A Casa dos Mil Lamentos- Iolandinha Pinheiro

A primeira criança a sumir se chamava Pedro. Aconteceu numa tarde de agosto enquanto a sua mãe estendia os lençóis secos no varal para tirar o mofo. O vento estava forte e os tecidos leves voavam e cobriam seu rosto ao serem retirados do cesto. Um minuto de distração e  a mulher parou de ouvir as risadas do garotinho que corria pelo terreiro. Pensou, a princípio, que o menino tivesse entrado na casa. Chamou, gritou, procurou pelas veredas, bateu nas portas dos vizinhos. Nada.

O lugar era pequeno, todos se conheciam.  Alguns amigos formaram equipes de busca pela mata e outros procuraram pelas estradas vicinais. A última pista que tiveram da criança foi o caminhãozinho colorido que estava com o menino no instante do desaparecimento. O brinquedo foi encontrado próximo à margem do rio. Dois homens mergulharam na esperança de encontrar o corpo, mas nem sinal do Pedrinho.

Naquele mesmo dia, horas depois, foi a vez da caçula da dona Mirtes. Aurora sumiu enquanto brincava de esconder com as suas amiguinhas, perto da estrada. As buscas desta vez foram mais amplas. Carroceiros que passavam por ali ajudaram, procurando nos lugarejos próximos, sem sucesso. Foi assim que descobriram que crianças de outras vilas também haviam sumido.

Quando a terceira criança sumiu, o pânico já havia se instalado no lugar. Ninguém mais tinha liberdade de sair sozinho e havia sempre algum adulto de olho nos grupos de crianças que brincavam nas áreas comuns. Toda a vigilância, porém, não evitou que,  na semana seguinte, mais duas crianças fossem levadas, duas da mesma casa, a mais jovem, um bebezinho de apenas oito meses e sua irmã de dez anos.

Assim como os desaparecimentos iniciaram, também pararam por um tempo. A sombra da morte fizera suas vítimas, era hora de partir.

A quadra chuvosa havia passado e as rodas da carroça no chão poeirento produziam um ruído crocante e hipnótico. A menina e seu irmãozinho pareciam imersos no mais profundo dos sonos. Os dois dormiam serenos, embalados pela vibração das tábuas.

Naquela manhã um homem os havia sequestrado.

A mãe havia deixado os dois em casa, e saiu para lavar roupa no chafariz público. No fim da tarde, já perto de escurecer, o homem alto empurrou a porta. As crianças dormiam quando ele chegou. Um cheiro doce inundou todo o quarto e eles mergulharam no mundo de sonhos perfeitos, onde seriam felizes para sempre…

Ainda estavam na estrada quando Alice acordou. A menina olhou em volta para saber onde estava. O caminho era diferente de tudo o que havia visto. Galhos e folhas saídos das árvores que margeavam os dois lados do caminho, se arrastavam pela madeira da carroça. Eram vegetais estranhos com uma aparência túmida. Das folhas intumescidas gotejava um líquido espesso, betuminoso, de odor repulsivo. Quando o vento tocava as pesadas folhas e seus frutos, o som de um murmúrio vindo de mil almas sem consolo, enchia de tristeza o coração dos viventes.

 

Depois de uma série de curvas seguidas, cruzaram o portão de ferro carcomido e continuaram por um caminho bem aberto que os levou até uma construção antiga, em ruínas. A medida que se aproximavam, a vegetação se tornava menos exuberante, e a poucos metros da casa não havia mais árvores, apenas esqueletos retorcidos da vegetação morta.

Quando a carroça encostou na calçada da velha casa, a menina já havia saltado com o irmão no colo e estava escondida atrás de uma pedra. Alice viu o condutor apeando e batendo a capa que usava, para limpar a poeira. Viu quando ele os procurou no meio da palha com gestos bruscos. Então Felipe acordou. E chorou… A lua saía de trás das nuvens no exato instante em que o homem se virou na direção do barulho. A luz batendo diretamente sobre a sua figura revelou um medonho rosto sem olhos, os dedos longos terminados em garras e a boca sem lábios de onde saíam as pontiagudas presas. Antes que a menina pudesse fazer qualquer coisa, o monstro deu um longo salto e foi cair bem na frente de onde ela se escondia. Alice estava perdida.

