A Ajuda – Sandra Godinho

De: Lea Bernardi (leabernardi@hotmail.com)

Enviado: terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Assunto: Lucca

Para: Paulo Gomes (paulo.gomes@outlook.com)

 

Olá, Paulo!

Se você está lendo esse e-mail é porque a curiosidade se tornou maior que o ódio, o que é  bom. Sinal de que a raiva decantou depois de dez anos de silêncio absoluto. Já era hora. De seguir com nossas vidas patéticas. De seguir com nossas mágoas. E, por mais que você tenha pensado que nunca mais iria ouvir falar de mim ou de seu filho, cá estamos. Aliás, cá estou. A pedir ajuda. Não pense que é fácil me despir do orgulho, mas acabo de assassinar meu amor-próprio. Querendo ou não, você é o pai do Lucca, ainda que nunca tenha se importado com ele realmente. Agora não é mais menino, mas um adolescente rebelde em vias de ser expulso da escola. A terceira vez. Não para em instituição alguma, o menino virou um monstro. E desde que me casei com Ângelo me chama de puta. Exatamente como você.

Aguardo retorno.

Lea

De: Paulo Gomes (paulo.gomes@outlook.com)

Enviado: terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Assunto: Lucca

Para: Lea Bernardi (leabernardi@hotmail.com)

 

Prezada, Lea!

Sua revelação não me deixou verdadeiramente surpreso, como se o desfecho fosse algo esperado. Sempre soube que não daria uma boa mãe. Peço encarecidamente que me deixe em paz e não volte a me importunar com um assunto que não me diz respeito. Aliás, há dez anos nada mais relacionado a você e a seu filho me diz respeito. Como deve saber, meu compromisso é com minha mulher e as duas filhas que tivemos. Peço que me esqueça. Siga sua vida que eu seguirei com a minha.

Paulo.

 

De: Lea Bernardi (leabernardi@hotmail.com)

Enviado: quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Assunto: Lucca

Para: Paulo Gomes (paulo.gomes@outlook.com)

 

Paulo,

O que você está fazendo comigo, Paulo? Me matando aos poucos? Não acredito que não tenha mudado nada em dez anos de ausência. Custo a acreditar que o homem de mente tacanha que vivia comigo é o mesmo que vive agora na casa de muitos cômodos e jardins a perder de vista. O dinheiro não bastou para lhe dar o devido entendimento das coisas? Deixe-me esclarecer então. Não bastou ter minguado todas as noites à tua espera, aguardando-o à janela na esperança de que voltasse para casa depois da bebedeira com os amigos ou do jogo de pôquer? Não bastou? Agora quer matar nosso filho? Nosso, meu e seu. Infelizmente. Se pudesse, a paternidade do Lucca teria sido outra. Mas não se muda o passado. No máximo, aprendemos a conviver com ele. Eu olhava o relógio na parede. Seis e meia da tarde e nada de você aparecer. Meu rosto torturado de preocupação era só o que me restava. Sentada próxima à janela, com o rosário nas mãos, como se com ele aliviasse o peso do coração. Os dedos finos e frios passando de conta em conta, como se contando contas a espera terminasse. Presentes de Natal nunca vieram. Nem o Natal. ‘Ele deve estar fazendo algum serviço de pedreiro’, eu dizia a mim mesma, arrumando a lareira de alguma grã-fina que percebeu o reparo a ser feito na última hora. Bobagem. Meu peito afundava, suspirava. Nova conta. Nova prece. Nova esperança. Até dar as sete horas da manhã. Então eu o via entrar, fitando-me com olhos culpados. E sorrindo sem jeito, como se nada tivesse acontecido. Ao me aproximar de você, pude sentir o cheiro dela em suas roupas. Eu quis vê-lo ferido de morte, quis minar seu corpo assim como você minou o meu, sugando-me a alegria junto com as forças. O sorriso insosso nos seus lábios quando me ofereceu dinheiro foi um acinte, como se fosse eu a puta e não ela, a outra com quem tinha saído e dormido nos últimos dias antes do nascimento do Salvador. Deixou as notas cairem ao chão. Abaixei o olhar, percebi seus sapatos novos, brilhando um sorriso de escárnio. Então avancei em sua direção e cravei meus dez dedos em sua pele reluzente. Dez dedos compridos arando de sangue sua face cínica. Nosso filho chegou nesse exato momento e percebeu o rosto queimando de dor do pai, os olhos queimando de dor da mãe. Estávamos todos cegos. Foi esse instante equivocado que Lucca guardou na memória. Uma ironia, não? A mãe transformada em animal. E puta. Espero que morra, Paulo. Ainda quero arrancar seus olhos, cegá-lo como a uma besta. Eu sou um bicho, machucado, sem fôlego para nenhuma outra oração. Você me sugou o sangue e todo meu amor. E seu filho culpa a mim por seu abandono. A mim, não a você. Você me trocar por ela, posso até entender. Ela é uma mulher de classe com seu casaco de pele, cachecol de cashmere, luvas e botas de pelica. E você, Paulo, deve ter remexido em suas gavetas, examinado seus pertences até a exaustão para conhecer melhor esse mundo que agora o serve. Sorveu o perfume de cada frasco, apertou em suas mãos calosas a lingerie fina, estudando as joias que lhe cobriam os dedos e cada item do vestuário dela como um tesouro o qual nunca poderia ter. Um mundo novo regado a uísque escocês envelhecido de doze anos e charutos cubanos que você deve guardar perto da lareira, ao lado de sua escrivaninha de madeira nobre onde seu laptop descansa.  Entendo ter me trocado por ela, mas não posso te perdoar por ter esquecido o próprio filho. Isso é um absurdo, até mesmo para um ser tão asqueroso quanto você. Esqueceu que somos todas a mesma mulher? A dor que dói em uma mãe dói em outra, ainda que por motivos diferentes. Duvido que sua digníssima esposa queira ter o nome de suas filhas envolvido com um meio-irmão fichado na polícia por roubo, arruaça, drogas e vandalismo. Ele não me ouve. Nem a ninguém. Mas sei que é o modo dele pedir colo sem pedir. Seja o pai dele, ao menos uma vez na vida.

