimento.

   – Ela não vai conseguir dormir esta noite de tanta empolgação. – disse.

   – Como… como ela sabe de mim?

   – Por que não saberia? Ela sabe exatamente quem é você.

Segui seu olhar, Alice nos observava escondida atrás da árvore.

   – Você não podia ter feito isso! – disse sem ar. – eu pedi… eu… ela.

   – Respire, Ana. Apenas respire. – uma nota de humor, em suas palavras.

Ele suspirou e só então notei que suas mãos tremiam. Ele ainda era o mesmo, e ainda assim mal o reconhecia. Me envergonhava estar perto dele, sentia-me tão suja, pequena.

   – Geralmente você se esconde, tira algumas fotos. – sorriu. Meu rosto queimou diante da revelação de que minhas espionagens eram um desastre.

 – Em todas as vezes, me perguntava se era agora que você cruzaria o caminho e bateria na porta, mas esse dia nunca chegou. Alice é esperta e muito paciente, está esperando por você mas entende que o primeiro passo deve ser seu.

   – Não seria mais fácil ter dito que eu não existia?

   – Por um tempo pensei que sim… mas me recuso a fazer parte disso, eu nunca poderia enterrar você, Ana. Não sabe o quão difícil é vê-la desta forma e não poder fazer nada. Ela foi minha cura, não percebe que é a sua também?

Não respondi, no impulso levantei preparada para fazer o que faço de melhor – fugir.

   – Você entende, não é? Por que  desistir de você. – sua voz era apenas um sussurro. – Entende o motivo pelo qual não vou atrás de você agora, mesmo que eu queira muito isso?

Lutei com as lágrimas.

   – Sim. – disse, eu sabia. Mas isso não mudava nada.

Alice não se escondia mais, olhava para nós com tamanha expectativa que quase dava pulinhos. Quando fui embora, o vislumbre em seus olhos era de tristeza.

A camisa de Orlando estava molhada com minhas lágrimas, ele não disse nada quando apareci aos prantos e me joguei em seus braços. Eu queria sexo, queria que ele me fizesse esquecer tudo, mas não permitiu, exigiu que eu chorasse – que me libertasse.

Eu lhe contei tudo, desde as minhas primeiras memórias até o vislumbre dos olhos tristes de minha filha. Contei como eu a abandonei, como segurá-la no colo me causava uma dor profunda, ouvir seu choro me desesperava. Contei sobre o dia em que quase a perdi, a lembrança de ver seu corpinho inerte e seus olhos que não abriam. A dor que senti quando encontrei um sentimento desconhecido nos olhos do homem que eu amava enquanto ele tentava salvá-la. Cometi tantos erros que estar perto deles tornou-se perigoso. Confessei sobre o momento em que me entreguei ao vazio – quando arrumei minhas malas e deixei as duas pessoas que mais amava para trás.

Desde então a inércia paralisou meu corpo, e a apatia congelou minha alma

   – Esqueça o que eu disse sobre não pular. – disse Orlando. – pule, mergulhe e quando voltar a superfície faça da sua vida aquele fôlego. Eu vou estar sempre aqui, aliviado por não ser mais seu brinquedo sexual. – brincou. – mas…sou apenas um pequeno bote salva vidas nessa imensidão que é sua dor. Você precisa curar-se, precisa recuperar o que lhe pertence, não é só a sua vida, Ana. É a deles também.

                                                           *****

 Despertei, a terra ainda permanecia lá tal como o frio e o medo. Mas algo ficou diferente – em mim. Não tive medo quando comecei a escalar a montanha como fazia todos os dias, lutando em busca daquela luz que me faria renascer, aquilo era parte de mim, não importava quantas vezes eu caísse – eu nunca mais iria parar de tentar.

                                                          *****

Pela primeira vez atravessei o gramado. Sabia que eles me observavam, esperavam por mim. Antes que pudesse bater, a porta se abriu, diante dela meu anjo sorria.

