Desforra do Bibelô
A primeira vez que estive com D foi em circunstâncias até agora não muito bem esclarecidas. Um choque descobrir que estava sendo observada quando acreditava estar só. Alguém me chamou com voz macia, filtrada destacou-se do grupo e começou a dizer:
– É Sara? É Sara? — pegou-me pelo braço, espanto. Voltei-me — era D. Ele chegou com o peito enfaixado, tinha se ferido num acidente. Ao abraçá-lo com força pude sentir ligas, esparadrapos e algodão. Aparentemente estava bem. Os anos de distância não lhe vincaram a pele macia, não lhe deformaram o talhe de galã (astro luzente, esguio, banhado de manhã); os olhos traziam o mesmo ar doce de outrora e senti por ele a mesma ternura de tempos atrás.
Aí as coisas tomaram conta da mulher, por mais que procurasse agir por mim mesma, os acontecimentos acabaram por me desviar da linha de ação. Poderia me conter? Fui subindo a encosta, abraçando o velho amigo. Presumia-me miúda, contemplativa, vestida de grega. Ah, os olhos molentes de D! Ele foi o meu primeiro amor, portanto… fomos subindo, atingimos um planalto, um imenso espaço, mal iluminado… Havia enorme quantidade de portas entreabertas… uma conduzia ao quarto de D. Como se pode saber o caminho sem o caminhar? Era perigoso, mas tarde…
Urias viajava a negócios. Dois meses, indo e voltando para casa em ziguezague constante. Eu nunca achava o companheiro a meu lado; balançava a cabeça, não me sentindo capaz de enfrentar aquele desafio. Uma sensação de ridículo passeava-me por dentro, raspando as entranhas com ásperas palhas secas de milho. Procurei tomar firmeza, olhei em volta: a lucidez sumira, saíra desesperada.
Um longo-largo jardim me inundava de flores, bancos e arbustos, quando encontrava D. Entreguei-me aos novos perfumes. Pensava neles e os sentia. O perfume vermelho que inebriava, o perfume azul que trazia caminhos sombreados, longos, árvores e resina. O perfume cão, que batia em espinhos, deixando-me presa, sangrenta, dividida entre encontros secretos e idas delongadas – vindas rápidas do marido-workaholic. Os encontros apenas aconteciam, e não havia complicações. Curso e ocorrência definidos pelo acaso, um ato isolado. Então… Como deter o meteorito?
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Na consciência o peso das alternativas. Assombro, insegurança… Grávida? Terceiro filho… O pai? Quem?
Analisei friamente a situação, estudei criteriosamente o entorno. Inesperado? Pouco importava quantos filhos teria. Cada um único e esse seria muito amado. Não me questionei. Não tive dúvidas. Convicta. Nenhuma explicação para D e me afastei para refazer a trajetória, estupidificada diante de minha força. Ambos, desde o primeiro dia, fizéramos um acordo:
— Quero-a assim, despojada do humano, sem identidade, nem situação — a solidão, a liberdade eram o estilo peregrino que D adotara. —Eu sou apenas, agora, densamente animal… e a quero — provi-me de blindagens, estava intacta para lidar comigo nessa situação única.
A relação entre nós era secreta, óbvio. Até porque como fosse secreto, não podia ser duradoura. Por mais doce que parecesse, pendia por um fio tênue. Só bastariam certos detalhezinhos, de parte a parte, para que a coisa começasse a fraquejar. Não tinha porque continuar e avisei-o que retomaria meu cotidiano. Caminhei sem olhar para trás.
Naquela tarde, lembrei da Igreja, precisava de orientação. Pela nave central vinha entrando um padre paramentado (conhecia-o bem). A igreja estava cheia, as pessoas rezavam. Esperei esvaziarem os bancos e pedi uma confissão.
— Faltei à missa no último domingo. Gritei com minha mãe. Dei umas palmadas no filho. Falei um palavrão. Dei corda às fofocas da vizinhança — desconversou arrependida da iniciativa. Num repente.
— Arrependa-se de seus pecados. Reze o ato de contrição.
