Multiplicação do Amor – Vanessa Honorato

Às vezes eu me pergunto, se existe uma responsabilidade maior que outra. Sei que muitas pessoas, quando têm interesses, tratam tudo ao seu redor como sendo seu, mas, quando sabem que não terão vantagem alguma (ou terão desvantagens), simplesmente ignoram, mentindo para si mesmas que não tem nada a ver com a história.

Tudo na vida, mais cedo ou tarde, pode mudar. As responsabilidades pela vida de outros, podem acabar interferindo na sua própria.

Eu vivia em um apartamento pequeno, trabalhava duro para manter uma vida estável e sem dívidas. Até as moedinhas do meu bolso eram contadas para o fechamento do mês, de modo que não faltasse nada para nenhum membro da minha família.

Primeiro foram seus fios que se tornaram mais belos e sedosos, para logo depois, começarem a ralear. Seu corpo começou a ficar mais cheio, os seios mais volumosos e até os olhos pareciam ter adquirido um brilho maior.

Ela começou a ficar mais dengosa, sempre querendo carinho, e se eu não desse a atenção que ela queria, logo se irritava e fazia de tudo para chamar a atenção. E, se eu dava o carinho, também se irritava, nunca suportando meu toque por muito tempo.

Nos primeiros dias que comecei notar sua mudança, percebi que ela não queria mais papo, vivia dormindo pelos cantos. Quase não fazias as atividades que gostava. Mas, só caiu a ficha, de fato, quando, em um fim de semana que eu cozinhei (adoro cozinhar pra família, meu hobby predileto), ela recusou sua comida preferida: lasanha. Quase não acreditei quando ofereci e ela torceu o nariz. Não teve como continuar ignorando: ela estava diferente.

Depois que sua barriga começou a crescer, ficou óbvio. Então o desespero começou a aflorar em meu ser. Eu não tinha condições para gastos extras. Confesso que até pensei em abandoná-la. Esse pensamento durou apenas uma fração de segundos, e eu me arrependi até mesmo de tê-lo deixado existir. Vê-la e saber que estava carregando vida ali, era fascinante e maravilhoso.

Passei a mimá-la de todas as formas possíveis, sabendo que era sua primeira experiência como mãe e ela necessitava de carinho e apoio. Faltava adivinhar o que ela queria, aconchegando-a e a mantendo sempre confortável. Ficava de olho, monitorando para que não faltasse nenhum nutriente, nem vitaminas que o médico passou.

O tão esperado dia finalmente chegou.

Não fui convidado para a cerimônia, mas fiquei ali, atento, observando, caso fosse necessário alguma ajuda. Ela escolheu justo o meu quarto, acredito que se sentia mais confortável e segura ali, onde eu preparei um cantinho só para essa hora.

O amor que eu sentia por aquela gata, se multiplicou pela ninhada toda. Três fêmeas e dois machos. Peludinhos. Fofinhos. Meu amor que até então era só dela, passou a ser de todos eles.

A responsabilidade de cuidar de um felino, se tornou a responsabilidade de cuidar de seis. Se eu encontrar um lar que tenha amor e respeito por eles, eu os deixarei ir, mesmo sabendo que sentirei saudades. Enquanto isso, cuidarei para que sejam tratados com o carinho e o respeito que merecem.

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* O artigo 32 da Lei 9.605/98 determina multa e detenção de três meses a 1 ano a quem praticar ato de abuso, abandono, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos, ou realizar experiência dolorosa ou cruel em animal vivo. A punição é aumentada de um sexto a um terço se ocorrer morte do animal. Já a Lei Estadual 16.308/16 prevê proibição da guarda do animal e de outros, para aquele que maltratar animais domésticos, e só após 5 anos, a contar da data da violência, o agressor terá o direito à guarda novamente. O prazo é reiniciado se o indivíduo for reincidente. (Fonte: extraído do Portal da PMETEA).

Abandono de animais é crime, além de cruel e desumano. Caso presencie este crime, vá à Delegacia e denuncie!