Aguardo retorno,

Lea.

 

De: Paulo Gomes (paulo.gomes@outlook.com)

Enviado: quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Assunto: Lucca

Para: Lea Bernardi (leabernardi@hotmail.com)

 

Lea,

Comentarei apenas uma parte de suas lamentações. Um homem não precisa de uma tola que se acaba em serviços domésticos sem se importar. Você sempre andou em farrapos que lembravam minha própria pobreza. Sempre cansada, rosto magro e castigado, longas mãos ossudas, deitada no quarto olhando o teto, um mausoléu frio como uma geladeira. Uma parasita da vitalidade. Sua e minha, despenteada, desarrumada, com olhos vazios e andar triste, chorando até inchar o rosto. Pouco agradável de se ver e, com o passar dos dias, tornou-se uma paisagem deprimente que me convidava ao desvio. O Natal se tornou a lembrança do ano velho morrendo e eu dentro dele. Eu precisava renascer, em copos de uísque que foram me liberando em doses, em passos silenciosos e um vago chauvinismo que ainda não me acanha. Não quero mais falar sobre essas banalidades. Espero que tenha entendido. Quanto ao menino, traga-o na próxima quarta-feira para uma visita. Verei o que posso fazer.

Paulo

 

De: Paulo Gomes (paulo.gomes@outlook.com)

Enviado: quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Assunto: Lucca

Para: Lea Bernardi (leabernardi@hotmail.com)

 

Olá, Lea!

O que posso dizer? O destino e seu arsenal de acontecimentos imprevisíveis. Quem poderia imaginar que eu e Lucca daríamos tão bem? Mais que uma conjunção perfeita de ideias, uma conjunção de sentimentos que nos lembra que somos feitos da mesma carne e sangue. Há um conforto em saber que ele carregará meu sobrenome como herança. Gostaria de pedir sua autorização para levá-lo a Paris no próximo mês. O garoto quer conhecer o Vale do Loire, o Mont Saint Michel, o Louvre, as praias de Côte d´Azur e Montmartre. Eu lhe devo isso.

Aguardo retorno,

Paulo.

