Eu sempre tive grande veneração e fascínio pelas forças da natureza. Amo os elementos e suas demonstrações de poder. Claro que tenho medo, como qualquer ser humano com instinto de sobrevivência. Além do medo sinto arrebatamento e respeito, e como não respeitar? Quem é que pode parar um vulcão ativo, um ciclone, um terremoto ou um tsunami? O que para a maioria das pessoas é uma tragédia, para mim é uma coisa linda, uma pequena demonstração do grande poder desses Deuses. ‘Deusa Terra’ – ‘Deus do Ar’ – ‘Deusa D’água’ – ‘Deus do Fogo’. É assim que os chamo, são os meus Deuses.
Então, vamos a minha pequena história.
Morava no litoral e sempre que me aproximava do mar eu cumprimentava a minha Deusa. “Bom dia, minha Deusa, está linda como sempre”. Eu conversava com ela o tempo todo que ficava no raso molhando os pés, e ela mandava ondas um pouco mais fortes para me molhar inteira. Como se estivesse brincando comigo ou querendo me levar para seu mundo. Nunca entro mar adentro, ainda sou humana e o medo está presente.
Ficava atenta para saber se tinha alguma ressaca ou um mar revolto para que eu pudesse ir apreciar.
Certo dia de chuva, no outono, fiquei sabendo que o mar estava agitado. Com essa informação eu também fiquei agitada. Como chovia muito eu não conseguia sair, mas a tarde a chuva diminuiu e lá fui com meu guarda-chuva. Chegando no calçadão sentei-me em um banco, molhado mesmo, de frente para o mar. Não se via ninguém por perto, só a maluca aqui sairia na chuva para admirar um mar revolto.
Aquilo estava uma maravilha! Eram picos, enormes, de água azul que subiam e se quebravam em espuma prata! Fiquei admirando encantada, eu via como ondinas saltando em uma dança. Era uma festa no mar. Ri para minha Deusa, conversei com ela e agradeci pela beleza que ela me permitia ver.
Um pouco mais tarde, já se aproximando o crepúsculo, apareceram dois sujeitos, um homem vestindo uma capa de chuva e um rapaz vestindo trajes de surfista. Cada um deles empurrando uma bicicleta e pararam na rampa que dava acesso para a areia bem em frente a mim. Acho que não me viram e se viram não deram atenção, eu não era ninguém. No bagageiro de uma das bicicletas tinha um grande pacote, mais ou menos com um metro e vinte de comprimento e um metro de circunferência, muito bem embalado e com fita crepe por toda volta.
Eles ficaram parados olhando para o mar, até que o rapaz com roupa de surfista falou.
— Não vai dar pra jogar no fundo.
Não ouvi o que o homem respondeu, mesmo porque aquilo mexeu com todas minhas emoções! Eles estavam planejando jogar aquele pacote no mar? Minha intuição foi ativada. Quem é que vem a praia, debaixo de chuva, com um mar nada calmo para desovar um pacote? Boa coisa não era! Meu coração acelerou, deu-me uma grande agonia, toda minha alegria se foi.
— Eu sei que você me pagou, mas isso aqui está louco! Não vai dar – falou o rapaz, o outro respondeu, mas continuei sem ouvir. E os dois desceram a rampa e foram para perto do mar.
Eu não sabia o que fazer! Enquanto os observava tirando o pacote de cima da bicicleta e os dois entravam na água carregando-o, coloquei as mãos no rosto e comecei a pedir. “Por favor, por favor, minha Deusa, se esses dois estiverem fazendo coisa errada, não deixe, tome uma atitude! Segure-os!” – Nem sei quantas vezes eu repeti, ou as palavras exatas que pronunciei, eu implorava mesmo! Não tirei os olhos dos dois. Vi-os carregarem o pacote e o soltarem em uma forte onda. Tentavam empurrar o pacote, que boiava, mais para o fundo, mas o mar não deixava. Notei o rapaz virar de costas e começar a voltar, mas o homem estava inconformado, queria que o pacote fosse para alto mar e tentou novamente empurrá-lo. Foi nesse momento que saltei do banco com a cena que só eu enxerguei, o rapaz estava de costas e nada viu. Dois seres, enormes, feitos de água, silhueta feminina, se elevaram, cada uma de um lado do homem, levantaram suas mãos e empurraram o homem pela cabeça para dentro do mar.
