Para Inspirar – Os anões (Verônica Stigger)

Ele tinha a altura de um pigmeu, e ela batia na cintura dele. Os dois eram tão pequenos que mal alcançavam o alto da bancada dos doces. Ela dava saltinhos para tentar ver o que a confeitaria tinha de bom. Ele, mais circunspecto, espichava o pescoço, apontava o nariz para cima e aspirava fundo — como se pudesse, pelo olfato, identificar as guloseimas que o olhar não divisava. Os dois até que faziam um conjunto bonitinho. Não eram deformados, nem tinham aquele aspecto doentio característico de alguns anões. Pareciam tão-somente ter sido projetados em escala reduzida. Poderíamos sentir compaixão ou mesmo simpatia por eles, se não fossem tão evidentes suas graves falhas de caráter.

Não era a primeira vez que os víamos, e — pior — não era a primeira vez que os víamos tentando furar a fila. O casal se aproveitava da baixa estatura para, sem-vergonhamente, passar na frente das outras pessoas que esperavam por atendimento. Foi assim, outro dia, na farmácia. Os dois entraram no estabelecimento e foram direto para a boca do balcão, ignorando todos os que aguardavam pacientemente. Só não brigamos com eles porque não foi preciso. O balconista, desatento como sempre, não os percebeu e — bem feito! — nos atendeu primeiro.

Contudo, naquele outro dia, na confeitaria, a balconista não só os viu como, solícita como de costume, ofereceu um banquinho para que eles pudessem subir e enxergar os doces por cima da bancada. E não é que os petulantes aceitaram a gentileza dela e ainda tiveram o desplante de ficar indagando de que era feito cada um dos infindáveis docinhos? Nós, que até então aguentávamos quietos o comportamento acintoso daqueles dois, começamos a reclamar. Vai demorar muito?, gritei do final da fila. Nós não temos o dia todo para ficar esperando, meu marido acrescentou. E eles nem pestanejavam. Continuavam em cima do banquinho a perguntar sobre os doces e a pedir provinhas. Não deu um minuto e a senhora que estava na nossa frente berrou também: é pra hoje? Seu Aristides, que levava a neta pequena pela mão e se achava logo depois dos anões, ajuntou: escolham logo, seus imbecis! A mulher de cerca de 30 anos, que estava atrás de nós, arrematou: é, andem logo, seus moloides! Mas o casal, nem-te-ligo. Ele se lambuzava de provinhas de doces, e ela ainda limpava a meleca açucarada que se depositara nos cantos de sua boca minúscula com um guardanapo xadrez todo dobradinho.

A senhora à nossa frente comentou comigo que cruzara com o casalzinho outro dia no supermercado. Eles estavam com mais de 20 produtos nas mãos, e nas mãos mesmo, me disse ela, porque eles não usavam carrinho ou cesto. Acho que eles não alcançam nos carrinhos, e os cestos arrastariam no chão, supôs, pensativa, quase condescendente. Mas, exclamou em seguida, queriam passar pelo caixa para até dez itens! A moça do caixa ficou meio sem jeito de dizer para os dois que eles não podiam estar ali e começou a registrar os produtos, continuou a senhora, mas uma mulher grávida que estava na fila se enfureceu e chamou o gerente. E eles ficaram bem assim, sem falar nada, fez ela apontando para os dois com a cabeça. Eles são bem estranhos, né?