De: Lea Bernardi (leabernardi@hotmail.com)

Enviado: quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Assunto: Lucca

Para: Paulo Gomes (paulo.gomes@outlook.com)

 

Seu grande filho-da-mãe,

Me tirou o passado e agora meu futuro? Pensei que tivesse algum sentimento em um canto qualquer perdido dentro do seu coração de cimento. Coração de cimento, corpo de cimento, sentimento de cimento, frio e calculista. Quer tirar meu filho também? Ainda que ele não nutra por mim nenhum reconhecimento, ele é e será sempre meu menino. Rebelde ou não. Drogado ou não. Esse é o meu legado. Você continua sendo o mesmo cão que late sorrisos. Lamento o dia que o procurei.

Nos esqueça.

Lea.

 

De: Carolina Hickman (carolina.hickman@outlook.com)

Enviado: quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Assunto: Confissão

Para: Lea Bernardi (leabernardi@hotmail.com)

 

Cara Lea,

Deve achar estranho estar recebendo um e-mail meu. Relutei muito em escrevê-lo, confesso, mas acredito que ele se faz necessário. Você tem razão ao dizer que que somos todas a mesma mulher. Como vê, eu tenho acesso ao computador do meu marido, ainda que ele não saiba. Evidente que este será nosso pequeno segredo. Compreenda que toda mulher luta com as armas que tem. O que não é exatamente uma novidade. Somos farinha do mesmo saco, eu diria, por mais isso que soe vulgar. A verdade é que, assim que pus os olhos no Paulo, eu o quis para mim. O peito largo, o suor porejando nos braços, as coxas másculas e bem torneadas. É nisso que a solidão e a melancolia sofrida nos transforma, em pessoas deploráveis a mendigar atenção. Usei as armas que tinha – palavras e poder – para conseguir o que queria. E eu sempre consigo o que quero, cara Lea. Você e seu filho não tinham a menor chance. Um dos ensinamentos de meu pai: todos têm um preço. O de Paulo era barato, uísque escocês, charutos cubanos, dentes bem cuidados na boca carmim, os quadris de uma mulher fina rebolando como um ninho de serpentes. Para recrutá-lo, insinuei serviços estapafúrdios aqui em casa. Eu o fiz derrubar muros, paredes, portas, portões, ajustar o fogo da lareira que funcionava perfeitamente bem. Ignorante. Ele nunca percebeu as sutilezas das indiretas. Arrombar as portas e tomar posse do que já era dele. Então sugeri ainda mais, acenando com braços carnudos o quarto que já ecoava os prelúdios de inquietação antes mesmo de colocar nossos corpos sedentos dentro dele. Foi uma noite soberba, a da compra definitiva, nosso acordo firmado entre gemidos e sussurros para revelar tudo o que eu tinha a lhe oferecer. Evidente que o preço que ele pagou foi alto: a renúncia ao filho e à ex-mulher. A desculpa que arranjou foi pouco importante. Acordo a que ele tem se mantido fiel até agora. Vivemos muito bem durante esses dez anos, mas o destino está sempre querendo medir forças comigo. Paulo está doente. Terminal. Não vou me prolongar em detalhes. Tudo o mais é desnecessário além desse fato. E a notícia de sua morte o abalou. Fez com que ele revesse conceitos. Remorso, qualquer coisa parecida. Somente isso explicaria o desejo de ter o filho perto de si, mais que as filhas. Seu pedido de ajuda, Lea, serviu como uma luva aos seus propósitos. Ainda que ele tenha relutado a princípio. Acredito que por medo. Ou receio de não ser amado pelo filho. Bobagem, o menino o adora. O destino e seu arsenal de acontecimentos imprevisíveis. As culpas que carregamos são pequenas infiltrações que nos minam por dentro, capazes de desmoronar muralhas. Talvez o remorso o tenha minado de certa forma. Mas minha fortaleza é meu marido. É ele que me faz renascer e vicejar. Ver seu dedo fino, que já não segura nossa aliança de casamento, é uma bofetada na minha cara. Uma ironia, não acha? Ele culpa a mim por seu abandono. A mim, não a você. Ainda que ele não diga palavra. Eu o conheço bem. Bem demais. Sei que ele gostaria de ter o filho perto nos seus últimos dias. Sei que é o modo dele pedir colo sem pedir. Então, eu lhe peço, deixe o menino viajar conosco. É algo que posso suportar. Meu preço a pagar em nosso acordo. Só não peço desculpas pelo que fiz. Entenda que não me arrependo de nada. Foram os anos mais felizes da minha vida. Tenho certeza de que Paulo vai voltar a sorrir e esse instante equivocado de alegria genuína será o que vou guardar na memória.