Gelei! Mas continuei a observar, quem sabe meus olhos tinham me enganado.
O rapaz chegou perto das bicicletas e virou-se para procurar o homem, olhava com atenção, mas nada. Ainda ficou algum tempo olhando, porém o homem tinha sumido e também o pacote. Não se desesperou, calmamente apoiou as bicicletas, cada uma de um lado do corpo e foi embora, empurrando-as.
Agoniada, voltei para casa. Não conseguia pensar, andava de um lado para outro sem acreditar no que tinha visto.
Tudo nessa vida tem um preço, e sabia que o meu seria cobrado. Passei uma semana trancada em casa e sem conseguir dormir, quando fechava os olhos via seres (com aparência completamente humana e bonitos) que riam com deboche do meu desespero, mesmo com todas as luzes acesas.
Não estou pedindo para acreditarem, mas aconteceu comigo.
Um relato do extraordinário na vida da personagem. Uma história instigante – quem estava dentro do pacote? o que aconteceu com o rapaz que foi embora? qual é a ligação da personagem com as ondinas? em que momento aconteceu essa ligação?
Esse conto é, no meu entender, parte de uma história maior porque o mistério e a fantasia se misturaram para compor nosso imaginário agora.
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“Tudo nessa vida tem um preço, e sabia que o meu seria cobrado”. Não acho que seu preço será grande, afinal, você não fez nada de errado, só quis proteger sua Deusa. Quem sabe você não vá viver com ela e ajudá-la a proteger a natureza? Gostei! ABS ❤ ❤
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Deu-me calafrios só de imaginar o que tinha dentro desse pacote. Se a Deusa D’água achou justo levar o Homem e poupar o rapaz, o homem merecia. O rapaz foi apenas um surfista que foi pago para desovar um pacote, ele nem devia saber o que tinha dentro.
gostei do conto.
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Fiquei a pensar no que iria dentro do pacote, mas devia ser algo mau, uma vez que as ondinas vieram aplicar o castigo ao homem. Além disso fiquei-lhe grata por motivos pessoais: eu pensava que o meu conto estivesse excessivamente fora do chamado fantástico, mas se estiver já tem companhia, também achei que o seu pouco entrou nesse domínio e isso para mim foi agradável. Um abraço.
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Conto que se baseou no elemental das águas – ondinas. Muito interessante a criação das imagens no mar, seres que atenderam ao pedido da narradora e ao mesmo tempo foram a causa do seu pavor. Narrativa que se desenrola como uma “contação de causo”, o que torna o seu ritmo ágil e facilita muito a leitura. Quando me dei conta, o conto já tinha acabado e eu cheia de perguntas aqui. O que havia no pacote? Para onde foi o tal homem? E o rapaz, nem se incomodou com o desaparecimento do outro?
Parabéns, prendeu a minha atenção do começo ao fim.
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Olá Autora!Como disse a Cláudia, seu conto é quase um causo, acredite ou não, aconteceu comigo…rsrsrsr Isso instiga muito o leitor, porque o faz imaginar se aconteceu com a autora ou só com a personagem… depois conte pra gente 😉
Eu gostei bastante, é ágil, fluiu muito bem, não foi uma leitura cansativa, foi o exato retrato de algo maior, cada um que pense o que quiser, que resolva os mistérios como preferir! Muito bom! Parabéns!
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Querida Contista,
Mais uma conto lido e mais uma vez quero dizer o quanto estou feliz por participar desta dinâmica com todas vocês.
Vamos ao conto.
