Trabalhando oito horas por dia e estudando à noite Mônica, viúva de marido vivo, só tinha a madrugada para ver os cadernos dos filhos, fazer seus trabalhos de faculdade e administrar o lar através de bilhetes autocolantes espalhados pela casa, na geladeira: “Vitamina do Pedro às 15 horas.”, no vidro da janela do banheiro: “Também gosto de banho.”, no fogão: “Não fazer fritura para não empestear a casa nem nossos corações.”, no computador de Mila: “Filha, só uma hora de internet por dia.”, no fundo da caixa de brinquedos do caçula Pedro: “Filho, se está lendo este bilhete é porque os brinquedos estão espalhados por aí. Arrume.”, e assim por diante.
Durante o dia a luta continuava pelo celular: “Como assim o gato sumiu? Procurou no armário? Embaixo da cama? Já? Você deixou o forno aberto? Então olha lá. Achou? Ótimo. Mais alguma coisa, Albertina? Pedro não comeu brócolis? Negocia com beterraba. Não dá porque o fogão não está funcionando e acabaram os fósforos? Mas para tudo, fósforos para que se o fogão é de acendimento automático? Não me diga que você está fumando dentro de casa? É para a vela… Que vela pelo amor de Deus? Está faltando luz? Falou com o síndico e é só no nosso apartamento? Ai. Você pagou aquela conta que eu deixei contigo semana passada? Aquela era do gás? Tem certeza. Tá, tá, deixa que eu resolvo isso. O que fazer com a geladeira? O que a geladeira tem a ver com isso, Albertina? Saiu fumaça dela quando faltou luz ou faltou luz quando ela fumou? Faz diferença sim. E agora? Está fechada. Tudo bem, agora só quero saber se ainda sai fumaça. Não porque os bombeiros apagaram. Ah bom… O quê? Você abriu a porta para estranhos? Não me diga… Então eles arrombaram. Meu Deus… E as crianças como estão as crianças? Você não está ferida? Ainda bem. Fica calma, não foi culpa sua, o importante é que ninguém se feriu. O Pedro está bem e a Mila saiu… Saiu para onde? No vizinho usar a internet? Que vizinho? Você não sabe? Por que você não sabe? Lógico, ela não disse e você não perguntou. Era para perguntar? Não, claro que não, Albertina. Uma menina de onze anos sair para um vizinho desconhecido é a coisa mais natural do mundo. Por favor, chama o Pedro que eu quero falar com ele. Não pode atender por quê? Está com os bombeiros? Foi conhecer o carro grande vermelho? E você, Albertina, está fazendo o quê? Procurando fósforos. Faz sentido. Se o gato não tivesse sumido você teria me ligado, Albertina? Não iria me incomodar com besteira, sabe que eu não gosto. Coisa de criança crescendo, nada de mais, né? Está tudo bem Albertina, fez muito bem, fez muito bem. Calma, agora ouve. Esquece os fósforos, a geladeira e a vela. Esqueceu? Tudinho? Muito bom. Agora vai procurar o Pedro e a Mila que eu estou levando para casa um eletricista e quero encontrar vocês três sentados no sofá. Ok? Então, tá. Beijo.
Olá, Catarina!
Um texto delicioso e muito bem humorado sobre as desventuras de ser uma mulher de família, ou melhor, com uma família. Não é fácil, os problemas são infinitos e parece que só ela resolve. Adorei cada linha, saboreando as agruras da coitada… Inveja branca ou porque me reconheci nela? Vai saber…. Amei! Parabéns!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Acho que toda mãe tem um pouquinho de Mônica. Às vezes ela chama para si todas as responsabilidades achando que ela fazendo sempre fica melhor. Rsrsrs.
Grata pelo comentário,
Beijos.
CurtirCurtir
Bem divertido o seu conto, Catarina. O fluxo veloz do pensamento/diálogo ficou muito bacana. Uma coisa levando a outra e o gato acaba dentro do forno? Muito verossímil toda essa história, porque acontece mesmo.
Colocaria uma vírgula aqui e ali,mas nada que atrapalhe a apreciação do conto. O tamanho do texto também facilita a leitura. Parabéns!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Tive um gato que não podia ver o forno aberto que entrava para dar um cochilo.
Realmente a pontuação está tão caótica quanto a vida de Mônica. Rsrsrs…Vou rever.
Grata pelo comentário,
Beijos.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Como é lerda essa Albertina! Essa mulher está ferrada, coitada.
Apenas, coisa de criança crescendo, nada de mais, né?
Um conto curto e completo
Muito bom, gostei.
Parabéns mais uma vez
Um abraço.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Quantas Albertinas passam por nossas vidas? Cheias de dedicação, honestidade e sem um pingo de lógica ou malícia.
Grata pelo comentário,
Beijos.