Sem mais,

Carolina Hickman

 

De: Lea Bernardi (leabernardi@hotmail.com)

Enviado: quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Assunto: viagem de Lucca

Para: Paulo Gomes (paulo.gomes@outlook.com)

 

Querido Paulo,

As coisas que podem nos matar são as mesmas que podem nos reviver. Estive pensando bastante sobre o que você me pediu e acredito que seria muito egoísmo de minha parte não permitir que você conviva com seu filho. Compreendo que queira tentar consertar o que destruiu. O milagre da vida é o renascer, depois das cinzas e do desprezo. Expulse as tristezas pelas narinas com novos ares. O ano continua novo no mês que se inicia. Ainda há tempo para se renovar e ter esperanças. Boa viagem. Cuide bem do nosso filho.

Um beijo,

Lea

 

 

33 comentários em “A Ajuda – Sandra Godinho

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  1. Olá, Sandra querida. Que história dramática vc trouxe para nós. Pelos emails trocados ficamos sabendo dos desacertos de duas famílias que se fundem através de um homem: Paulo Gomes. O texto é cheio de ressentimentos e ideias equivocadas de si mesmo e dos outros. Há um plot twist no final que acaba encaminhando as coisas para um desfecho que funciona como um acordo entre as partes. Gostei do nome Carolina Hickman, rs. Uma boa leitura, interessante e gostosa de ler. Uma história nada previsível. O talento da autora sempre presente. Abraços.

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    1. Olá, Iolandinha!

      Sim, ressentimentos acumulados em uma década. Quis passar isso e a dubiedade das relações em que nada é o que parece. E as manipulações e as explorações de sentimentos, a parte mais fraca sempre se submetendo e levando a pior. Assim é a vida. Feliz que tenha gostado!

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  2. E assim se cria mais um machista para o mundo… Homem fraco e escroto. O email da esposa não me convenceu do suposto arrependimento e remorso dele. O garoto também não me desceu. Fiquei com pena dessa mulher, ainda terá uma barra grande para enfrentar com esse filho para que (acho difícil) não se torne como o pai. Ótimo texto, as histórias familiares foram de desenrolando para nós tão naturalmente que até parece ser um relato real. Abs ❤

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    1. Olá, Vanessa! O texto tem várias camadas, uma delas é a exploração de classes, os mais poderosos explorando os mais vulneráveis. Mesmo o pobre que chega a um patamar mais elevado na escalada social não se apieda de seus semelhantes. A outra é a exploração dos sentimentos. Concordo com você, Paulo Gomes não mudou, é um vampiro que se alimenta de mulheres ingênuas e carentes. Quando diz que o filho se interessa pelo Vale do Loire, Louvre etc, ele se refere a ele mesmo, ao que ele sempre teve como anseio. No meu modo de ver ele só quer que o filho perpetue o seu nome pelas gerações futuras – um egoísta até o final – e vai se tornar outro machista como o pai. Cabe às mulheres darem um basta, mas algumas nunca dão. A premissa foi baseada em Amós Oz e o resto foi vindo. Espero que tenha gostado.

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      1. Sabemos que um texto foi bem escrito quando o leitor (no caso eu) consegue “entrar” dentro da narrativa e sentir todas as emoções e anseios dos personagens. Seu texto foi tão bom que senti-me indignada com este Paulo a ponto de ter sonhado com a história esta noite, rsrsr. Talvez seja porque é um relato tão real e atual, cada vez mais presente na sociedade, e as mulheres sempre na mira destes machistas incuráveis. Bjs

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  3. Muito instigante seu conto, Sandra! Machismo, disputa enter classes sociais, entre mulheres, jogo de sentimentos, manipulação são elementos que tornam uma narrativa emocionante, fazem refletir. O uso do e-mail para a comunicação tornou o texto mais dinâmico, moderno, atual. parabéns pela ideia e execução, estreou muito bem esse nova fase do nosso projeto. Beijos.

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    1. Olá, Fátima!

      Eu penei um pouco no começo, sem saber o caminho, o tom, o tema a abordar, mas tudo acabou se encaixando. Estou feliz que tenha gostado! Um beijo.