— Senhor, detesto todos os meus pecados porque (…) e proponho com a vossa graça nunca mais os cometer, evitar as ocasiões de pecar … — nessa parte era sincera. A mulher racional, mesmo aflita, quebrou o rito. O segredo seria só meu. D jamais falaria nada, também desconhecia o estado em que me encontrava, não sabia da possibilidade de ser pai. (Como reagiria?) Era o processo do inútil, a conscientização do absurdo que sustentava cada gesto meu. O filho tinha que ser do marido! Irremediavelmente, ligava-me a Urias por uma corrente de mil anos…
Urias seguia um caminho paralelo ao meu, apenas que sua linha ficava um pouco atrás e a paisagem do seu lado, muitas vezes, diferia do modo como eu a via. Para mim os seres eram mais nítidos, impregnados da realidade de cada dia, existentes. Quando via uma árvore, eu dizia: é uma árvore. E parava aí. Nome e coisa se juntavam indissoluvelmente, mas, às vezes, fitava a árvore com um pouco mais de insolência, então começava a duvidar. A visão, no meu vocabulário, deturpava- se. Qualquer mudança no objeto, para menos ou para mais, era uma guinada para a verdade. Preferia perguntar-me: será que estou louca? ou sofrendo da vista? devo procurar um médico, trocar de óculos?
Insistia em me povoar; Urias tentava se instalar em minha cabeça e se ficar. Vinha em pedaços, em momentos, em épocas, em contornos e registrava todos os instantes e antecâmaras acontecidos na nossa pele. Eu buscava o alinhamento, acompanhava-o em fatos, acontecimentos, sem uma sequência temporal lógica — um filme, com zonas apagadas, tomadas sem ordem alguma, sem nunca me desligar. Foi assim desde o princípio…
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— Meu bibelô! Ah! Tetéia! — com carnes doces, tépidas e macias, a menina mergulhou de corpo inteiro no amor que o homem maduro lhe oferecia. Dezessete anos, primeiro filho.
— Têm que casar — esbravejou o pai — tudo bem discreto!
Inocente, assim fiquei desde o dia de noiva: os braços ocupados, a vontade estática e sem palavras. Perdi todos os prolongamentos e fiquei em repouso, julgava-me feliz. Admirava que ele tivesse feito tanto por nós dois, com o corpo, com a presença.
— É, eu fiz isso tudo, de uma certa maneira fui grande, generoso. Você sabe, eu não sou de contar vantagens — Urias buscava uma saída de falsa modéstia. (As histórias dos homens começam e acabam todas da mesma forma, já morrem em sua surpresa e novidade ao começarem. Onde as histórias em que o homem não seja o herói?)
O filho me envolveu. Urias tinha que construir o futuro, viciado em trabalho, no desejo de, a qualquer preço, impulsionar a empresa. Ao menos, era essa a desculpa para longos expedientes (no escritório?), para um convívio ínfimo em casa, para horas extras e viagens repetidas. O pior: ele não me percebia, impedia que participasse das situações alegando que eu não tinha preparo. Entendi que ele não acreditava nos meus sonhos. Na roda, ainda que por conveniência ou bajulação, havia sempre quem o valorizasse, sobretudo mulheres.
— Vai sair com este vestido? Comigo não. Use o vermelho que lhe comprei no aniversário.
— Você é péssima cozinheira. Peça para sua mãe ver um bufê para o jantar de quinta-feira. E procure um salão para dar um jeito no cabelo.
— Fique calada. A sua anedota vem envelhecida de trezentos anos.
— Dieta… Cuide-se… — O homem sempre aborrecido comigo; com os estranhos, sorridente. As falas não mudavam muito, iam crescendo as pitadas de palavrões e a acidez. Eu ia vendo um filme perder a beleza na dissecação das críticas. Vivia na procura de temas e mensagens nos livros, de nomes das flores e de técnicas para se fazer isso ou aquilo — iludir-me. Precisei trancar a matrícula da faculdade (que tanto lutei para começar) porque estava novamente grávida. Sentia-me pesada, feia. Conhecia meu homem. Percebia o que ocorria às costas.
Escondi-me, oculta… Perdia o sono. Sobressaltava-me em mal-estar contínuo. Saía ao portão, olhava as pessoas. Via passar adiante uma mulher da minha infância: um dos pés era uma bola, ela mancava, arrastava-se com dificuldade, equilibrando instavelmente uma agressiva bengala. Um embrulho sob um dos braços, uma criança ao lado, outra na frente. Eu era ela, iguais na sina. Aos poucos a realidade se descortinava. Tudo era de uma verdade dolorida e crispante. O casal de filhos preenchia meu tempo? Insisti e com a cumplicidade de meus pais, concluí o curso de Letras; fui ensinar no colégio das freiras.