Dentro da casa o piso era de tacos de madeira, mal pregados. No centro do cômodo havia uma mesa enorme com dez lugares, oito deles ocupados por crianças, dentre elas, algumas suas  conhecidas.

Alice não tinha onde se esconder, oito pares de olhos infantis viraram-se imediatamente para ela. Um dos meninos levou o indicador até os lábios, fazendo sinal de silêncio. O homem havia sumido com o bebê.

Uns trinta minutos depois ele voltou com uma grande travessa de onde saía a fumaça sinuosa de um ensopado. As crianças olhavam para o líquido, aflitas, enquanto o carroceiro, agora vestido como um mordomo, servia grandes conchas do caldo vermelho acobreado.

Em seguida a sineta que estava sobre a mesa foi tocada e a casa inteira estremeceu com o som de passos que se aproximavam, fazendo um estrépito apavorante.

Alice não estava preparada para o que viu a seguir: Da larga porta de folhas duplas, eis que surge uma criatura gigantesca e muito larga, com pés semelhantes às patas redondas de um elefante, a cada passo que o monstro dava pela frágil madeira do recinto, o assoalho ganhava novas rachaduras, trincando-se aqui e ali, como se fosse abrir-se em um enorme buraco, de repente.

As crianças à mesa seguravam as mãos umas das outras, tremendo… Alice olhava para elas e para o ser que se avolumava, se aproximando. Um monstro com aparência feminina,  farejando o ar como um animal faminto.

Do lado de fora, na estrada além do portão, as plantas se agitavam e frutos semelhantes a pequenos rostos verdes, bramiam seus lamentos para a noite.

A criatura sentou à cabeceira numa cadeira esculpida em pedra. Então estendeu a enorme mão sobre a toalha de linho, e puxou a travessa com o resto da sopa para perto de si. Em seguida meteu a mão dentro do caldo e retirou de lá uma coisa esférica, como uma grande batata corada pelo molho ferruginoso. Alice só conseguiu decifrar do que se tratava quando a “mulher” girou o alimento com as mãos e cravou os dentes em um dos lados, arrancando o pedaço com facilidade. Foi nesse momento que a menina viu as órbitas vazias em um rosto conhecido. Ali, cozido em seu próprio sangue e sendo devorado por aquela fera monstruosa, estava o que um dia fora a cabeça do seu amigo Pedrinho.

O grito da menina saiu de sua boca sem que ela pudesse contê-lo. O sequestrador e a mulher monstro voltaram suas faces bizarras para ela. Por um momento, Alice imaginou que seria estraçalhada ali mesmo, mas depois de alguns segundos os dois seres retornaram para a comilança, indiferentes.

No dia seguinte, dez pessoas sentaram à mesa, uma delas era Alice. Quando a enorme travessa foi trazida, a mão esquerda da pequena Aurora foi o primeiro pedaço de carne tirado do caldo grosso. Mais uma vez as crianças se recusaram a comer, mais um dia com fome, alimentando-se de frutinhas secas que caíam de árvores distantes. Alice pensava o tempo inteiro em uma fuga, só não havia concretizado  ainda porque não sabia onde o irmão estava.

Na noite do terceiro jantar, um menino foi escolhido, Alice sabia que era uma questão de tempo para que seus pedaços fossem devorados em um tétrico banquete. Precisava fazer alguma coisa. Após o repasto não saiu imediatamente do salão. Ficou num dos cantos torcendo para que os monstros não dessem pela sua presença. Viu quando a mulher elefante se afastou e o mordomo recolheu a louça. Já era madrugada quando o mordomo reapareceu. Pegou então um molho de chaves e saiu andado até onde as crianças estavam guardadas. Desceu a pequena escada. Sacou do bolso um embrulho com um pó brilhante com cheiro adocicado e o lançou no ar. Em seguida subiu com uma menininha no colo… A mais nova do grupo. Só não era mais nova que Felipe, seu irmão.

Não sabia o nome da menininha, era tão pequena que nem ela mesma saberia dizer. Ninguém das outras crianças a conhecia, e agora a sua pequena vida chegaria ao fim. Sem carinho, sem esperança, sem os cuidados da mãe.