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  4. Não vou dizer muito. O que senti foi uma raiva muito intensa por vários motivos e de quase todos os personagens. Se eu tentar colocar todas as nuances, aqui, talvez não seja completamente compreendida, mesmo sendo mulher e mãe. Porque minha visão é bastante rígida com relação a criação dos filhos e aos relacionamentos. Só posso dizer que um texto é bom quando ele faz emergir em nós o nosso melhor ou o nosso pior. E você conseguiu de um jeito muito rápido. Parabéns pelo texto. Um grande e carinhoso abraço!

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    1. Olá, Evelyn! A revolta sobre o texto é oportuna porque ele fala de pessoas que enganam e das que se deixam enganar. Mulheres que se deixam enganar. Algo tão enraizado em nossa sociedade. Não percebem que ao assumir essa posição cômoda – seja por amor, pena ou qualquer outro motivo – perpetuam o chauvinismo reinante em alguns núcleos sociais, sem debelar, sem mudar consciências, sem evoluir. Achei um tema bom para debater nos nossos comentários. Um carinhoso abraço para vc!

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  5. Olá Sandra! Você cumpriu com louvor a tarefa de contar uma história por meio da troca de correspondências. Eu ainda nem comecei a minha. Você nos trouxe duas personagens femininas manipuladoras, um homem covarde e um garoto talvez oportunista. Personagens sem nenhum caráter. Gostei demais da forma como você engendrou essa trama e nos apresentou os conflitos dessas personagens de forma tão fluente por meio dos emails. Parabéns pelo talento e pelo excelente resultado!

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    1. Olá, Elisa! Que bom que gostou. O intuito foi criar uma trama em que os personagens fossem vistos por muitas camadas, nas entrelinhas. Seu retorno é muito gratificante. Obrigada!

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  6. Olá, Sandra!
    Primeiramente, adorei que o conto epistolar se deu em forma de email, pois foi fluindo e me convidando a ler e ler e ler mais.
    Segundo, gostei muito da história, do enredo e da carga emocional que o conto trouxe.
    Se não concordo com as atitudes do Paulo, nem da Carolina, louvo Lea, pela capacidade de pensar, digamos, no bem maior, no fim positivo para a maior quantidade de pessoas, ainda que tenha percebido uma certa carga de cinismo quando ela aceitou a viagem, não!?
    Enfim, Lea passou pelo tipo de comunicação por que muitas e muitas ex-mulheres passam… e nunca é legal.
    Parabéns!

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    1. Olá, Sabrina!
      Os personagens e a história vão se revelando aos poucos, nas entrelinhas. Muito ressentimento guardado entre eles. E não é assim nas nossas relações humanas. Estou feliz que tenha agradado! Obrigada! Um beijo!

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  7. Sandra, seu conto é muito bom. Vc conseguiu resumir uma vida de magoas em poucos emails! E está tudo lá, sem tirar nem por.
    Eu só tenho uma sugestão a fazer, que acho que engrandeceria bastante o conto, e ajudaria a aprofundar um pouco mais os personagens. Acho que seria bom que cada um tivesse a sua ‘voz’ narrativa. Um tom de linguagem que se mantivesse no personagem até o fim.
    Por exemplo. O personagem da Lea, no seu segundo email para o Paulo, lá pelo meio do texto, o tom deixa de ser o tom coloquial do início do email e ela passa a usar um tom mais formal. Não sei nem se vc percebeu, mas, por exemplo: “Então eu o via entrar, fitando-me com olhos culpados.”; “Eu quis vê-lo ferido de morte, quis minar seu corpo assim como você minou o meu, sugando-me a alegria junto com as forças.”; “Ainda quero arrancar seus olhos, cegá-lo como a uma besta.”; “E seu filho culpa a mim por seu abandono.”.
    Me pareceu estranha a mudança repentina na linguagem do email. Eu esperava que ela continuasse usando um tom mais informal, como “Então eu te via entrar, olhando pra mim com olhos cheios de culpa”, ou “Ainda quero te cegar como a uma besta”, ou “E seu filho me culpa pelo seu abandono.” Ainda mais se ela está digitando pra alguém muito íntimo, e com muita raiva. Entende o que eu digo? No final deste email o tom da voz da Lea volta a ser mais cotidiano.
    Já a Carolina, escreve com mais frieza, nota-se que ela pensou muito antes de escrever cada palavra para a ex-mulher do marido. Ela escreve com tato, com classe de quem teve uma ótima educação literária, de quem pertence a uma classe superior a do marido e também à da Lea. Esse é o personagem da Carolina, é a voz dela. A voz da Lea é totalmente diferente a meu ver. Concorda? Afinal, Lea está P da vida com esse canalha do ex-marido, e ainda está vivendo um stress terrível com o filho adolescente, que a chama de puta.
    Então acho que vale dar uma revisada no conto, pensando nesse aspecto. Cada personagem tem uma voz própria nessa história, e – sendo uma troca de emails – vc pode e deve aproveitar isso para, através da linguagem usada em cada email, ir construindo na mente do leitor o conceito, o caráter e o drama de cada personagem.
    Frase-Destaque: “Um dos ensinamentos de meu pai: todos têm um preço. O de Paulo era barato, uísque escocês, charutos cubanos, dentes bem cuidados na boca carmim, os quadris de uma mulher fina rebolando como um ninho de serpentes.” Muito FDP essa Carolina Hickman! O Paulo bem que merece alguém como ela! rsrsrs