   – A gente estava esperando por você, mamãe. Por que demorou tanto?

   – Perdão. –  chorei. –  Só agora  consegui achar o caminho de volta.

 

34 comentários em “Ausência – Amanda Gomez

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  1. Amanda!! Que texto maravilhoso!! Confesso que eu chorei. Toda a dor, o vazio, toda a luta da protagonista, ficou tudo muito real!! O renascimento de uma alma torturada, doente, pelo amor a um filho!! Uau!! Parabéns!!

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    1. Oi, Priscila! Nossa, muito obrigada pelo comentário e pelas dicas. Eu estava bastante insegura quanto este conto. Saber que alguém gostou me deixa muito feliz. Que gostou MUITO. Me deixa radiante rsrs. Obrigada.

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  2. É.. um texto denso e inteligente. Gostei de acompanhar esta mulher pelo seu caminho de volta.
    Gostei deste Orlando, muito interessante ele! hehe
    Parabens pelo seu conto, bem montado, bem escrito. Arrasou!
    Bjins

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    1. Oi, Anorkinda!

      Que bom que gostou. Eu queria ter escrito bem mais sobre Orlando, na verdade escrevi… mas eu cortei ele em vários pedaços é só sobrou isso rsrs. Obrigada pelo comentário generoso.

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  3. Oi, Amanda,

    Tudo bem?

    Você tratou de um tema forte. O medo da protagonista devido à culpa leva-a a sentir-se impotente e inapta para cuidar da própria filha.

    Foi interessante notar como você foi revelando o enredo, bem como o cerne da questão em si, aos poucos, conduzindo o leitor lentamente pela alma de sua personagem sem deixar a peteca (a curiosidade) cair.

    Qual de nós já não se sentiu assim, com medo da imensa responsabilidade que é cuidar de uma vida. Já tive meu filho quase morto, engasgado em meus braços e sei o que é isso. Se não fosse por minha mãe, não sei o que teria acontecido.

    O final, também me pegou com um nó na garganta. Criar empatia é um dom em um(a) escritor(a) e você conseguiu isso. Torci por ela, para que tudo desse certo. Para que a personagem encontrasse a si mesma e à filha.

    Parabéns.

    Beijos
    Paula Giannini

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    1. Oi, Paula.

      Muito obrigada. Fico feliz que tenha gostado e, de que alguma forma a personagem conseguiu transportar suas emoções a você. Como disse, empatia é de fato algo delicado na escrita, uma sintonia entre escritor e leitor essencial. É bom saber que de algum modo consegui com você.

      Beijos.

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  4. Olá, Amanda!

    Puxa, que linguagem rápida! Gostei muito do seu conto. Tem umas palavras que passaram baritas na revisão como brasil e bob com b minúsculo. Tem um “a” no lugar do há também, mas deixa isso pra lá. Olha, eu apreciei a leitura. A trama se desenrola em ações gradativas de emoção. Achei misterioso e ao mesmo tempo bem real (gosto muito de tudo o que se parece absurdo, mas passível de acontecer).
    Parabéns!
    nota: 8,5

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    1. Maria, obrigada pela leitura atenta, já fiz as correções,acho. ( não creio que deixei isso passar rs)

      Eu tinha receio de estar correndo demais na narrativa, nessa nova rotina de escrever com limites tenho aprendido a dizer muito em poucas palavras, mas ainda é bem complicado pra mim. Fico feliz que essa minha ”linguagem rápida” tenha agradado :). Gosto quando o leitor vai percebendo nuances como o fato de eu realmente jogar as emoções em pequenas doses, até chegar ao seu ápice.

      Muito obrigada.

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  5. Olá Amanda! É um texto sensível que fala sobre dor, sobre perda, sobre culpa e remorso com muita sensibilidade. O medo de sentir-se incapaz de dar conta de outra vida fica evidente e a gente se apieda e sente empatia por essa mãe. Muito bom!