Alice acompanhou o homem alto enquanto ele levava a criança para a pedra. A mulher – elefante já estava lá, aguardando. Colocaram o corpo adormecido na posição do golpe, mas, antes que o machado descesse sobre o delicado pescoço, a criança abriu os olhos e gritou. Os dois não esperavam por isso, a criança se agitava e tentava fugir. Por fim rolou o corpo e caiu no chão. Para evitar que fugisse, a mulher monstro pisou em sua cabeça esmagando o seu crânio e espalhando o seu conteúdo pelo chão.

Assim que as crianças acordaram elas se deram conta do sumiço da caçula. Aquela menina pequena e ingênua era o último resquício de inocência que havia naquela casa.

No meio da tarde um dos garotos se desesperou. Aproveitou que ninguém estava pelo quintal e correu para saída. Passou pelo portão de ferro e continuou correndo, à medida que avançava pelo caminho ia sentindo um forte abatimento. As plantas estendiam os galhos para impedi-lo e seus frutos gritavam escancarando as boquinhas de onde pingava uma baba verde. Até que o menino caiu.

Antes de conseguir se levantar, vários galhos se abaixaram até à altura de seu corpo e se enroscaram pelas suas pernas, puxando-as. Outro enlaçou o pescocinho delgado do menino apertando-o até que começasse a partir. Num ato final, o tentáculo de madeira arrancou a cabeça, trazendo junto a coluna vertebral inteira.

As crianças, enfileiradas no quintal da propriedade assistiram, perplexas, até que os pedaços foram arrastados pelas malditas plantas para dentro da floresta. Naquele momento Alice entendeu o motivo pelo qual as crianças não tentavam fugir da casa, apesar do portão sem cadeado.

O quarto onde as crianças dormiam agora tinha vários lugares desocupados, a iminência da morte enfraquecia o caráter, começaram a brigar entre si. Alice, por ser a mais novata, era o principal alvo das remanescentes. Uma noite as outras crianças a amarraram na cama para que fosse ela a escolhida. A menina tentava se soltar, mas a fraqueza causada pela alimentação escassa a impedia. No dia seguinte, porém, continuava viva.

Durante a tarde em que só restavam três crianças, viram o homem alto preparando a carroça e se encheram de esperança, Era terrível, mas o fio de humanidade que ainda havia dentro delas não conseguia deixar de se alegrar com a vinda de mais gado para o abate. Passaram o dia de vez em quando olhando para a estrada, tentando ver a carroça retornando cheia. Tentando adiar o inevitável. No refeição seguinte, olharam com indiferença mais um amiguinho ser devorado, e até aceitaram comer o pouco que colocaram nos pratos, sentindo mais nojo do que tristeza.

Na noite em que Alice dormiu sozinha no porão da casa, não teve sonhos. Comeu a sopa e roeu o braço da Maria laconicamente, nada mais importava. No dia seguinte, para sua surpresa, continuava viva. Correu até o pátio para ver se havia novas crianças, mas tudo estava tão igual a antes. Por que fora poupada?

Só quando a hora do jantar chegou  foi que ela conseguiu compreender: Sobre a mesa, bem assado e com uma maçã na boca, num arremedo de refeição de gente normal, estava um bebê gorducho com aparência apetitosa, seu irmão Felipe.

O cheiro estava ótimo. Comeu com gosto.

No dia seguinte o homem alto trouxe uma nova leva de crianças. Alice suspirou, aliviada. Com a chegada daqueles inocentes o risco dela própria virar refeição diminuía muito, mas não era inexistente. Sentia que os dois monstros a viam com uma criança especial. Assim como eles, não tinha mais escrúpulos em devorar cada jantar macabro que as demais crianças recusavam. Parou de dormir no porão. Se ajeitava nas poltronas de couro rasgado da casa e assim evitava que o homem alto a entorpecesse com o pó adocicado, mas sabia também que a melhor maneira de ficar indiferente ao sofrimento das novas vítimas era estar sempre distante.
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Muito longe dali uma reunião enchia o salão principal da igreja. Distribuídos em bancos rústicos, homens e mulheres dos povoados onde as crianças haviam desaparecido elaboravam uma estratégia de ataque.