CurtirCurtir
Então.. bom. Mas este parágrafo grande neste formato de diálogo,me cansou, sei q um diálogo ‘normal’ ficaria inviável e assim passou justamente o sufoco que você queria que sentíssemos para nos ‘ligarmos’ na personagem, entendo, mas sou resistente a estes experimentos.. rsrs
muito conservadora, eu? 😛 hahaha
Mas a desventura, foi boa, foi sim.. nossa senhora!!
Bj!
CurtirCurtido por 1 pessoa
O termo “conservador” ou “liberal” é muito relativo. Gosto de fazer experimentos literários, mas não curto cinema e nem música experimental. Cada um com seu cada qual. rsrsrs…
Grata pelo comentário,
Beijos.
CurtirCurtir
Ah… As correntes do nosso dia a dia… Tadinha da Albertina. Se as confusões que ela consegue vivenciar forem do tamanho do parágrafo, então, eita! A mulher não vive nada de coisa comum É um corre-corre sem fim.
Parabéns pelo texto. Ele é leve, tem movimento agradável e também é bem-humorado. Gostei!
Grande e carinhoso abraço!
CurtirCurtido por 1 pessoa
O parágrafo gigante foi proposital para gerar o mesmo desconforto que Mônica e Albertina estavam sentindo: um corre-corre sem fim.
Grata pelo comentário,
Beijos.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Esse conto é todo muito bom. Até a forma como ele é escrito. Eu só não entendi onde está o crescimento. Mas deve ter sido tonhice minha que não entendo as sutilezas da vida. O texto é muito gosto de ler, e escorre feito champanhe geladinha, uma delícia. Até parece eu conversando com meu filho, quando estou no trabalho. Acontece cada coisa!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Essas coisas acontecem por enquanto que os filhos crescem e nós também.
Grata pelo comentário,
Beijos.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Divertido e bem escrito. Entendi o paragrafão para mostrar o aperto de fôlego da dona de casa para resolver todos os problemas pelo celular. Portanto, assunto e estilo se fundem. Parabéns! Beijos.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Você captou o espírito da coisa e colocou dentro de uma garrafa!
Grata pelo comentário,
Beijos.
CurtirCurtir
Oi Catarina, que delícia de conto!! Eu gostei de tudo! O começo singelo, mostrando como era a vida da pobre Mônica, e depois, a conversa com a Albertina, maravilhosa, consegui imaginar até o tom de voz exasperado… a descrença, a irritação com a vida ingrata e a esperança, de que tudo um dia ia dar certo… Parabéns!!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Sim!!! É a esperança no crescimento que nos dá forças para enfrentar o dia a dia.
Grata pelo comentário,
Beijos.
CurtirCurtir
Olá, Catarina,
Tudo bem?
Engraçado como um mesmo trabalho de arte causa diferentes impressões em cada um dos leitores/observadores/espectadores, não é?
Gostei demais do formato. Colocar os diálogos em um mesmo parágrafo, faz da fala mais que fala. Apresentando a comunicação dessa forma, cria-se uma espécie de interlocução que chega a se parecer com um fluxo de pensamento. Ok, sei que Albertina de fato fala com a empregada, mas, de algum modo, escrito dessa forma, o leitor tem a nítida impressão de compactuar com o ciclo cotidiano da vida dessa mulher. Certamente Albertina já teve essa conversa milhares de vezes, certamente, ela já conhece todas as respostas, bem como os previsíveis erros cometidos por sua secretária do lar, pelos filhos.
O conto é empatia certa para toda mulher. Quem nunca se viu em tais situações? Quem não faz tudo ao mesmo tempo e tenta controlar o todo em vão? Qual de nós?
Outro ponto que me chamou muito a atenção, foi o modo como você foi apresentando a situação aos poucos. Dessa forma, a autora vai, aos poucos, apertando o parafuso da comédia e, o que está ruim, pode piorar ainda mais. Bingo, bingo, bingo!
Gostei muito. Bem humorado, como sempre. Um retrato da mulher do século XXI naquilo que há de mais emblemático. O seu dia-a-dia.
Parabéns.
Beijos
Paula Giannini
CurtirCurtido por 1 pessoa
Seu olhar minucioso traduziu toda a epopéia de Mônica (Ops, Albertina é a empregada, rsrsrs…). Gostei de você ter percebido o parafuso apertando. Este era o objetivo!
Grata pelo comentário,
Beijos.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Verdade. Albertina é a empregada. Vou editar.
CurtirCurtir
Texto leve e divertido, lembrei que criei o meu filho tipo assim, por bilhetinhos e telefone com a empregada. “Pedro não comeu brócolis? Negocia com beterraba”, bem certinho kkkk. Parabéns, abçs.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Eu também criei meu filho com bilhetinhos. Muitos bilhetinhos!
Grata pelo comentário,
Beijos.
CurtirCurtir
Olá. Não sei se eu dou gargalhadas ou se choro ao terminar de ler este conto. Senti-me angustiada, apreensiva. Se eu fosse essa mulher guerreira, botava logo esta Albertina no olho da rua, meu Deus!!! Abç ❤
CurtirCurtido por 1 pessoa
Pobre da Albertina…rsrsrs… Não deve ser fácil trabalhar na casa de uma mulher que administra tudo por bilhetinhos, com criança, pré adolescente, gato e ainda tendo que fazer compras e pagar contas. Ela deve ser de confiança, o que é raro. Para trocar Albertina por outra, Mônica teria que ensinar tudo de novo e sem garantia de ser melhor que Albertina.