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34 comentários em “Multiplicação do Amor – Vanessa Honorato

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  1. O amor verdadeiro é o que abre nosso coração para as mais intensas experiências. Amo esses pequenos que moram em mim, ao meu lado, nessa casa, lá fora, longe… São criaturas que vieram ao mundo para nos ensinar a cuidar. Cuidar é um verbo que se liga ao verbo amar. Esse conto-relato está muito bem escrito e toca na sensibilidade da gente que também ama todas as quatro patas do mundo. Abraço!

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  2. Oi, Vanessa,

    Tudo bem?

    Sua narrativa me enganou direitinho. Logo que li sobre os fios ficando ralos, sem brilho, pensei em animal, mas o conto foi avançando e eu pensando que a autora realmente falasse de uma mulher grávida. Quase no final, a surpresa. Era uma gata.

    A beleza de seu texto reside na forma como você mostrou a maternidade e o ponto de equilíbrio que dá ao igualar o estado de gestação em todas as espécies. Mães são mães, sejam elas mulheres, gatas, enfim. Foi muito bonito ler isso nas entrelinhas.

    Uma história simples, mas com grande profundidade, no que toca a responsabilidade pelo cuidado à vida. Seu personagem, mesmo com todas as dificuldades pelas quais passa, assume o papel que lhe cabe no amor. Que bom se na vida real todos fossem como ele.

    Parabéns.

    Mais um conto que roubou meu coração.

    Beijos
    Paula Giannini

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    1. Na verdade, todos deveriam ser como ele sim, mas, infelizmente, não é esta a realidade. Há tantas crianças abandonadas pelo mundo, quem dirá animais! 😦 Obrigada pela leitura e comentário 🙂

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      1. Parabéns, querida, por seu talento e sensibilidade. Amei o final feliz! Torci para ele. rsrsrs

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  3. Olá!
    Amo contos curtos, mas aqui queria mais, só pra ficar mais tempo com esta gatinha mimosa.
    é, eu considero uma tremenda responsabilidade ter a guarda destes serzinhos.
    Uma vez que eles estão na cidade, um ambiente totalmente transformado pelos humanos, não há mais a mínima condição de que os felinos vivam ‘naturalmente’, ‘selvagemente’, hoje sao animais de estimação mesmo e como tais devem ser tratados.
    Talvez no campo, fazenda e tal a coisa ainda possa ser do modo antigo, com maior liberdade, mas aqui na selva de pedra…
    Teu texto cativa, eu estranhei a lasanha.. haha sei q querias enganar o leitor, mas poderia ter escrito apenas q era a comida preferida sem mencionar qual fosse…
    Enfim, gostei, é um tema importante!
    Abração

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    1. Na verdade, Anorkinda, é triste dizer isto, mas na fazenda também há abandono, e os gatinhos não sobrevivem “selvagemente”. Já encontrei gatos e cachorros pelas estradas, totalmente esqueléticos. Há sim os gatos do mato, mas são diferentes, realmente selvagens, mas os domésticos, tadinhos, não sobrevivem muito tempo não. É uma realidade triste, mas está em todo lugar 😥 Obrigada pela leitura e comentário 😀

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      1. sim, entendo.
        quis me referir ao fato de ter o animal, cuidá-lo, alimentá-lo mas deixar livre pra passear e namorar na rua. Isso não é mais possível na cidade, talvez no interior, isso que quis dizer..mas realmente é preciso alimentá-los, estão completamente frágeis.
        bj

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  4. Oi Vanessa!! Eu amo gatos e logo saquei que era uma felininha a protagonista da sua estória muito fofa!! Pude até ver as cenas… você descreveu com tanta perfeição que posso apostar que você é mamãe de gatos também, não é??
    Gostei demais!! E o alerta do final é muito válido!! Parabéns pela fofura de conto!!!