Já há algum tempo descobriram o homem alto levando um órfão, e o haviam seguido até a floresta. Não conseguiram alcançá-lo a tempo, os que iam na frente morreram estraçalhados pelas plantas. Os que retornaram para suas vilas juntaram-se aos outros para resolver o que fariam. Uma ação era necessária.

Alice notou que havia algo errado. O homem alto chegou com apenas uma criança, quando o costume era trazer cinco ou seis.  Viu quando ele passou direto para a parte de cima da velha casa e demorou a voltar. Era tarde e a menina conduziu o menino novo para o porão onde ele se juntou aos demais.

Os dias seguiram tensos e silenciosos. Alice passou a ajudar na preparação dos jantares, e, lembrando das comidas que a mãe fazia, começou a introduzir ervas aromáticas nos assados e sopas, deixando a comida mais apetitosa. Dizia para si mesma que era a necessidade que a obrigava a isso, mas a verdade era que se deliciava com as sinistras iguarias.

Mais uma vez a carroça partiu. Alice calculou o retorno do  homem para dali a quatro noites. Mas ao amanhecer do segundo dia, antes mesmo de escutar o trote do cavalo chegando, era possível ver o céu tomado por nuvens de fumaça negra e ouvir os guinchos das árvores que se retorcendo entre as altas chamas que as consumiam. O dia do juízo chegara, afinal.

De dentro da casa, os urros da mulher elefante eram medonhos. Chorava como uma mãe pelos filhos, enquanto, na floresta, os frutos com rostos de bebê chiavam, estalavam, e explodiam sob a ação do calor extremo. Seus gritos de agonia eram como o som de mil lamentos.

Em pouco tempo a multidão chegou aos portões disposta a tudo. As crianças, trancadas no porão, gritavam desesperadas e esmurravam o alçapão lá embaixo. Alice olhava para o cômodo sem saber que atitude tomar. Mesmo sendo uma criatura gigantesca, a mulher elefante não conseguiu se defender por muito tempo. Foi arrastada até uma das árvores ressecadas do pátio e lá amarrada e queimada entre gritos insandecidos.

Algumas pessoas destrancaram o alçapão e tiraram as crianças de lá. Reuniram todas no centro do pátio para que pudessem ser vistas pelos pais e mães. Depois de atearem fogo na velha casa, todos foram embora.

Pelo caminho era possível ver o que restara da floresta, a carroça do homem alto e os restos dele no chão. A longa capa, balançando ao vento, agora era um trapo inútil sobre o seu corpo sem vida.

A mãe de Alice a conduzia para casa. A menina caminhava de cabeça baixa, havia muito para ser explicado, e muito mais a ser escondido.
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O quarto das crianças estava exatamente igual ao que era antes. Clarissa passara a dormir lá desde o sumiço dos filhos. A volta de Alice não aplacara a dor da mulher. Não tivera coragem para perguntar, mas, de alguma forma, o rosto devastado da filha era suficiente para que ela entendesse que haviam perdido Felipe para sempre.

Fizeram uma festa para as crianças sobreviventes. Distribuíram brinquedos, reabriram a escola. A passagem do tempo, panaceia invísível para as mazelas da alma, ia tirando o peso da tragédia de dentro do coração dos inocentes.

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Não demorou muito para que coisas estranhas voltassem a acontecer. Primeiro foram os animais pequenos. Desapareciam por algum tempo e depois as cabeças eram encontradas pelas valas da cidade. Quando a pequena Lúcia sumiu do seu berço, ninguém imaginou que pudessem ser os monstros canibais que haviam devorados seus filhos. Estavam mortos, afinal. No conselho da comunidade, um lenhador levantou a hipótese de que tanto os animais como a bebê tivessem sido levados por algum animal. Um lobo enorme que já fora visto por algumas pessoas na floresta.

Enquanto os moradores se ocupavam em caçar um lobo sobrenatural que devorava criancinhas, o verdeiro monstro agia livremente e estava faminto.

Alice estava sempre pelos cantos. A menina se recusava a voltar para a escola e quando a mãe a questionou, alegou que não conseguia mais ler os livros de estudo. A verdade era que desde o tempo em que estivera com os seus sequestradores, Alice percebeu que a sua capacidade de enxergar as coisas ia diminuindo a cada dia, em compensação, o seu olfato se tornava mais poderoso a ponto de conseguir separar cada ingrediente colocado nas sopas feitas pela sua mãe.