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    1. Oi , Juliana!
      Perfeita sua colocação, faz todo o sentido, inclusive ajuda a definir melhor o tipo de personagem e a classe social a que pertence. Eu cheguei a pensar nisso quando estava escrevendo, mas na ânsia de acabar o texto, passou batido. Acho que vai agregar muito ao texto e na definição dos personagens. Muito bom!

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  8. Oi Sandra, gostei muito do seu texto. A forma de emails deu um ar atual, interessante, gostoso de ler, mesmo que o conteúdo deles seja tão amargo. Deu pra visualizar uma vida toda de duas famílias. Como textos epistolares podem contar tanto em tão poucas linhas? Acho que deixa muito para a imaginação do leitor e isso é ótimo, o leitor cria sua própria versão dos fatos, interpretando o que o narrador quis dizer é se é tudo verdade ou não. Toda moeda tem dois lados, não é? Gostei de ver esses lados tão bem narrados. Parabéns!!

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    1. Olá, Priscila!

      Depois de um longo espaço de tempo, retomo as leituras aqui no blog. Agradeço o retorno. Fico satisfeita que o texto tenha te agradado. Vou ler os contos das colegas que faltaram e comentar. Um bjo.

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  9. Olá, Sandra. Uma excelente história muito bem narrada. Nem vou mencionar o tanto que lá está: desde a mulher sem autoestima, até à manipuladora (também ela sem grande conceito de si mesma já que se considera feliz com um homem a quem reconhece tantos defeitos). Mais que outra coisa qualquer, o que as distingue é a classe social. Mas nem vou por aí, pelas mulheres que “compram” homens, nem pela competição feminina, mais antiga que a invenção da roda. Nem pelo safardana machista que no final, ao encontrar o único filho “macho” se rende à paternidade antes forçada e agora apenas desejada como forma de perpetuar. Claro que o estupor do miúdo nunca será grande peça – já não o é agora, quanto mais depois. O que notei, mas não pensei o suficiente para encontrar uma forma de dar a volta a isso, foi no segundo email de Lea, quando ela conta detalhadamente tudo o que se passou; fica estranho, pois isso não sucederia a não ser em ficção, pois bastaria ela mencionar os factos sem os descrever para ele saber de que estava a falar (mas haveria que encontrar uma forma de dar a conhecer ao leitor essa realidade e isso não estou a ver como). De resto, está muito, muito bom. E a forma como o terceiro elemento entrou na história enriqueceu-a imenso. Por fim, o último email de Lea é tremendo. Uma vingança servida fria. Imagino o desgraçado a morrer e a ler aquilo acreditando que foi escrito apenas com inocência e boa-vontade. Ponto máximo, esse último email. Lea vingou-se, só não sei se isso lhe terá proporcionado algum alívio. mas a nós, leitores, sim. Parabéns. Um beijo.

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    1. Olá, Ana!

      Grata pelo retorno. Estou retomando hoje o blog e quero repassar tudo com carinho, reavaliando todas as dicas e fazer possíveis alterações, Um bjo.

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  10. Querida Sandra,

    Li seu conto faz tempo, mas parece que este ano está me testando. Me sinto em uma gincana.