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    1. Oi, Werneck. Obrigada pelo comentário, que bom que gostou… que de alguma forma te tocou. Tentei usar de sutilezas pra expressar esses sentimentos, pra não ficar muito pesado.

      Obrigada.

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  6. Olá Amanda,

    Um texto muito bom. A forma como você vai revelando aos poucos o enredo e uma distribuição bem dosada da emoção ao longo da narrativa, na minha opinião, são os destaques que revelam uma escritora muito talentosa manejando esse texto.
    Algumas coisas passaram na revisão (“casa de talhados branco”, “vivia no Brasil a bastante tempo”) . Outra questão que aponto para a revisão são algumas rubricas nos diálogos que talvez ficassem melhor em novos parágrafo.
    É isso, Amanda. Parabéns pelo trabalho! Beijo.

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    1. Oi, Muito obrigada. Anotado as dicas, vou tentar melhorar nisso, e observar mais minhas revisões, é um dos meus pontos fracos na escrita, mas sigo aprendendo.

      Que bom que gostou!

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  7. Método TFI – Trama – Fluidez – Impacto

    -Trama: Seu texto deu um nó em minha cabeça. As misturas de cenas (escalada, apartamento, encontro com os pais, tentativa de suicídio, relacionamento com Orlando, encontro com a família na floresta) demoraram a se encaixar para mim. A escrita eu achei muito adulta e profissional. Acredito ter sido o texto de melhor linguagem que já li, seu. Os personagens são marcantes, bem construídos, as emoções são exploradas com maestria, e a condução, bem, depois de montar o quebra-cabeças de todas informações, percebi que estava diante de um excelente conto. Talvez eu cortasse a parte dos pais, visto que não alteraria a história e ajudasse a esta leitora confusa, a organizar as informações. Mas o problema nem é seu e nem de sua história, mas da minha dificuldade de compreensão.

    – Fluidez: Lendo o seu conto eu entendo quando o povo reclama dos meus. Narrativas cortadas atrapalham um pouco a fluidez da obra, por mais bem escrita que ela seja, mas a falta de fluidez não diminui a excelência do seu conto.

    – Impacto: Um conto que impressiona pela maturidade e pela escrita elegante, ótimas cenas, você está de parabéns, Amanda.

    Abração.

    Iolanda

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  8. Oie, Amanda!

    Seu conto é denso, tão denso quanto as nuances da nossa psique.

    Tenho uma inclinação para tramas intercaladas. Gosto de montar, como um quebra cabeças, conforme as informações são sopradas pelo autor. E você executou isso, ao menos para mim, de forma clara.

    Quantas coisas deixamos de viver por medo. A imagem escolhida conversa muito com o drama da sua persona. Uma ótima escolha!

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  9. Olá Amanda, a sua narrativa é muito boa, coisa de gente grande. Vc. conseguiu compor bem os sofrimentos emocionais da protagonista, e a constante fuga dela mesma, peça chave no desenrolar do enredo. Como a ideia aqui é a de um laboratório, para aprimoramento da nossa escrita, sugiro ver a pontuação e travessões nos diálogos, principalmente nos verbos dicendi (verbos de declaração). Ex.: – Acho que vou dar mais uma volta. – falei. No caso, não vai o ponto ao final da frase, devido ao uso do verbo dicendi “falei”. Ok. Espero ter ajudado, no mais uma belezura de conto. Abçs.

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    1. Oi, Rose.

      Obrigada pela dica, eu realmente não sabia! ” escrevendo e aprendendo” vou dar mais uma revisada no texto depois e observar essa regra nas próximas vezes.

      Fico feliz que tenha gostado. Na verdade sou bem leiga na escrita ainda, mas to aprendendo a usar criatividade com escrita do jeito certo.

      Abraços!