Outras crianças desapareceram. As buscas ao lobo gigante se intensificaram, especialmente depois do ataque à velha senhora que morava numa casinha no meio da floresta. Sua neta havia jurado ter visto um enorme lobo sobre ela. A roupa ensanguentada era prova suficiente para que os moradores pegassem suas armas e matassem todos os animais que encontraram pela frente.

Quando Alice sumiu, sua mãe já não tinha mais lágrimas para chorar. Já perdera o bebê para os monstros e a mãe para um lobo gigante. Resolveu que era hora de sair dali.

Contam que depois da partida de Clarissa a vila entrou em plena decadência. Seus conhecidos foram todos indo embora, e as poucas famílias que restaram foram morar na floresta e ganhavam algum dinheiro com a venda de lenha.

Eventualmente, algumas crianças ainda sumiam. A maior parte das pessoas acreditava que aquilo era obra do lendário lobo mau. Poucos sabiam que no fundo da floresta uma bruxa quase completamente cega atraía crianças para sua casa com cheiro de doce. No fim das contas tudo virou lenda, contos de fadas que as mães liam para que os filhos não fizessem travessuras.

Enquanto as criancinhas dormiam, uma irreconhecível Alice passava o pó  doce e entorpecente  nas paredes da casa de sua avó. Quem sabe no dia seguinte tivesse mais sorte…

 

27 comentários em “A Casa dos Mil Lamentos- Iolandinha Pinheiro

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  1. Mais um primoroso conto!! Poderia passar horas lendo suas histórias, esse jeito maravilhoso de envolver e contar uma história como se estivesse apenas relatando um fato acontecido. Afinal, a vítima se tornou a vilã, ou, no fim, continuou como vítima, amaldiçoada para sempre. Muito bom, Iolanda!!!!! Abraços! ❤

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    1. Querida Vanessa, muito obrigada! Vejo a sua evolução a cada vez que leio seus contos, mas ainda sinto falta de quando participávamos juntas de concursos de contos de terror. Sempre gentil, generosa, querida, além de ser uma escritora madura e criativa. A gente conhece pessoas na vida que nos fazem acreditar que a humanidade tem jeito, e vc é uma destas. Ainda vou dar um abraço pessoalmente em vc, querida. Beijos!

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  2. Fiquei realmente sensibilizada com essa história. Já li e reli, cada vez descubro mais sutilezas nas entrelinhas. O estilo poético e o tom de conto infantil faz contraste com a intensa crueldade da trama: a adaptação da menina às circunstâncias, a ponto de sentir prazer ao se alimentar com carnes do irmãozinho e ajudar os algozes, em um processo de desumanização.

    O cotidiano das crianças e suas famílias serve de contraponto ao dia-a-dia junto com os monstros e para o epílogo impactante, com Alice aceitando a nova vida. Enfim, m uma forte sequência de elementos aterrorizantes: desaparecimentos e maltrato de crianças (que sempre trazem uma comoção maior), monstros, floresta maldita (A cena em que uma das crianças tenta fugir e é impedida pela própria floresta ficou excelente.), além do canibalismo.

    A ambientação bastante detalhada e bem construída: aquela que cria o passado das crianças família; uma segunda em que ocorre a adaptação à casa dos monstros e a transformação gradual de Alice; outra, em que as crianças retornam para o lar, mas a monstruosidade da protagonista se confirma – uma releitura de João e Maria…

    Leitura prazerosa e fluida, com ritmo denso. Parabéns pelo trabalho de qualidade. Abraço amigo.

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    1. Fheluany! Vc já deve ter enjoado desta história, afinal a leu no DCTE, no CLTS e aqui neste projeto. Mas vc segue firme, forte e atenciosa. Muito legal receber visita de pessoas que gostam da gente, que querem nosso bem. Seus comentários me ensinam muito (além de me deixarem muito feliz). Parabéns mais uma vez pelo seu êxito no DTRL, o seu conto estava mesmo sensacional,, e quero ver seu nome novamente no pódio pelo dos microcontos. Abraço!