    Bom, chega de desculpas.

    Nosso século é acelerado e transforma as coisas. Prova disto é que o epistolar já não se trata só de cartas. Você utilizou do recurso e-mail e ficou muito bom.

    É interessante como certos “tabus” conseguem nos tirar da zona de conforto, não? O pai que não conheceu filho. O doente terminal. A mãe abandonada que, ainda assim procura pelo pai a fim de obter socorro. Enfim. Muitos tabus abordados em um só texto. 😉

    O ponto alto, para mim é a lição de vida que, ainda que uns não aproveitem, nos é dada pelo destino e pelas voltas que nossas jornadas dão. A protagonista busca o pai de seu filho, a fim de obter ajuda, mas, no final, é ela quem o ajuda, mais uma vez.

    Seu texto, como eu disse, nos tira da zona de conforto e faz odiar personagens, torcer pelo desfecho. Isso é ótimo.

    Parabéns.
    Beijos
    Paula Giannini

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    1. Olá, Paula!

      Sim, nos faz odiar os personagens. pensei nesse ponto. Dar chance ao leitor de não só se identificar, mas odiar os personagens, ou suas atitudes. Grata pelo retorno, minha querida. Um bjo

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  11. Olá, Sandra!

    Nossa, seu texto é bem difícil de digerir, você conseguiu construir esses personagens de uma forma tão intensa que me surpreendeu. O meu semblante até mudou enquanto eu lia, de tão irritada que eu estava com eles, só posso lhe dar os parabéns por isso, conseguir uma reação do leitor de forma intensa é para poucos.

    Vamos a história… Eu não sei quem eu detestei mais dois se foi a mãe ou o pai. No primeiro e-mail dela vemos uma mulher cansada em busca de socorro. No segundo já vemos que está longe de ser só isso, é pelo filho mas ao que parece é muito mais por ela. A amargura nas palavras é intoxicante, a forma detalhada como relembrou os momentos ruins do casamento. A resposta dele é muito forte também, foi fazê-la reviver todo o abandono do passado. É impossível não julgá-los pelo que são, principalmente como pais, achei interessante a passagem em que ela fala que não o culpa por ter trocado ela por outra, mesmo que nos próximos emails isso fica claro que não é verdade, ela o odeia profundamente por isso. E eu sou da opinião que não se deve ter ninguém ao seu lado se você não o feliz, se quer ir que vá e se foi é porque você deixou ir ( complicado, né?

    O pouco que se fala do menino também é o bastante para detestá-lo, deve ser um serzinho difícil de engolir, assim como o pai, é machista, interesseiro, do tipo que não respeita ninguém. Enfim, você representou três tipos de pessoas que são detestáveis exatamente por serem tão reais… a gente lembra de alguém assim, da vizinha de um parente e etc.

    Achei interessante que dava pra imaginar, mas não prevê como seria esse final. Com ele a gente apenas pode supor que tudo isso está longe de acabar, o menino está comprometido, a mágoa dela será substituída por outros sentimentos igualmente ruins, ou não, quem sabe ela finalmente aprenda a viver, se amar. Ainda há tempo.

    Parabéns novamente por criar um texto muito bem narrado, estruturado, que instiga o leitor…mesmo que deixe ele p da vida rs.

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    1. Olá, Amanda!

      Sim, dá uma raiva danada. Tira a gente do conforto. E causa indignação, para dizer o mínimo. Grata pelo retorno, querida. Fiquei muito feliz com o comentário.

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  12. Oi, Sandra!
    Seu conto foi o primeiro que li, e senti nele uma profundidade dramática tão grande que precisei ler e reler, para assim tentar fazer um comentário coerente.
    Extremamente real, desses acontecimentos que ou nós mesmos já vivemos, ou alguém próximo passou por algo ao menos parecido.
    A humanidade nua, crua e talvez por isso causadora de uma compreensão mesclada à raiva/dor, pelo perfil de todos os personagens, que de uma forma ou de outra mostram-se, todos, meio/muito canalhas.
    Não senti a mínima pena de Paulo, vejo essa figura como aquele tipinho que nunca prestou, e na doença torna-se ainda pior – porém merecedor de alguma redenção.
    Lea muitíssimo bem construída dentro do seu papel de vítima eterna. Nossa que dá raiva de Lea, de tão boa que é rs.
    Carolina Hickmann, manipuladora e “poderosa”, mostrando que é assim, muitas vezes, que infelizmente as coisas funcionam.
    E o menino, candidato a filhinho de papai bandidinho de elite, fechando o círculo.
    É real, é bem escrito, meus muitos parabéns!