— Você saiu do controle de novo, parece uma criança mimada! Não está dando conta nem da casa — Urias arrematava em monólogo. Depois de conhecê-lo tão bem, já sabia que qualquer discussão era pura perda de tempo e paciência. Eu estava doente, ou só agora percebia que sempre estivera doente. Deixava cair a cabeça, tomada de lassidão. Acordava cedo, lutando contra a vontade de ficar na cama. Queria me esconder das pessoas, não lhes suportava as velhas histórias desgastadas de que eram heróis absolutos, ainda que as aventuras fossem negativas.
Não sabia se azar ou sorte, o fato de Urias estar sempre ausente e me admirava que ele saísse vitorioso e iluminado de tantos combates infelizes. Eu era a mesma mulher de quinze anos atrás, a mesma atitude, a mesma postura. Nada mudara durante todo este tempo. Havia uma segurança sem pressa, tranquila, determinada. Mudamente afastei todos os amigos; mas havia os que insistiam, noturnos, enevoados, vindos de remotas distâncias. Constatei que, de um momento para outro, alguém podia bater à porta. Essa espera também me impedia o sono e aumenta a ânsia. Expectativa. E, D entrou. Engraçado, inofensivo. Um medicamento. O revide…
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Qual o preço a pagar? Eu ainda não sabia. Mas que era bom saborear a vingança, sim, muito bom. “A vingança é um prato doce que se come frio”. Não, não era sorvete, mas com sensação de bem-estar semelhante. Era quase como saborear a justiça…
— Nossa, Sara! Júnior é mais claro que os irmãos… Seus olhos parecem esverdeados — comentava a sogra. Aquela observação me fez gelar a espinha, mas disfarcei e continuei ouvindo. Importava somente as reações de Urias e este mal postava os olhos no bebê ou em mim. Nenhuma dúvida o perturbava.
— Um exame de DNA ia convencer a senhora de que tem mais um neto? — Ironizava. — É — E sorria, pondo tudo, sem demonstrar esforço, ao nível de natural. Uma descarga de adrenalina fora despejada em meu corpo. Lúcida, não tinha mais tanto medo dos velhos fantasmas…
No ano seguinte, mais um bebê. Urias era o pai deste, com certeza. Nunca mais encontrei D. Soube que ele trabalhava no exterior e uns anos depois faleceu em outro acidente de carro (motorista descuidado!). Foi uma aventura que me alimentou o ego, que me mostrou que era atraente e apaixonada, por mais que fosse subjugada. Armazenei sonhos e pensamentos e me conectava a eles quando o negativo assomava. Não via o mundo mais bonito — nem mais feio… Estava vacinada, poderia conviver naquela lama sem me atolar.
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A mulher, hoje, talvez pareça um pouco mais velha, de um sofrimento determinado e doce. As crianças, repetindo os mesmos traços dos pais (todos?), os mesmos gestos, os mesmos olhares furtivos de medo, confiança e fome ou satisfação. Eram as meninas com quem brinquei, os meninos com quem briguei. As crianças repetiam as mesmas feições.
— Foi incrível — eu ponderava. — Absolutamente incrível. E, olhava para mim mesma e me admirava de que não tivesse mais dezessete anos. Eu descobri: as coisas não mudaram nada, não houve futuro, não houve amanhã. As pessoas me sentiam como uma dos seus. Catalogada, classificada. Ergueria as mãos em gestos de descoberta, cuidaria dos problemas de cada dia, compartilharia as mortes e aniversários. Cantaria, bateria palmas, ouviria os sinos, amarraria fitinhas. Beijinhos nas faces, sorrisos, disfarces. Almoçava e jantava. Abria a champanhe e ela só fazia: tap! Bebia depressa, tomada de excitação. Tudo densamente doce-amargo e real.
Não havia milagres a esperar. Sou uma mulher sem sonhos; eles viraram rotina. Incapaz de nenhum outro sacrifício que não seja viver. Podia ouvir os gritos dos filhos, netos… os mesmos gestos, as mesmas palavras de outrora. Olhava nos rostos envelhecidos, mas tranquilos… entendi que me encontrava ali também, vagando por estranhas sensações e condições de vida. Devolvida ao prosaico da realidade chocha e banal. Volúpia morna, quase calor…
O corpo bambeava, abandonei-me. Na ponta das palavras ia nascendo um mundo mágico e estalante, que como numa ampulheta ia me conduzindo para um final de filtrações, onde sentimentos e filosofias se sobrepõem. O coração estava leve, amaciado, quase pássaro…
São quatro filhos. Saldo positivo. Segredo guardado!