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  10. Puxa, Amanda, que intenso.
    Percebi desde o início a quantidade de emoção e sentimentos diferentes que tu conseguiste colocar no texto. São muitos.

    A dor da personagem principal, atordoada por suas fraquezas, que passou a se lançar nos vazios de pontes e de sexos casuais, está ali, e é profunda.
    Eu lamento por ela. Talvez ela nunca se cure.
    Talvez a filha dela nunca se cure…

    E é assim, da sua história nascem as variadas interpretações, porque tudo é muito real.

    Meu único apontamento de erro de revisão, pequeno, perto da mensagem do conto, é nessa frase:

    “Eu não conseguia falar, nem entendia por que ela sorria timidamente para mim como se me conhece a muito tempo – como seu eu fosse sua pessoa favorita no mundo. Instintivamente me afastei.” -> o correto é “há muito tempo”.

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  11. Olá. Deixei este conto da Etapa Nascer para comentar por último. Li-o sábado (22) à noite e desde então venho pensando muito nele e no que dizer. Foi um conto que mexeu comigo de forma bem intensa, tanto que, após a leitura, eu não consegui ler mais nada, o dia todo.

    “Acordei sobressaltada, havia terra em meu rosto e boa parte do meu corpo estava coberto por ela. Tentei conter o pânico, não era a primeira vez, nem mesmo seria a última.
    Com dificuldades levantei, nada parecia ter mudado (…)
    Corri com os pés descalços e comecei a escalar o abismo”. — Só quem já se sentiu assim ao acordar entende o peso deste parágrafo. É exatamente assim a sensação de ter que levantar e enfrentar o dia, quando na verdade, tudo o que se quer, é ficar enterrada, para todo o sempre.

    “Aquela sensação tão familiar de vazio surgiu. Meu pai, cansado da rotina de se preocupar comigo não me dirigiu mais nenhuma palavra”. — Quando um parente ou amigo tem uma doença, seja ela um câncer, ou qualquer outra que seja física, que tenha papéis explicando o que é e quais “células” estão ruins ou sem funcionar direito, todo mundo lhe faz agrados, lhe diz que ficará tudo bem, diz que está fazendo orações. Mas, quando não há uma ferida no corpo, não há um exame de sangue para provar que tem alguma coisa errada ali, todo mundo se cansa. Mais cedo ou tarde, todos acabam dizendo que aquilo ali é frescura, é falta de vontade, falta de esforço, ou mesmo, falta de fé. A autora colocou, em poucas palavras, toda a verdade dos fatos.

    Depois apareceu Orlando. Esse personagem foi muito importante para a protagonista, porque ela encontrou nele um amigo, um apoio, alguém que não se fazia de perfeito e que tinha, também, problemas. Ele não a criticou, ele não encheu-a de perguntas insignificantes, não a pressionou, mas manteve-se ali, presente, um braço forte, um amigo. Foi então que ela própria começou a perceber que precisaria continuar, que precisaria enfrentar seus problemas.

    “sou como um poço seco no meio do deserto” — Frase simplesmente perfeita, sem comentários.

    “Você precisa curar-se, precisa recuperar o que lhe pertence, não é só a sua vida, Ana. É a deles também” — Enfim, a personagem percebeu o que mais lhe incomodava: a vida de outras pessoas. Vidas tão importantes, que fez com que ela perdesse-se na sua própria. Apesar de ter sido uma vida difícil para a personagem, fiquei muito feliz que ela tenha tido um motivo para ter caído em depressão e ansiedade e todas as emoções turbulentas pelas quais passou. Já que, tendo um motivo, e aceitado este motivo, ela pôde enfrentar seus medos e seguir adiante.

    Um conto forte, profundo, impactante. Parabéns pelo conto, é só o que eu posso dizer, depois de tantas lágrimas derramadas por ele.

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    1. Oi, Vanessa.. O que dizer? Li seu comentário e fiquei até agora sem saber como responder. Ele causou em mim sensações semelhantes ao que o conto causou em ti.