Pedreira!
Grata pelo comentário,
Beijos.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Catarina! Chorei de rir! Coitada dessa mulher, q vida dura! Ainda bem q não tive filhos… rsrsrs
Não sei se tive mais pena dela, da Albertina ou do gato! Não deve ser fácil ser um felino numa casa louca dessas. Tb não deve ser fácil ser a pobre Albertina, ainda por cima deve viver de salário mínimo!
Adorei q vc escreveu num tijolão de texto, isso dá essa sensação de falta de ar, de falta de fôlego, que essa mãe está passando. Quanto ao verbo crescer, vi q vc associou ao crescer dos filhos. Sei q vc só teve um, e que eu saiba foi criança tranquila. Mas vc conseguiu passar perfeitamente a afobação que passa a mulher de hoje, com filhos (no plural), trabalho, faculdade, marido (inútil) e ter q dar conta de tudo isso tendo apenas 24h a cada dia.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Acho que ali quem estava mais tranquilo era o gato, totalmente indiferente ao caos, dando um cochilo no forno, quentinho e silencioso. Rsrsrs.
Grata pelo comentário,
Beijos.
CurtirCurtir
Oi Catarina! Adorei seu paragrafão. Mergulhei nele e só sai quando a confusão terminou. Sua escrita é muito ágil, muito escorreita para esse tipo de narrativa, cotidiana, puxada para o humor. Funciona sempre muito bem comigo.
Achei os pontos finais dentro dos bilhetinhos no primeiro parágrafo um pouco estranhos…Na verdade, a pontuação toda desse primeiro parágrafo. Talvez ponto e vírgula separando os bilhetes. Sei lá, veja aí o que acha desse palpite enjoadinho sobre pontuação. Beijo grande.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Sim, a pontuação está meio caótica, como o conto. Vou rever.
O bom do seu mergulho é que você voltou à tona!
Grata pelo comentário,
Beijos.
CurtirCurtir
Oi, Catarina!
Gosto muito da sua escrita, até porque sei lá, me identifico rsrs
É sério, essa velocidade que sai das palavras e invade o cérebro, faz a leitura fluir “delícia”,deverdade.
me vi no papelda protagonista, estou vivendobem essemomento do crescer, ehaja coração, músculos, sobretudo nervos.
Acho que tem uma ou outra vírgula faltando, e no mais, excelente, como sempre.
Beijos!
CurtirCurtido por 1 pessoa
A pontuação está caótica mesmo, vou rever.
Sim, todo crescimento exige, principalmente nervos de aço!
Grata pelo comentário,
Beijos.
CurtirCurtir
Olá Catarina. Li o seu conto como Mónica vive, sem tempo para respirar. A chave está logo mo início: “viúva de marido vivo”. É o que há mais. Depois também esse corre-corre em que muitas mulheres mergulham para atender às exigências da sociedade atual que apela à super-mulher. Está muito bem escrito. Achei “de mestre” a forma como você consegue colocar na escrita toda essa afobação que se apossa de quem lê. E também muito bem disposto, a carga pesada da realidade da vida dessa mulher, dilui-se deliciosamente na trapalhada toda aprontada entre filhos, empregada, gato, vizinho, fósforos e bombeiros. Divertidíssimo. Parabéns. Um beijo.
CurtirCurtir
Visto de perto a vida de ninguém é normal. Todo mundo tem um pouco de caos. Grata pelo comentário.
Beijos.
CurtirCurtir
Olá, Catarina.
Fiquei sem fôlego lendo esse texto, podia ir com mais calma, mas preferi entrar no clima proposto, que mostra perfeitamente como é difícil a vida de uma mulher moderna, casada, com filhos tendo que trabalhar. É a rotina de muitas e muitas, mas esse é só o lado difícil, tem o prazer, a escolha, o cuidado. Alguns estão explícitos do seu teu texto tão real, cotidiano. Gostei da forma.
Parabéns!
CurtirCurtir
Cata: Num sabia mermo qui você tinha feito um conto desse: “Nascida para ricar” Magine qui coisa louca inscrita: somente uma escrivinhadora das milhores é que faz uma coisa dessa. nunca v’igual. Um testo qui prende u cabra pela montage das letras gostosas de ler e inté de já ter lido… no finaumente dele. Taí… gostei mermo. Percurei outro simeiante e num achei nem cuntinuação alguma no brog todo das cuntistas qui’eu discubri cem kerer. magine: tentá axar u qui num iziste, é coiza de mega sena lá di pariz, inxendo as rua di inveja i desejo errado prá xuxu. Coiza qui só na loterika se pode incontrár nessa tá de internete. brigadu, fia!
CurtirCurtir