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  3. Ai,ai, você não poupou as criancinhas! Que conto mais viciante e ao mesmo tempo, angustiante. Logo percebi que a doce Alice não era tão doce assim e acabaria por se entregar a uma sina nada angelical. Cenas fortes, imagens precisas e narrativa bem elaborada. Não sou apreciadora de contos de terror, mas olha, esse me prendeu do começo ao fim. Culparei você pelos meus pesadelos. Beijos.

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    1. Olá, boneca! Colocar crianças em contos ou filmes de terror sempre é uma boa ideia, tanta no posição de vítimas quanto na de algozes, existe algo de inocentemente sinistro em personagens assim. Que bom vc ter gostado. Tenho uma grande dificuldade em escrever terror, porque exige elementos que não precisam estar presentes em contos de outros gêneros. Tem que ser criado mistério, algo que seduza e agonie o leitor e que cause nele a vontade de desvendar o que está acontecendo, além do necessário impacto que algumas (terríveis) revelações trazem ao leitor. Demoro meses criando, escrevendo, lapidando, modificando, até que a história me convença. Nem sempre funciona, e a principal causa do fracasso é a falta de criatividade do autor ( um problema que é muito meu). Obrigada pelas palavras, alguns autores falam que elogios não ajudam, mas eu acho que funcionam como um essencial estímulo para que a gente nunca desista. Beijos!

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  4. Olá Iolanda! Esse conto ficou muito sinistro. Criancinhas e canibalismo.A protagonista devorando com prazer o próprio irmão. Forte! A inspiração em contos de fada rendeu de uma forma bem interessante aqui. Vemos a menina Alice mudar de lado aos poucos por covardia, o instinto de sobrevivência tornando-a cínica. Como leitores nos inclinamos até a entender-lhe os motivos. Depois da reviravolta em que os moradores da cidade destroem a mulher elefante e o mordomo, é como se começasse uma outra história em que, já sem conflitos morais, a pequena Alice aceita sua segunda natureza e segue sua metamorfose em monstro. Pela riqueza de referências, a imaginação lisérgica e o ritmo dos acontecimentos da história, acho que você deve ter se divertido bastante escrevendo esse conto. De minha parte, digo que me diverti muito lendo-o. Adoro seu estilo, querida! Beijos mil.

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    1. Olá, linda Elisa. Assim como a Fheluany, vc é minha amiga de outros carnavais, né? E que bom que a nossa amizade continue esta coisa querida mas muito leve, sempre. Obrigada pela leitura do meu conto, foi uma tentativa de inventar uma origem para a bruxa de João e Maria e explicar que o lobo mau jamais existiu, apenas era uma despiste de Alice para que as suspeitas jamais caíssem sobre ela. Realmente foi uma construção interessante, e foi sim, muito divertido apresentar esta personagem com sentimentos contraditórios. Eu amo conto de fadas e acho que cada um deles tem algo de sinistro em sua execução. Estou muito sem vontade de escrever, moça, tenho dois concursos para participar e nenhuma ideia para fazer alguma história. Tem tempo que parece que a fonte seca, não é mesmo? Mas vamos para frente e se não rola inspiração, sempre podemos fofocar pelo msn. Beijos, sucesso e viagens!

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  5. Poucas pessoas têm esse dom natural de contar histórias. Não é necessário que seja memorável ou marcante, mas sim que seja envolvente, que absorva a atenção do leitor. É o caso aqui. O conto trata de crianças que são raptadas para servirem de alimento para seres horrendos. Quando são libertadas, uma delas, sofrendo de uma espécie de Síndrome de Estocolmo tardia, passa a agir como seus antigos captores. No fim, ela própria refugia-se na floresta, construindo uma casa de doces destinada a atrair os infantes incautos para saciar seu apetite.

    Ótima ambientação, ótimo desenvolvimento. Destaco aqui o final, até certo ponto inesperado, que nos faz perceber, só no arremate, que esta é uma história por trás da história, a história da bruxa de João e Maria. Gostei, gostei mesmo. Essa subversão do universo infanto-juvenil, dos contos de fadas, aproximando-o do terror ficou bacana. De fato, os contos infantis têm esse quê de horror embutido e creio que você, prezada autora, sabe muito bem como balancear e misturar esses universos.