Olá, minha caríssima amiga! Belo conto, cheio de minúcias delicadas, olhares e segredos. Eu me lembrei de uma história antiga lendo a sua, me lembrei de Emma Bovary, ainda que a traição da sua personagem tenha sido com apenas um homem e tenha lhe trazido um filho, ou uma dúvida. Torci muito por ela, que babaca era o marido Urias. Pessoa intragável, invejosa, cheia de soberba. Coitada da Sara, tão novinha e presa a um encosto como ele. Até pensei que vc ia jogar os dois D e Sara, juntos no final, mas acabou que ela aceitou sua condição de mãe e foi ficando. Como vc viu, me envolvi completamente com seus muito bem compostos personagens e me encantei com seus volteios frasais. Parabéns pela trama, pelo título, por cada joiazinha encaixada nesta história para nos encantar, e beijos!
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Obrigada, amiga, pelo seu incentivo, pelo seu apoio, sempre generosa em seus comentários. Para Sara, a maternidade era o mais importante e existem muitas mulheres assim e ela sabia que de D pouco poderia esperar. Beijos.
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A estrutura esta muito legal…….como as falas dos personagens opressores aparece em relação as falas da Sara, os naipes do baralho sutilmente indicando um clima para o trecho………e o título é fundamental para dirigir a leitura do que vem depois…………..mas foi tenso para mim ler e digerir o enredo………não consegui ver o saldo positivo………o final da Sara em continuar com o Urias foi algo extremamente triste………..foi pesado para mim…………….
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Obrigada pela leitura e comentário simpático. O saldo positivo se refere aos filhos, à vida, à educação que lhes proporcionara. Ela ficou com o marido porque sabia que os filhos seriam recompensados, mas para a vida pessoal, a felicidade amorosa… não sei se teria a força que ela teve. Abraço. Visite meus outros textos.
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É esse saldo positivo que eu questiono…….a questão da educação é questionável, vindo da parte da mãe se entende, mas a do pai vem da onde? De uma questão de estabilidade financeira? De que tipo de educação estamos falando? E isso seria saldo positivo no banco, o que não significa na vida……enfim…….é realmente pesado para mim pensar em mulheres e famílias que se submetem a situações como essa……e no fim, pelo motivo que for me chocam……e o blog de vocês é muito loco……estou sempre por aqui….. 🙂 ……..
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Um conto que prende a atenção, pois nos faz querer saber que destino Sara dará a sua vida. Muito jovem para descobrir-se senhora de si, ela renuncia a possíveis romances em benefício da família formada. Se há um segredo, ela o esconde com tamanha naturalidade que todos acreditam em sua postura exemplar. Seu texto me fez lembrar do filme As Pontes de Madison, no qual os personagens vivem um breve e intenso romance. O segredo torna tudo mais precioso, mais íntimo e embrulhado em fantasia.
Parabéns pela desenvoltura com as palavras e por nos apresentar uma mulher tão real e bela.
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Prometi a mim mesma somente trabalhar com protagonistas femininas, nesse blog. E, vou tentando… Obrigada pela leitura, comentário simpático, incentivo e apoio. Sua opinião é importante para mim. Beijos.
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Olá, Fátima!
Seu conto revela uma faceta feminina tão comum a tantas. Mulheres que se submetem a uma vida insatisfatória por medo de perder o status, os filhos, o prestígio social e tantas outras coisas. Sua protagonista sacrifica sua felicidade para dar uma boa educação aos filhos. Um caso que é bem mais comum do que se supõe. Gostei do trato com a linguagem, da protagonista e do enredo, tudo escrito com muita sensibilidade. Muito bom!
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Obrigada, Sandra, pela leitura e comentário incentivador. O objetivo era esse mesmo: mostrar o comum de muitas mulheres que sacrificam a felicidade por outra maior, que são capazes de qualquer coisa pelos filhos.
Beijos.
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O conto está muito bem escrito, gosto do jogo de palavras e metáforas que vc usa, a maneira de concatenar pensamentos e falas da personagem. Mas concordo um pouco como Eder. Esse tipo de situação a que as famílias se submetem, em nome de um casamento, ou de um “status” de casados, pra mim nunca fez sentido. Tenho dó dessa mulher, que se obriga a viver com um homem que sequer a olha, que sequer repara nos filhos crescendo, que tem que conviver com uma sogra que não confia, e ainda se sente vingada quando trai. Bom, mas acho que esse meu sentimento é sinal de que vc soube construir muito bem essa personagem e seus dilemas! Bacana, Fátima, parabéns!