E lá estavam eles, mudos novamente. Seu Aristides, impaciente, elevou a voz: andem logo, seus merdas! É, acrescentou a senhora, vamos logo! E eu emendei: vocês deviam respeitar os mais velhos, pelo menos! Foi aí que a pequeninha se virou e me olhou. A boca minúscula ainda estava suja de doce. Ela piscou, passeou a língua pelos lábios e continuou a me olhar por cima do ombro, como se, até então, não tivesse percebido que estávamos todos ali, esperando. Que foi?, perguntei a ela. Tá olhando o quê?, falei ainda. E ela só piscava, impávida. Qual é a tua?, continuei, indo até ela. É, qual é a tua?, repetiu seu Aristides. Nisso, cheguei bem junto da biscazinha e a puxei com força pelo braço. Sua idiota!, disse. Ela estava em cima do banquinho. Com a minha puxada, desequilibrou-se e caiu no chão, de cabeça. Meu marido, que vinha logo atrás de mim, deu um empurrão no homenzinho, que parecia querer socorrer a esposa. Ele também se desequilibrou e caiu do banquinho. Ao se levantar, fez menção de revidar, e meu marido acertou-lhe um joelhaço no meio do rosto. O narizinho começou a sangrar. Seu Aristides veio correndo e deu outro joelhaço no rosto daquele tipinho, enquanto a neta de seu Aristides chutava-lhe a canela. O sujeitinho caiu no chão de novo, ao lado da mulher. A senhora que estava na fila passou a dar bengaladas nas cabeças e nas costas do casalzinho. Eu chutava, com muita vontade, a barriga da mulherzinha caída. Minha perna doía, mas eu continuava a chutar, sempre no mesmo ponto. A mulher de cerca de 30 anos se ajoelhou ao lado do casalzinho, pegou o homenzinho pelo pescoço e começou a bater com a cabeça dele no chão, várias vezes, até abrir uma fenda na parte de trás. Uma gosma espessa verde-amarronzada saía de dentro de sua cabeça e melava o chão. Nesse meio tempo, a senhora que estava na fila se concentrou apenas na mulherzinha: ela levantava a bengala e a baixava com força em seu rosto ensanguentado. Meu marido pulava em cima das pernas do homenzinho, enquanto seu Aristides chutava seu tronco. E a neta de seu Aristides, imitando meu marido, pulava sobre a barriga da mulherzinha.

A balconista, que até então estava quieta — acho que em respeito a nós, que éramos clientes assíduos da confeitaria —, interveio. Gente, disse ela, dá para parar com isso que a dona Sílvia vem chegando, estou vendo ela dobrar a esquina. Eu já estava cansada mesmo e parei de chutar o que já se tornara uma massa quase informe, vermelha. Arfando, fui lentamente me dirigindo à saída. Ao me ver sair meio cambaleante, meu marido também parou de pular e veio atrás de mim. A mulher de 30 anos, com a respiração também alterada pelo esforço, se sentou encostada à parede e pôs na testa as duas mãos com as quais batera com a cabeça do sujeitinho contra o chão. Ele estava transformado numa espécie de pasta de carne e sangue, com pequenos fragmentos de ossos desarranjando a uniformidade da mistura. A aparência de sua mulherzinha não era muito diversa. A senhora ainda deu uma última bengalada no que tinha sido um rosto, ajeitou o vestido, se apoiou na bengala e saiu. Seu Aristides, exausto de tanto chutar o homenzinho, parou e fez sua neta também parar. Vamos, querida, deixa isso aí e vamos embora, disse ele para a neta, enquanto a pegava pela mão. Já do outro lado da calçada, olhei para trás para cumprimentar dona Sílvia, que entrava na confeitaria, e vi a balconista, com um grande rodo, empurrando para um canto toda aquela sujeira.

***

Por que escolhi este texto?

Dona de uma narrativa instigante (e sangrenta), para mim, a força dos textos de Verônica reside em suas escolhas como autora. A escolha do narrador, do núcleo emocional da personagem narradora, bem como das palavras que utiliza para construir a trama.

Cheio de camadas, “Os Anões” traz uma narradora cuja maldade não aparece em suas palavras, mas, no modo como ela diz as coisas. Em contraponto, o mesmo ocorre com as vítimas da história que, jamais são defendidas pela escritora de forma explícita, porém, o modo como Stigger seleciona o que é dito, faz com que o leitor vislumbre a inocência dos que sofrem toda a violência intrínseca no conto.

Em tempos de “politicamente correto”, a narrativa nos faz pensar para onde caminha nossa sociedade. Mais que isso, como autoras, nos faz refletir no modo como as coisas são ditas. Sem pudores, sem falsas ressalvas, sem que o que está escrito precise realmente ser aquilo que parece ser.

Sobre a autora:

Veronica Stigger (Porto Alegre – 1973) é escritora, jornalista, professora e crítica de arte.  Formou-se em jornalismo, mas deixou as redações para dedicar-se à pesquisa universitária. É doutora em teoria e crítica da arte pela Universidade de São Paulo, com estudo sobre as relações entre arte, mito e rito na modernidade.

Vive em São Paulo desde 2001.