      Primeiramente muito obrigada! É uma sensação incrível quando escrevemos algo em que ponhamos o coração, e isso é observado tão claramente por um leitor. Isso é mágico.

      Eu não costumo me colocar nas histórias que escrevo, mas nesse caso a personagem tem um pouco de mim, sou uma pessoa quase sempre apática, e luto com isso todos os dias. Acordar as vezes é tão difícil… O conto em si é apenas uma pequena parcela do que eu realmente pretendia com ele.. é quase sempre assim, não consigo expressar tudo, na luta com as palavras eu acabo perdendo sempre.

      Não sei se todos entenderam as divisões…A parte do abismo é somente ela lutando dentro de si todos os dias para despertar. Fico contente que tenha entendido todas as nuances.

      A intensidade de suas palavras é um tanto agridoce, me deixa orgulhosa ao mesmo tempo que triste. As vezes ler algo tem o mesmo efeito que olhar-se no espelho. Espero que os efeitos colaterais tenham passado >.<

      Obrigada, obrigada e obrigada!

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  12. Olá Amanda. Que conto! Uma história profunda, contada com arte e guiada por mão de mestre. A depressão pós-parto levada quase às últimas consequências. E as outras vítimas, porque a depressão (como tantas outras doenças) não vitimiza apenas os que dela sofrem, mas quantos os rodeiam e amam. Está muito bom. Dei por umas falhas na revisão e até o “a” em vez da “há”, mas isso já foi comentado e não merece a pena repetir. Gostei muito. “Mexe” conosco e, como já disse, mas não é demais reforçar, muito bem dirigido; demonstra segurança de autor. Um beijo.

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    1. Olá, Ana!

      Quando leio comentários tão generosos,me pergunto se é comigo mesmo. rsrs Não sou de falsa modéstia, quando eu vejo que fiz algo realmente bom, eu sou a primeira a espalhar isso por ai kk.. mas quando sinto que poderia ter sido bem mais, me surpreendo quando vejo que eu posso está sendo muito perfeccionista… será mal do meu signo?

      Muito obrigada, saber que estou no caminho certo só me dá mais fôlego pra escrever, mesmo que eu esteja apenas engatinhando nesse mundo dos contos, onde sempre acho que estou escrevendo histórias em retalhos.
      Sigo aprendendo.

      Obrigada.

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  13. Fênix, renascida das cinzas – essa é a sua protagonista. Parabéns pelo texto intenso, forte, com imagens críveis e cenas tão angustiantes, mas realistas. O texto ficou muito bom, só mesmo mais umas revisões: “Porquê desistir de você.” / Por que desistir de você? , “Nos encaramos”, “Nos tornamos”, “, os vi”, “o acompanhei”, “me puxou-me” ( Não se inicia frase ou oração com pronome átono; na última citação , o pronome ficou repetido – o correto é “puxou-me” . Ainda falta uma crase: “agarrei-me àquela rotina” e “conhece” / conhecesse. Desculpe tantas observações, mas a intenção é ajudar. Gostei muito da história e de como foi executada. Beijos.

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    1. Olá, Fheluany.

      Obrigada pela leitura atenta e pelas dicas, ainda estou confusa do ” nos” e ”o” que você observou, mas vou estudar sobre isso.

      Fico feliz que tenha gostado da história, e que de alguma forma consegui expressar as emoções que pretendia.

      Beijos!