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Veja, Juliana, a Sara é uma personagem mesmo, mescla de imaginação e do observar. Fico orgulhosa de que tenha despertado esses sentimentos todos no leitor. Gratidão pela leitura e comentário. Beijos.
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Querida Fátima,
Admiro muito o modo como você se embrenha (ao menos aqui nas Contistas), no universo da família, vista a partir da ótica da mulher em sua relação amorosa e a partir daí, filhos, netos, enfim.
O ponto alto, para mim, é o fato de você não fazer julgamentos. Em nossa sociedade do século XXI, certos papéis que, para um determinado estrato cultural (não é nem o social) podem parecer não fazer sentido e não ter mais lugar, são, na verdade, comportamento vigente ainda nos dias de hoje. Conduta, inclusive, cristalizada não só por homens, mas por muitas mulheres que, além de aceitar este papel, ainda o revalidam.
Como disse, gosto da autora que não faz julgamentos de sua personagem. Ela é o que é. Boa, má, submissa, explorada, um nada. Não há como não nos identificarmos com sua protagonista, seja por passagens de nossas próprias vidas, seja pelas vidas de outras mulheres tão próximas a nós.
Parabéns.
Beijos
Paula Giannini
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Você sempre gentil em sua leitura e comentário. O objetivo é esse mesmo: mostrar a performance da mulher comum na sociedade atual e do pinto de vista dela. Obrigada pelo incentivo. Beijos.
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Oi, Fátima,
Estou lendo Mulheres do Eduardo Galeano.
Já leu?
Indico muito.
São contos curtinho e um deles, uma das personagens me fez lembrar de seu texto que em nada fica a dever a Galeano, que, inclusive, fala de uma mulher como a sua, submissa à vida.
Beijos
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Olá Fátima! Sou sua fã, você sabe. Eu mergulhei nessa sua Sara, na humanidade dela, na ambiguidade de suas vingancinhas covardes. Uma mulher do século XIX, me pareceu no começo da narrativa. Só que na verdade, apenas cremos que certos comportamentos estão extintos. Quantas Saras ainda não estão por aí disfarçadas de mulheres modernas,fazendo qualquer coisa para ter um Urias para chamar de seu… A linguagem e o ritmo me cativaram, como sempre nas suas narrativas, me conduzem como numa dança. Você usa o vocábulo “filtrada” no primeiro parágrafo e “filtrações” no último em construções que me causaram um tropeço por soaram enigmáticas e eu saio do seu texto aqui com uma charada… Beijos!
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Obrigada, Elisa, pela leitura e comentário. Sou sua fã também, desde os tempos do DTRL. Interessante como é bom para a nossa escrita, ter os textos lidos…. Não havia notado que usei “filtrar duas vezes, vamos pinçando palavras do repertório, meio que inconsciente. Em “voz macia, filtrada destacou-se do grupo”, o particípio do verbo tem sentido de “vir à tona, mostrar-se”; e, em “como numa ampulheta ia me conduzindo para um final de filtrações”, o substantivo derivado teria o sentido de “escolhas, seleções”. Nossa Língua é muito rica, não é mesmo? Espero ter solucionado sua charada e obrigada mais uma vez. Beijos.
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Seus personagens são sempre muito bem elaborados. Sara vive em um mundo machista e submete-se a um casamento convencional, de fachada. Apesar disso, e por esconder seus segredos tão bem, não a sinto tão submissa ou, sei lá, revoltada, mas a considerar a época para a qual me remeti ao ler seu conto, fico pensando se ela chutaria o balde, porque o peso de determinadas escolhas é bem maior. Eu acredito que hoje, ainda hoje, existem mulheres que se submetem a um casamento desse tipo. E não creio que vá mudar muito em um curto espaço de tempo. As mulheres, na grande maioria, ao menos no mundo ocidental, são as responsáveis pela quase totalidade da criação de filhos, crianças… Então, na teoria, elas detêm o poder da mudança desse mundo machista para um mundo igualitário. Talvez eu seja ingênua e não perceba as mudanças. Para mim, não houve mudança significativa no universo ocidental na questão. Ainda temos mulheres mortas pelo simples fato de serem mulheres. Ainda se culpa a mulher por tudo – aborto, estupro, promiscuidade… Seu conto faz pensar. E como sempre, escrito com maestria.
Beijos e abraços carinhosos.
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Que surpresa ver esse comentário generoso em um conto antigo aqui. Muito grata pela leitura e comentário. Beijos.
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