O trágico e outras comédias, seu livro de estreia, foi publicado primeiramente em Portugal, em 2003, pela editora Angelus Novus. Em abril de 2004, o livro foi lançado em versão brasileira pela 7Letras.

Depois de três livros de contos, lançou em 2013 seu primeiro romance, Opisanie swiata (“Descrição do mundo’, em polonês), que ganhou o Prêmio Machado de Assis (melhor romance) da Biblioteca Nacional de 2013, o Prêmio São Paulo de 2014, na categoria “melhor estreante acima de 40 anos”, além o Prêmio Açorianos de narrativa longa, também em 2014.

https://www.facebook.com/veronica.stigger.9

15 comentários em “Para Inspirar – Os anões (Verônica Stigger)

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  1. Oi, Paula! Que texto difícil de ler. A autora joga em nossas caras uma situação profundamente desagradável, revoltante mesmo. Linchamentos são atitudes de pessoas que se acham no direito de julgar, condenar e executar os outros, fiados no anonimato que as multidões proporcionam. Sou politicamente correta e tenho orgulho disso, a outra alternativa é ser um babaca que abusa dos outros e debocha da dor alheia, acho que faço a escolha certa quando me revolto contra injustiças. No texto até a única pessoa que é um pouco melhor que aqueles demônios – a balconista – não faz nada para impedir o assassinato do casal. Outro aspecto que também passou pela minha análise, foi a falta de paciência que todos temos e que ficou bem delimitada quando a narradora lista os motivos que fizeram o ódio explodir dentro da confeitaria. Eu até me vi revirando os olhos enquanto esperava a moça parar de bater papo com a caixa da farmácia há menos de um mês. Somos muito impacientes, somos muito emocionais, e precisamos parar e pensar sobre isso. O conto é muito bem escrito, a gramática impecável, o formato clássico de conto esteve presente em toda a proposta, mas, com toda humildade, eu só mudaria o comportamento dos pequenos, ficou um tanto antinatural o fato deles não reagirem, falando ou se defendendo. Abraços e parabéns pela excelente escolha.

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    1. Querida Iolanda,
      Tudo bem?

      Um dos motivos que me fez apresentar este texto, foi justamente esta sensação quase física que ele causa no leitor. Dá vontade de atravessar o papel e dar um soco na narradora.

      De certa forma, eu o consideraria um conto de terror, você não?

      Beijos
      Paula Giannini

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      1. Paula, no meu entender se encaixa melhor no gênero drama. Um drama angustiante e com elemento de suspense, mas não o encaixaria como terror.

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  2. O conto traz a questão social. Os personagens-protagonistas se aproveitavam da baixa estatura para “furar fila”; foi essa atitude que aborreceu as pessoas. Esse ato “sem-vergonha”, desperta uma descompaixão: ao invés de ajudar, os personagens acabam sendo violentos com “os diferentes”.

    O espaço é urbano, a ação acontece em uma confeitaria, com o narrador-personagem secundária ou testemunha de uma história que relata, em 1˚ pessoa. A ocorrência de situações não provoca qualquer revolta nos personagens ou no narrador, que constrói o relato, segundo o seu ponto de vista. O tempo é cronológico. Os personagens são anônimos, exceto Aristides, que provoca “xingamentos” e ações reprováveis na neta, a quem deveria transmitir um bom exemplo. Também a dona Silvia tem um nome, talvez em função de ser a dona da confeitaria.

    Quanto à linguagem, que vem, com eficácia, reforçar o conteúdo, chama atenção o uso do diminutivo –inho, pejorativo, como por exemplo nas expressões: “conjunto bonitinho”, “homenzinho”, “tipinho” e “casalzinho” para caracterizar os anões, anônimos, repudiados por uma atitude corriqueira. A ação dos personagens contra os anões é natural, como narra o autor, quando a única preocupação da atendente é com a chegada da patroa, e não com as consequências da violência em um lugar tão doce. A preocupação é somente com a sujeira causada. A escritora sugere, neste conto, uma reflexão diante da sociedade que cada vez mais se cala à frente de situações como esta.

