À meia-noite Henrique acordou com o badalo do sino da antiga Igreja que ficava perto de sua casa. Virou para o canto e tentou dormir. Ouviu um barulho vindo do andar de baixo, levantou-se e foi à cozinha, onde encontrou a torneira da pia aberta e a água escorrendo abundante. “Devo ter esquecido de fechá-la”.
O sino tocou de novo e ele olhou no relógio. “Que estranho, não passaram-se nem dez minutos, este sino deve estar com defeito”. Voltou para seu quarto e fechou os olhos, tentando ignorar os trovões que anunciavam chuva.
Uma sensação estranha lhe fez esfriar os pés e ele sentou subitamente. “Não tem nada aqui, deixa de neurose!” Sem conseguir dormir, levantou-se para preparar um chá. Acionou o interruptor, mas as lâmpadas não acenderam. Receoso, Henrique ligou a lanterna do celular e conferiu todas as portas e janelas de sua casa que estavam, sim, trancadas. Ouviu a torneira da pia tornar a abrir. Colocou a água para ferver e fechou a torneira.
Começou um forte temporal e Henrique levou sua xícara de chá quente para o quarto. As lâmpadas ainda não acendiam e ele tomou seu chá no escuro, iluminado apenas pelos relâmpagos que caíam. Depositou a xícara na mesinha de cabeceira e um contundente raio iluminou o quarto, revelando a silhueta de uma pessoa com um taco de baseball nas mãos. Henrique assustou-se e derrubou a xícara, espalhando cacos de porcelana pelo chão. Levantou-se rapidamente e perguntou em voz estridente:
— Quem é você? O que quer?
No lugar de uma resposta, obteve um forte golpe na cabeça, caindo desacordado.
Na manhã seguinte, Henrique foi despertado pelo badalo do sino e sentiu uma aguda dor de cabeça. Aos poucos foi recordando-se da noite passada. Assustado e zonzo, andou pelo quarto. Mas não viu sinal algum de ninguém, tampouco xícara no chão. Espiou pela janela e o sol brilhava forte, tudo seco e sem o menor sinal de ter chovido há dias. Confuso, porém aliviado, ele concluiu que fora apenas um sonho ruim.
Descendo a escada para a cozinha, ele ouviu que a torneira da pia estava aberta.
OIe!
Nossa Senhora!! Estranha mesmo esta sensação.. você fez um looping ali no final! Ai que medo!
Sabe, este site é meio um confessionário.. rsrs Eu tenho medo de dormir sozinha na casa. Nunca morei sozinha e nao sei se daria conta do riscado, sabe.. Eu durmo tranquila sabendo q tem outras pessoas ressonando debaixo do mesmo teto. 🙂
O texto é bom, dá curiosidade, gosto de contos curtos e este foi, digamos, uma experiência bem sucedida!
Bjão!
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Oi, linda.
Gostei como, em poucas palavras, vc conseguiu criar um suspense tenso e um looping como solução. Ficou muito legal, e com uma capacidade de concisão invejável. A cada vez que te leio, consigo perceber a tua evolução. Meus parabéns, querida.
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Criatura! Que medo. Minha casa é pequena, mas de vez em quando bate aquele medo, vindo das lembranças dessas histórias. E eu entendo bem essa sensação de que o sonho foi real.
Grande abraço!
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Querida Vanessa,
Tudo bem?
O medo da noite vem de tempos imemoriais. Tempos em que não havia luz e ao cair da escuridão, cada som, cada movimento, cada sombra poderia ser um potencial inimigo a nos sondar do lado de fora. Talvez por isso, o terror esteja muito mais no que não se vê, que naquilo que conseguimos enxergar. Nossa imaginação é capaz de criar monstros terríveis e personalizados, já que ela nos “conhece” como ninguém.
Seu conto, na maior parte do tempo, traz exatamente esse pavor sugerido. Uma estranha sensação, como o título ilustra tão bem.
O ponto alto é o final. O que é excelente, pois fecha o trabalho com chave de ouro. Um clímax criado através do looping, deixando que o leitor reflita sobre o que houve, assim como faz o personagem. Seria um sonho induzido pela água corrente na torneira? Seria a torneira uma volta ao início da trama? Estaria o tal homem com o taco ainda escondido na casa dela? Ótimo final.
O homem com o taco lembrou-me de filmes do tipo “Jason”, embora ele seja, aqui, meramente um coadjuvante e, talvez por isso, apenas um acessório dentro do conto. Ele poderia, inclusive, ser suprimido sem prejuízo algum ao seu belo texto.
Parabéns.
Beijos
Paula Giannini
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Linguagem sintética e direta para criar um bom suspense. O looping deixou o desfecho aberto. Muito bom trabalho. Parabéns, Beijos.
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Eita! Se eu fosse Henrique ficaria bem desperto na próxima noite. Tudo isso pode ser um sinal.
Parabéns
Um abraço.
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Olá, Vanessa. O seu conto lê-se como se de um maxi-microconto se tratasse. Está muito bem criada toda a atmosfera de suspense. Nós vamos até ao final na expectativa sobre o que se estará a passar. Pensei até numa viagem astral e estive à espera que ao regressar ao quarto, ele encontrasse, não o atacante, mas o seu próprio corpo a dormir na cama. Assim ficou melhor, até. No lugar dele eu tiraria a mesma conclusão, mas, ainda assim, ficaria com grandes dúvidas quanto ao que se teria passado. Fiquei na mesma. É bom, eu gosto, quando um conto nos deixa o final assim, em aberto, podendo o leitor concluir ou especular sobre o seu sentido. Um beijo.
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Vanessa, o seu conto me deu uma estranha sensação, conferi as lâmpadas, a torneira da pia está fechada, ufa! Menina, está rolando o desafio terror no EC, o seu mini-conto daria um bom novelão, o ingrediente essencial ele já tem, medaaa!!! Bjs.
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