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    1. Gustavo! Que surpresa agradável encontrar um comentário seu aqui! Melhor ainda é saber que vc gostou, mesmo que terror não seja o que mais lhe atrai em literatura. Muito boa a sua análise, realmente a Alice é a criança que um dia se tornou a bruxa de João e Maria. Não é a primeira vez que uso contos de fada como uma referência aos meus contos de terror, e, aproveito para dizer que João e Maria é o mais aterrorizante para mim. Estou querendo ler os excelentes contos que mandarão ao EC nesta etapa Terror e Infantil, prevejo que muita gente vai apostar em contos de fadas, tomara que esteja certa. Boa noite!

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  6. Querida Iolanda,

    Tudo bem?

    Seu conto é muito visceral. Ao ler, senti uma sensação quase física, imaginando as carnes das crianças sendo comidas.

    Você é uma contadora de histórias nata e hábil, e, já lhe disse isso dezenas de vezes, deveria ter seu livro publicado logo.

    Quanto ao conto em si, o que mais me chama a atenção é a inversão do papel da vítima, Lembrou-me uma teoria que muito me intriga, à que fui apresentada no livro “A cura do doutor Neruda para o mal”, e que explora a questão do abusado x a figura do abusador. No livro, o médico defende que crianças submetidas à extrema violência prolongada, tendem a se identificar com o agressor.

    Parabéns, Iolanda, sua vitória com este conto no concurso de terror foi mais que merecida.

    Beijos
    Paula Giannini

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    1. Obrigada, Paula, a melhor parte de escrever é quando a gente recebe um feed back fundamentado, feito por alguém que leu e entendeu as minúcias da trama, a intenção do autor. É assim que me sinto quando encontro um comentário como estes que vc faz em nossos contos. Tentei fazer um texto de fácil compreensão, porque sei que muitas vezes meus enredos com suas reviravoltas, ficam confusos e acabam cansando quem lê. Mas assim como nos meus textos, vc desce e se aprofunda nos trabalhos dos colegas escritores. Esta dedicação é algo raro e precioso. Parabéns por ser assim, parabéns por ser vc.

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  7. Tenebroso. Um conto para ser lido sem sentimentos. Tenho sérios problemas com histórias envolvendo crianças, mas me propus a ler do começo ao fim porque, cabe aqui um apontamento básico: o conto é seu. Não foi muito fácil aceitar a passagem de Alice de vítima a vilã, mas não é acontecimento raro em nosso dia a dia. Uma das coisas que me afasta muito da leitura de histórias de terror é o excesso de narrativa, o que não acontece com seu conto, porque, mesmo sendo narrado, sem diálogo – o que gera em mim um certo cansaço – a construção é muito cuidadosa e nos envolve aos poucos. Confesso que, sendo você a escritora, mesmo sacando o lance do banquete, me surpreendi como a narrativa; apesar de esperada, foi envolvente. Parabéns pelo conto! Um grande e carinhoso abraço!

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    1. Olá, boneca! Obrigada pela leitura e pelo comentário. Meus contos são mesmo bem perturbadores e eu entendo demais quando alguém fala que tem problemas pra ler o que eu escrevo, faz parte. Também concordo que a transformação de Alice na bruxa de João e Maria foi rápida, ficaria melhor lapidada e gradual se fosse um romance, e eu ainda vou investir neste formato que tem mais a ver com meu estilo de narrativa. Quanto aos demais apontamentos, Eu, simplesmente, abomino diálogos, tanto para ler quanto para escrever, o que é mais um defeito meu para ser trabalhado. Espero conseguir contornar estes percalços e poder um dia melhorar com escritora. O que importa é que, no conjunto, vc gostou. Vc é uma querida que eu amo. Beijos!