    A narrativa retrata alguns absurdos, porém retrata com fidelidade fatos da sociedade em que vivemos, tais como a nossa falta de aceitação para com as diferenças e também o processo de manipulação dos fatos. Além disso, percebe-se o estresse causado pela correria cotidiana e a maneira como são utilizadas as válvulas de escape imorais, ilegais, e toda a raiva causada no dia a dia é descarregada de uma vez só. Enfim, a autora mostra um conjunto de situações para mostrar a crueldade delas e dizer que essas não são as atitudes corretas.

    Ótima opção, Paula! Um abraço!

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    1. Oi, Fátima,

      Você disse tudo, como sempre.

      Sabe o que me intriga aqui, na técnica de que a escritora lança mão? O uso do nós. Ela narra em primeira pessoa do singular, mas, para validar o que faz, traz o “nós”, de alguma forma, para mostrar que não está só em sua intolerância. Então, de certa forma, creio que, lá no fundo, ela sinta que faz algo de errado. Porém, isso, embora hediondamente errado, lhe causa prazer. Percebemos tudo isso, sem precisar lê-lo no texto. Isso não é maravilhoso?

      Quase todos os contos de Verônica que li, trazem este impacto forte, além de uma linguagem claramente trabalhada, com a lucidez de quem sabe o que quer fazer e causar em seu leitor.

      Beijos
      Paula Giannini

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  3. Interessante este texto, que a princípio me pareceu ser quase um conto de fadas, ou um conto onde o fantástico pudesse reinar. Anões são pessoas que chamam a atenção, isso é um fato. E esses do conto, além de pequenos pareciam ser até bonitinhos como gnomos de um lindo livro de ilustrações. Então, se no começo, achamos os pequenos uns folgados, ainda assim há uma aura de fantasia em torno deles. Com o desenvolver da trama, o conto de fadas se torna uma acelerada e angustiante narrativa de terror. Fiquei torcendo para os anões serem na realidade bonecos, robôs, ou até ETs. A autora retratou a expressão dos desejos animalescos que muitos reprimem por uma questão de civilidade, mas se pudessem, fariam aquilo mesmo: matar só porque alguém estava atrapalhando o andamento da sua rotina.
    Outra coisa que me chamou a atenção foi a narradora usar o Nós. Aí fiquei pensando: a narração está na primeira pessoa do plural?
    Muito bom o conto e um final surpreendente. Parabéns pela escolha.

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    1. Querida Cláudia,

      Exato.

      Escolhi este conto (gosto de tudo que leio dela) para exemplificar nosso primeiro exercício da oficina.

      Incrível como a primeira pessoa parece ser terceira no início e logo percebe-se ser primeira, porém, a narradora utiliza-se do nós para “lavar as mãos” do que faz. Então, aqui temos: “eles” são mal caráter, “nós” estamos sendo incomodados. Nós, e não apenas “eu”. Assim, sem precisar de descrições do tipo, essa personagem é má, ela se mostra má, falando coisas que, em sua loucura, parecem corretas. É um texto profundo.

      Beijos

      Paula Giannini

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  4. Uma escolha bem interessante, Paula. O conto narra o covarde linchamento de um bizarro casal de anões em uma confeitaria. Embora sem apelar explicitamente para o medo ou o sobrenatural, classifico como um conto de horror pelo efeito de repulsa que provoca. A intensão de causar repulsa aparece explicitamente no parágrafo que narra as agressões físicas ao casal e implicitamente no desconforto crescente do leito com a voz que narra o episódio.

    As matizes desse narradora me pareceram o ponto alto da história, como você ressalta no seu comentário sobre a escolha do texto. Curioso que até a narradora citar que tinha um marido, achei que se tratasse de alguém bem jovem, uma criança ou adolescente, pela linguagem. Então compreendi que ela na verdade era uma mulher tentando dissimular com uma linguagem infantilizada uma segunda natureza perversa. Não chega a ser uma narradora não-confiável, mas certamente tenta justificar suas atitudes com meias-verdades, ou não-verdades. Nisso de manipular os fatos narrados, resulta o efeito de nos deixar, leitores, na dúvida sobre ser ou não mau-caráter, de fato, o casal de pequeninos ou se a narradora assim os qualifica para melhor justificar a maldade. Embora a agressão seja iniciada pela narradora, ela habilmente insere na narrativa a ação de cada um dos figurantes da cena na barbárie, mais uma estratégia para “ganhar” o leitor e se justificar.