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    1. Olá, Renata.
      Estou retornando ao blog depois de um longo intervalo e fico satisfeita com seu retorno. Agradeço muito o seu comentário. O conto era mesmo para indignar ou tirar o leitor da zona de conforto. Obrigada. Bjos

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  13. Uma troca de emails bem intensa. Os personagens se tratam com pouca delicadeza, diria que com mágoa e desdém da outra parte. Será que o menino passou a adorar o pai por afinidade ou por interesse?Afinal junto dele teria uma vida muito melhor. Cheguei a pensar que a história da doença terminal fosse invenção da Carolina para convencer Léa a deixar o menino viajar.
    o último email carrega um certo cinismo, já que começa com Querido Paulo… como assim se há poucos dias ela o queria morto? E parece que os céus atenderam as suas preces.
    Percebi uma repetição – “Sei que é o modo dele pedir colo sem pedir.” – quando Léa fala do filho Lucca e quando Carolina fala do marido. Seria uma coincidência genética?
    Enfim, o conto epistolar traz emoção pois retrata a realidade tão próxima das nossas relações, a dificuldade que vivemos em uma sociedade em transformação. Uma separação nunca é fácil ainda mais quando envolve filhos.
    Parabéns pelo texto bem trabalhado. Beijos.

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    1. Olá, Cláudia!
      há um cinismo de parte a parte. Ninguém se revela por inteiro, mas nas atitudes e entrelinhas. Somente aos poucos vamos entendendo as mágoas acumuladas. E tudo fica em aberto, dependendo da interpretação do leitor.
      Obrigada pelo retorno! Bjos

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  14. Um final inesperado! Durante a leitura, me senti desesperada, por ver onde é que tudo isso ia finalmente acabar. Não imaginava que a Carolina fosse entrar na história e, que reviravolta! E ri no final quando li “Querido Paulo”, rs… Conduziu muito bem essa troca dramática de e-mails. Havendo mensagens de três pessoas, sobre diferenciar bem quem é quem. Sobre a Carolina dizer que é o jeito dele de pedir socorro, ela disse isso por ter lido os e-mails que o marido e a ex-mulher trocaram? Isso apenas fiquei em dúvida. Parabéns, obrigada pelo texto!

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    1. Olá, Bianca!

      Quando escrevi o texto, pensei em uma mulher bastante manipuladora, tanto ela pode ter se sentido despeitada pelo marido querer se aproximar do filho, quanto por ter descoberto os emails e querer parecer ciente de tudo com a arrogância que lhe é peculiar. Mas depois imaginei que ela poderia ser tão apaixonada por esse homem que gostaria que a ex-mulher satisfizesse sua vontade. Então, o texto fica bem aberto às interpretações. Obrigada pelo comentário. Bjos

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  15. Oi Sandra, o judiciário de família despeja aos borbotões histórias como as que vc. trouxe por meio de email´s. Infelizmente há muitos pais que quando se separam se ausentam emocionalmente dos filhos, como se eles fossem propriedade da mãe. Há também a questão da formação da nova família, e a nova mulher relacionar a presença do filho do casamento anterior, como trazer junto a presença da ex-esposa, acontece isso aos borbotões, o que é uma crueldade com os filhos. Nota-se no seu texto claramente a composição dos personagens, envoltos nesse redemoinho de carências, mendicâncias e manipulações. E um filho pagando a conta desses adultos sem rumo. Parabéns pelo texto, bjs.

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    1. Olá, Rose!
      É um conflito recorrente, não é? Uma tragédia que se abate na família porque deixa os mais vulneráveis sem o apoio emocional necessário. No último domingo, o Fantástico trouxe à baila o caso de um casal que saiu para velejar pelo mundo e resolveu se separar, mas agora os pais disputam a guarda do filho que não está matriculado em escola, não tem endereço fixo e vive em fuga com a mãe. Cadê a estabilidade emocional? É mais comum do que a ficção pode supor. Infelizmente.

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