Adoro contos que falam de mar. Morei 2 anos em Itanhaém, à beira mar, e a experiência, para mim, foi incrível. Então, entendo bem sobre a sensação de mares revoltosos, cinzas, azuis, ressacas, calmarias… O mar me faz bem demais. A mim e para minha escrita. A proximidade com a água me inspira e, já que não tenho mais o mar, tenho muitas ideias no banho. rsrsrs
Seu conto traz um segredo não revelado. Aqui, há a caixa, há aquilo que a protagonista vê, e, fica a cargo do leitor decidir sobre o conteúdo da caixa. Este trabalho me lembrou um conto da Lígia Fagundes Telles, de que não me recordo o título, O Dedo, acho. Em situação semelhante, a protagonista encontra um dedo com um anel na praia.
Há muitas formas de se utilizar um segredo na escrita, contar ao leitor, mas não ao protagonista, esconder do leitor e depois revelar, ou, desta forma como você fez, deixar o segredo mantido, mesmo após a leitura. Gostei de sua opção. Na maioria das vezes, nossa imaginação pode ser bem mais interessante que aquilo que se detalha no papel. Não à toa, os livros são sempre mais interessantes para quem lê e depois assiste, não é?
Parabéns, Contista.
Espero que este seja mais um de muitos e muitos que compartilharemos.
Beijos
Paula Giannini
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A narrativa tem um tom policial e o foco de primeira pessoa deixa a impressão de que o narrador é testemunha de um crime, além de dar certa credibilidade ao caso apresentado. O pacote pode bem ser um corpo e ser desovado no mar.
As Ondinas funcionam na essência invisível e espiritual; como as marés, purificam as águas da Terra e as águas do corpo emocional de todas as almas. A água é o elemento da emoção, da intuição, além de ser essencial à vida e a narrativa trabalhou nessa mensagem com clareza e fluidez.
“As Forças da Natureza”, de Clara Nunes traz a mesma mensagem do conto: “Quando o sol, / se derramar em toda a sua essência, / desafiando o poder da ciência, pra combater o mal. / E o mar, /com suas águas bravias, levar consigo o pó dos nosso dias, vai ser um bom sinal.”
Parabéns pela ideia e construção do emocionante texto. Beijos. ❤❤
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Um conto cheio de mistérios que deixa o leitor com muitas perguntas sem resposta. O que havia no pacote? Qual a relação do homem e do surfista com ele? O que teria sido o fenômeno que levou o homem e pacote para o fundo do mar? O que vai acontecer com a narradora-personagem? Esse recurso do mistério que persiste sem solução para o leitor após o térrmino da narrativa realista mas com apelo ao fantástico, aproximou seu conto do realismo maravilhoso. Gostei dessa sua saída para a tarefa tão difícil para algumas de nós (eu inclusive) de produzir uma texto de fantasia. Parabéns pelo trabalho! Beijos.
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O tom intimista do texto, o mistério que envolve o pacote e os homens, a voz em primeira pessoa, tudo faz a história fluir. O narrador vai contar um caso, algo que ele presenciou, e já nos envolve a partir daí. O mistério do pacote e da relação entre os dois homens persiste até o fim, não interessa ao leitor, assim como não interessa ao protagonista. Só interessa a crendice nos deuses da natureza, sua culpa e o preço que vai ter de pagar mais cedo ou mais tarde. “Tudo nessa vida tem um preço, e sabia que o meu seria cobrado”. Será por ter permitido que o pacote fosse lançado ao mar como um sacrilégio a esse altar tão puro? Fica a pergunta. E o mistério. Muito bom, cativou a atenção.
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Olá, contista!
Conto jovial, uma menina e seu amor pelo mar e pela Deusa presencia um fato sobrenatural, daqueles que a gente ouve falar, e dá arrepio.
A deusa pune um homem cruel (imaginei que havia um cãozinho no embrulho ) , mostrando que suas águas não são bagunça ☺
Muito bom e direto. Gostei.
Obs: uma revisão e ficará perfeito.
Bjokas
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Querida Contista!
Obrigada por me propiciar mais uma leitura de um conto teu!
Esse desafio foi ótimo, né!? Adentramos em um mundo verdadeiramente fantástico!