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  5. Olá, Vanessa! sim, eu também queria mais. O texto é terno e nos induz a pensar que se trata de um ser humano, mas, como a colega falou, a maternidade é inerente a todas as fêmeas, ainda que algumas optem por não ter filhos, que também é um direito que lhes assiste. Muito bom!

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    1. Verdade, qualquer mulher pode decidir não ter filho, mas os animais não sabem tomar esta decisão, portanto, cabe ao dono o zelo por elas e também pelos prováveis filhotes, caso não os evite. Obrigada pela leitura e comentário ❤

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  6. Olá Vanessa,

    Engenhosa essa sua narrativa que faz parecer que o narrador se refere a uma gravidez humana. Converge elegantemente para a mensagem que você nos comunica de respeito aos animais que conosco compartilham esse planeta que habitamos.

    Parabéns pelo texto sensível e inteligente. Beijo grande.

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  7. Método TFI – Trama – Fluidez – Impacto

    -Trama: Uma história bacana e fofa sobre a amizade de um rapaz com a sua gatinha. No começo, eu e todo mundo imaginamos que se tratava da esposa ou namorada dele, aí vem a revelação e a conscientização de que os animais têm os mesmos direitos à proteção, carinho e cuidados como as pessoas de nossa família. Amo gatos. A autora descreveu com maestria o comportamento deles, essa brincadeira de vir pedir carinho e, logo depois, se aborrecer com ele é a cara dos gatinhos, mesmo. Gostei da história, Vanessa.

    – Fluidez: O conto ficou leve e gostoso, e fácil de ler. A foto da gatinha e dos filhotes deu um toque “cute” muito conquistador.

    – Impacto: o impacto de uma tarde agradável com gente que gostamos, num café de livraria, conversando amenidades, ou seja: ótimo.

    Abraços na escritora e nos gatinhos.

    Iolanda

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  8. Olá Vanessa. Achei o seu conto mais como um testemunho, um “grito” de apelo a quantos têm a atitude irresponsável perante os seus animais de estimação. Compreendi cedo que falava de um animal,mas pensei tratar-se de um cão até à palavra “dengosa” (dengoso é coisa de gato e depois confirmou-se). Para o caso não é relevante. Penso que poderia ter escrito mais, ter dado mais corpo ao conto e não teria perdido a mensagem, talvez até ela saísse reforçada. Apenas uma opinião. Também sou doida por animais e corta-se-me o coração se vejo algum em sofrimento. Continue a difundir o seu amor e mensagem por eles, nunca sabemos a quem chega o que escrevemos. Textos como o seu podem, sem que você o saiba, chegar a fazer a diferença na vida de um nosso amigo de quatro patas. Um beijo.

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  9. Como sempre Vanessa surpreendendo, eu também, achei que se tratasse de um gravidez de uma filha, mas não, levou o leitor para um lado e depois jogou a história para outro. Parabéns Vanessa maravilhoso conto, que mostra bem o carinho que devemos que ter com os animais. Fiquei emocionado, um forte abraço.
    E continue emocionando.

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    1. Oieee! Que bom que você gostou. Fico feliz que a mensagem que tentei passar tenha sido entendida. ❤ Obrigada pela leitura e comentário 🙂

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  10. Oi Vanessa, também cai no conto do vigário, digo, no conto do gato, rsrs. Conto fofo e gostoso de ler, a amorosidade pelos bichanos se descortinando, muito bom. Fiquei com um gostinho de quero mais. Parabéns. abçs.

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  11. Oi, Vanessa!

    Senti a autora bastante presente em cada palavra, é mais que um conto… é um alerta, ou mesmo um pedido. É tão comum ver gatinhos abandonados por aí. Também já tive pensamentos assim..do tipo ” ah, que coisa..mais problemas, mais responsabilidades” mas aí o amor faz nos arrependermos de tais pensamentos e logo tudo fica claro.

    O conto diz muito sobre o dono é a gata. A penalidade de cada um e a relação de ambos. A narrativa é muito agradável, quando vi já tinha acabado.

    Parabéns.