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  8. Por grande parte da minha vida gostei muito de terror. Mas depois, desde alguns anos atrás, outros gêneros começaram a me chamar mais a atenção. Não que não goste de terror, longe disso, mas comecei a encará-los de forma diferente. Eu comecei a ler o seu conto na época em que você o colocou aqui, mas não consegui nem chegar à metade, porque imaginei o que você narrou e isso me soou muito forte, muito trágico, muito perturbador. Mas hoje voltei aqui e consegui ler, mais friamente rs. Quanto ao enredo, continuou sendo perturbador, claro, imaginar toda essa situação. Um misto de tristeza e revolta pelo que aconteceu às crianças, inclusive à protagonista. Ao final, foi uma boa surpresa, jamais imaginaria. Precisei chegar ao último parágrafo para ter certeza a respeito da bruxa de João e Maria. E mais de meia hora depois de ter lido o seu conto, ainda estou triste pelas crianças… Parabéns! E só um adendo, a respeito do título: pra mim, ele não tem a força que deveria ter, que o conto tem. Sim, claro, tem a ver com a história, mas talvez outro, mais curto, mais frio, desse outro efeito. E agora fico por aqui, ainda com a imagem do bebezinho e do Pedro na mente, por um bom tempo. Valeu, moça! 😉

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    1. Acho que jamais deixarei de amar coisas de terror, sejam filmes ou histórias, sempre me parecerão fascinantes, mas entendo pois somos pessoas de fases e há outros gêneros fascinantes. Obrigada por ler, apesar do conto ter sido especialmente perturbador para vc, então só tenho a agradecer por estar neste grupo e ter leitoras tão preparadas e bacanas. Beijos.

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      1. Eu gosto do terror, ainda, mas me atrai mais os que não são tão explícitos. Se o seu conto fosse um filme, eu provavelmente viraria o rosto na cena do jantar, rs. Talvez do que eu goste mais seja do horror, levando em conta algumas classificações que colocariam “Os Outros”, “O Orfanato” e “A Volta do Parafuso” (talvez minha história preferida de horror, que originou um dos filmes de terror que eu mais gosto, “Os Inocentes”, 1963, eu acho) como tal. Mas eles também não poupam crianças, rs. 😉

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  9. Olá Iolanda. Como sabe não sou leitora de terror, mas algumas histórias infantis são tenebrosas e sempre gostei delas. Esta, muito claramente, remete para “A Casinha de chocolate” de Hansel e Gretel. Era a história que a minha filha me pedia todas as noites. Era sempre assim: depois das despedidas e já comigo à porta, com as histórias todas lidas ou contadas e preparada para apagar a luz num último “até amanhã, meu amor”, lá vinha o pedido da história da bruxa. A minha versão era bastante diferente da dos irmãos Grimm, pois nela eram os pais os piores de todos, mas os irmãos sempre arranjavam novas tropelias para escaparem da bruxa que os queria comer. Muito bem. Beijos.

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    1. Obrigada, Ana. Aqui chamamos esta história de João e Maria, e é uma das minhas preferidas. Que bom saber que vc gostou mesmo que o terror não seja o gênero literário que vc aprecia. Sua filha teve sorte, em ter uma contadora de histórias como mãe. Grande abraço e que tudo corra bem com sua saúde.

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  10. Olá, Iolandinha! Menina, que conto perturbador! Não vou dizer que é soberbo, não vou dizer que a sacada da vítima se tornar a vilã foi um toque especial, não foi dizer que as cenas de comida se superam por si só.
    Vou expor a sutileza desse conto de terror infantil que nos permite fazer uma nova leitura: de como a humanidade, com seus atos dantescos podem contaminar crianças ingênuas e indefesas. Crianças replicam o que lhes é ensinado e isso para mim foi o mais perturbador. Saber que os perversos de hoje foram um dia crianças inocentes que tiveram sua pureza condenada por algum adulto pervertido. Foi a isso que seu conto me remeteu. Sim, às vezes é uma natureza encoberta e latente, mas muitas vezes não, maus exemplos são facilmente reproduzidos e aprendidos. Isso é realmente perturbador. Muito bom, minha querida! Acertou em cheio!

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    1. Olá, querida Sandra. O objetivo principal deste conto foi criar uma origem para a bruxa de João e Maria, bruxa esta que na história original nem mesmo tem nome. Que jamais existiria se não fosse sequestrada pelo Homem Alto, uma espécie de vassalo da Mulher Elefante. Realmente, se eu tivesse mais espaço para escrever este conto poderia virar até uma novela. Quis deixar a transformação um algo palatino, sutil, mas acabei dando uma boa acelerada na trama. Que bom vc ter curtido. Como sou admiradora do seu trabalho, a sua opinião tem um peso diferenciado. Grande beijo e sucesso no desafio.

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