Sobre o teu conto, adorei a atmosfera de desabafo sobre uma experiência real da personagem-narradora. Ficou muito interessante porque a dúvida do leitor é acreditar ou não na história dela, que pode ser fruto de medo, arrependimento ou um simples sonho.
Minha crítica, se permite, é a de que pode ser feita uma revisão no conto quanto à pontuação e alguns acentos. Nada demais.
Parabéns!
Grande beijo,
Sabrina
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Olá,
Um conto com uma pegada um tanto ingenua, no caso a personagem tem essa aura um pouco infantil acredito se tratar de uma menina. O conto instiga e o segredo do pacote não é revelado, mas dado ao fato de quem as ondinas puniram o homem boa coisa não devia ser. A narrativa é linear, bem simples e sem entraves. O texto curtinho foi bom nesse caso, pois o conto parece um ” causo” algo assim. rs
Parabéns.
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Menina do céu! Ou, nesse caso, menina da água! Isso não se faz com uma leitora curiosa como eu, hahaha, vou tecer mil hipóteses sobre o que tinha naquele pacote. Ou será que você faria o favor de desenvolver mais essa história com jeitinho de causo pra nós, hã? Quanto suspense! Parabéns, no mais só seria bom dar uma revisada.
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Fortíssimo!
Não dá pra não ficar agoniada!
Mas que cena linda dos seres se levantando da agua!!
Apesar da tragicidade é um conto belíssimo de comunhão da narradora com as forças da Natureza e isso por si só é enriquecedor.
Parabéns, Contista!
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Vamos tentar desvendar este mistério? Vocês podem acreditar ou não, mas este episódio se deu realmente comigo. Ou será que é fruto da imaginação de uma velha?
Com exceção das ondinas, que eu coloquei só para se encaixar no tema, tudo foi real. O que eu vi não foi ondinas e sim duas ondas enormes parecidas com mãos, elas se levantaram uma de cada lado do homem, desafiando toda lógica, e o afundaram. E sim, eu converso com meus Deuses, sempre. Talvez eu seja mesmo uma menininha no corpo de uma velha. A todas aquelas que me chamaram de infantil, vou dizer que adorei. Pena que não sei colocar figurinhas aqui, senão ia colocar um monte agora kkkkkk.
Aquele pacote tinha algo que o homem queria que sumisse, ninguém arriscaria a própria vida, entrando num mar que era um convite para a morte, só para se livrar de algo que não fosse extremamente acusador. Não pode ser lixo e nem mesmo um animal, pelo tamanho do pacote e seu formato, nada me tira da cabeça que era o corpo de uma criança.
Pelo que eu vi e deduzi, o surfista não sabia o que era, ele foi apenas alguém que deve ter sido pago pelo homem para fazer aquilo. Quanto a indiferença dele com o sumiço do homem, ele não devia ter ligação com o fulano e está acostumado com os desaparecimentos no mar.
E sim, eu fiquei mal, muito mal, mas não pelas razões que pensam e sim por me sentir responsável pela vida de um ser humano, mesmo ele sendo a pior escória da face da terra.
Eu tinha aberto uma porta e depois paguei por isso.
Passei uma semana vendo seres rindo do meu desespero, fiz e depois não aguentei e eles achavam graça nisso.
Mas o tempo passa e você começa a pensar melhor. Hoje eu penso que foi merecido. se minha Deusa atendeu o meu pedido aquele homem merecia mesmo.
Bem meninas, obrigada por lerem meu “conto”, e se tiverem alguma dúvida é só perguntarem.
Beijos a todas.
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História maravilhosa, Neusa! Que louco! Ainda mais sabendo que algo muito parecido com o descrito aconteceu mesmo com vc, amiga. E que perigo! Imagina se os dois caras tivessem-na visto? Super instigante, bem escrita e envolvente. Eu só queria saber o que havia dentro do embrulho, mulher, mas nunca saberemos, né? Sumiu no mar junto com o sujeito. Adorei, viu? Parabéns! Neste desafio vc veio para arrasar, beijos.
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