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  14. Torci mais por Orlando do que pela protagonista. Senti pena de sua fraqueza e confusão. Isto é muito bom, quer dizer que a personagem me envolveu totalmente, como um vilão pegajoso.
    Os abismos da depressão estão ali, como um conjunto desconexo de passado, presente e futuro amarrado à cama.
    Gosto de frases de impacto como “ – Deus foi muito cruel dando-me uma filha como você.” e “– Você transou com seu psiquiatra? –

    Sugestão:
    Revisão, revisão, revisão, revisão e revisão. Erros como “forme,” (fome) e “como seu eu” (como se eu) você teria percebido se lesse em voz alta. E mesmo assim sempre escapa algo. Meu texto (Nascida para ricar) saiu com um “sínico” em vez de “cínico”.
    A Mestra (Bia) disse que podemos consertar, mas colocando data de alteração.

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    1. Oi, Catarina.

      Queria ter escrito mais sobre ele,mas de repente me vi perdida nas palavras e não consegui, que bom que gostou dele e de alguma forma sentiu empatia pela protagonista.

      Taí uma coisa que percebi que faço pouco, ou quase nunca: ler em voz alta meus textos. Já haviam me dado essa dica por aqui, e agora não me atrevo mais deixar de fazê-lo. Muito disso se deve a minha inexperiência e o fato de sempre concluir a história no último minuto. Mas estou aprendendo.

      Obrigada!

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  15. Texto forte e sensível. Precisa de uma revisão mais atenta, mas gostei bastante do seu conto, que foi o último que li.
    Pelo o que entendi, a moça teve depressão pós-parto e seu estado só piorou ao perceber que não tinha condições de lidar com os próprios sentimentos. Acabou fugindo, tentando escapar de si mesma. E toda manhã, ela tenta escalar a mesma montanha que se reflete em um abismo sem fim.
    O diálogo com Orlando agilizou a leitura, deu cores novas ao conto, esclarecendo vários pontos. Ela havia feito sexo com o psiquiatra, mas agora quem servia como confidente e amante era Orlando. Ele é quem entendeu melhor as dores da moça. Tinha de ser alguém de fora (um estrangeiro) para lhe mostrar a sua realidade.
    Alice é um encanto e a casa de telhas brancas um sonho.
    Parabéns!

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    1. Oi,

      Muito obrigada pelo comentário atento. O abismo de Ana está com ela desde de muito antes do nascimento da filha, o medo apenas intensificou-se quando ela teve que estar tão intima de algo tão frágil e essencial em sua vida. Não aguentou essa carga.

      Você entendeu muito bem, fico feliz que tenha conseguido passar o que pretendia.

      Novamente, obrigada. E sim! Muita revisão, espero um dia conseguir escrever um texto com antecedência e ter o privilégio de lê-lo incansavelmente em busca de todos os erros e tropeços,rsrs. Aprendendo!!

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  16. Oi, Amanda!
    Primeiro, meus parabéns pela sensibilidade e profundidade com que você (sempre) conduz seus textos, de forma que o leitor se transporta para dentro da história.
    Eu estive lá, com Ana, Orlando, alice…e observei atentamente, com aquela vontade de poder intervir, aconselhar, abraçar…e de repente vi tanto de mim, de todos nós, na pessoa de Ana.
    De quantas situações vivemos tentando fugir? Quantos erros assolam nossa mente, tiram nosso sono?
    O renascimento através do embate com o quase desenlace, é aquilo: o que não nos mata, nos fortalece.
    Lágrimas de pura empatia aqui.
    Parabéns!!
    Beijo

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    1. Oi, Renata!

      Fico muito feliz quando você gosta dos meus contos, pra minha sorte isso vem acontecendo bastante 😀 kk.

      Obrigada pelo comentário generoso e por se permitir andar junto com os personagens e sentir um pouco de suas fraquezas, dores e evolução. É muito bom ter o poder de dar um final onde o futuro possa ser menos assustador do que parece, e claro…esperança.

      Obrigada 🙂

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    1. Oi, Querida!

      Ter provocado algo raro é um privilégio. Muito obrigada pelo comentário e por ter gostado dessa história. A ideia era essa: esperança em um futuro melhor, apesar dos pesares, escalar o abismo em nós e encontrar a nossa luz.

      Obrigada!

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