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    1. Exatamente. Não é que todo mundo é perfeito e não comete erros. O que diferencia é a capacidade de enfrentar as responsabilidades de forma honesta. Obrigada pela leitura e comentário 😀

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  12. Um conto curtinho, gostoso de ler. Logo me dei conta que se tratava de um bichinho, mas pensei em uma cadela, primeiro. A narrativa flui fácil, com um ótimo ritmo e sem reviravoltas desnecessárias.
    Dica: tem(3a.pessoa do singular) têm(3a. pessoa do plural).
    Escapou um S aqui: “Quase não fazias as atividades”
    Bom trabalho!

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    1. Ops, foi um deslize de digitação. A gente faz tantas revisões que parece que os olhos se “acostumam” com os erros, passando despercebido, rsrsrs. Obrigada pelo toque, assim que a Etapa acabar, editarei. Obrigada pela leitura e comentário 🙂

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  13. Oi Vanessa,

    Teu conto é super leve. É agradável e também passa a mensagem sobre a importância de cuidarmos dos animais e sermos fraternos com eles.
    Como o desafio é o verbo “nascer”, o foco do texto está no nascimento e na preparação para o nascimento dos gatinhos, mas ele vai além.

    Parabéns pelo teu senso de proteção, ele realmente, como disse a Ana, tem o poder de fazer a diferença para os leitores.

    Como sugestão, eu diria para tu cuidares a colocação de vírgulas, na medida em que há algumas a mais no conto. E só.

    Parabéns!

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  14. Ah! Gostei tanto! Queria conhecer melhor os bichanos! Uma história de amor e cuidados (multiplicados)… Os gatos sempre sabem se as pessoas gostam ou não gostam deles. Eles nem sempre se importam o suficiente para fazer qualquer coisa sobre isso. E, a gata da história soube conquistar a dona para os seus filhotes.

    O texto é leve, enredo simples, não há conflito maior, mas provoca emoção intensa. Já lhe deram as dicas para algumas construções que observei. Parabéns! Abraços.

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  15. Eu no começo pensei em um marido ficando careca, depois que o personagem era uma mulher grávida, depois entrei na viagem da cadela e, por fim, uma bela gata prenha. Um truque bem elaborado para igualar todos os nascimentos. Um texto sensível com final feliz.

    Sugestão:

    Rever os excessos de vírgulas, como em “ pergunto, se” e “outros, podem”, assim como os parênteses em “ (ou terão desvantagens)”, tornam o texto lento e pesado.

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  16. Oie, Vanessa!

    Sabe uma coisa bacana no seu conto, é que você traz algumas nuances da maternidade que estão presentes tanto na mulher quanto nos animais, claro, reservadas as suas devidas proporções. A transformação no corpo e no humor acontecem para ambos os lados, e você soube aproveitar bem isso.

    A narrativa evolui sem entraves, comigo não houve o fator surpresa, mas houve o deleite na singeleza da formação das ideias. Gostei muito do que li.

    Você vai longe, menina linda!

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  17. Que belo, Vanessa!
    prmeiro pensei que se tratasse da filha da potagonista, e foi lindo quando vi que tratava-se de sua gatinha.
    Sou protetora de animais, tenho 9 cachorros (já cheguei a ter 27! #aloka) , e sei tanto como é esse amor incondicional, e sei bem como é doloroso saber dos abandonos.
    E que crimes assim, infelizmente tão frequentes, sejam punidos com todo rigor.
    Parabéns pela sensibilidade, o tema nascer coube perfeitamente.
    um beijo!

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  18. Ah, que bonitinho, Vanessa!

    Gostei de saber quem era a protagonista dessa história. Ver gatinhos abandonados é de cortar o coração mesmo.
    Bem, eu não tenho muito o que falar. Sua narrativa é bem direta e clara, e acabou que correu tudo rapidinho. Isso é bom, porque mostra logo a que veio, mas deixa o leitor querendo mais um pouco para torcer ou se envolver mais.
    Gostei, mas sinto que poderia ter gostado mais.
    Um abraço!

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