    A problematização apresentada no conto é contundente e muito apropriada para o momento estranho que estamos assistindo, o que torna a sua escolha desse texto ainda mais valiosa.

    Parabéns pela escolha!

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    1. Querida Elisa,

      Escolhi este conto, entre outros motivos, justamente por este trabalho com a personagem narradora. Ela “lava as mãos” do que faz, justificando-se na pretensa falta de caráter do casal atacado. Assim, a escritora constrói uma personagem extremamente cruel, preconceituosa, torpe, sem nos dizer isso. Quem diz é a personagem, através de sua fala.

      O mesmo ocorre com as vítimas. A anã olha-a com “aqueles olhinhos”. Não há nada que diga que de deboche, ou algo que o valha, ela apenas olha, “por cima do ombro”, e, assim, irrita os outros pelo simples fato de ali estar, de ser diferente. Um texto cheio de camadas.

      Beijos
      Paula Giannini

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  5. Li Opisanie świata e o livro é lindo, muito contemporâneo na linguagem! Foi um prazer enorme perceber como uma história aparentemente simples – sair de seu país para outro para encontrar o filho – carregava muitos sentidos do mundo através dos personagens inusitados, leituras diferentes enquanto percorrem a trajetória em trens e barcos. Esse texto, no entanto, passa longe da poética encontrada na ‘descrição do mundo’. Cheguei ao final com a sensação de estar lendo um realismo fantástico, mas não é bem isso. Também pensei em terror, porque os monstros existem e muitos se encontram em nós mesmos. Uma leitura incômoda, desestabilizante. Adorei! Obrigada por proporcionar-me uma leitura excepcional. Beijos e abraços carinhosos!

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  6. Dando um tempinho na correção das produções de texto, vim ler o conto que você trouxe para inaugurar o “Para Inspirar”. Outro dia eu comecei a ler, mas não passei da metade. Não imaginaria nunca que a outra metade do conto mostrasse tamanha crueldade. Foi a forma da autora mostrar, a meu ver, quantos monstros estão por aí, dentro de certas pessoas, só esperando uma brecha para fazerem o que quiserem com quem não tem condições de se defender, com as tais “minorias”. Viajei, será? Fiquei indignada, indignada com a banalidade com que a agressão aos anões é vista. Lembrei até da música do Chico: “Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”… o.O

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  7. Um texto que aborda uma situação cotidiana no que há de mais cru, o grotesco que é nosso e não dos anões, subvertendo o esperado e nos lançando nessa rotina de pequenos detalhes que nos envolvem no dia-a-dia, às vezes, sem nem mesmo percebermos. Magistral.

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  8. Gostei muito deste conto, que destila crueldade. A segunda parte, precisamente a da crueldade, pareceu-me exagerada, mas, sendo-o, não chegou ao inverosímil, ou seja, esta situação é possível.
    Apreciei a coragem da autora ao vestir-se de protagonista, sei bem como é difícil fazer isso, bem mais que fazê-lo num palco, o que também nem sempre é fácil. Mas quando se trata de escrever e se opta pela primeira pessoa, o autor cria aquele ser dentro de si, ainda que momentaneamente e tem de vivê-lo, tem de estar lá e ser e sentir aquilo – e aquilo é, por vezes e como neste conto, abjeto. Talvez por isso a autora optou pelo nós, dividiu responsabilidades, não foi a única, isso é importante. Foi importante aqui como seria ainda mais se sucedesse. Esta é uma daquelas situações que só são possíveis a coberto de uma cobardia partilhada pela justificativa do coletivo.
    Com grande mestria, no entanto, a autora conduz o leitor inicialmente a um sentimento de profundo antagonismo para com aquele odioso casal que tira partido fa sua diferença para ganhar ilicitamente vantagem sobre os demais, exibindo uma atitude quase provocatória, um não dito, mas bem explicitado “vá lá! Atrevam-se a desautorizar-nos, seus bandalhos. Nós somos anões, somos diferentes, somos minoria e como tal, vocês têm mais é que comer e calar ou já sabem as consequências de ser politicamente incorreto”. Penso que a autora não terá pretendido desmascarar apenas a crueldade das maiorias, mas também os abusos e absolutismos das minorias. E fez as duas coisas de forma muito adequada e séria. Parabéns a ela e a você, Paula, pela excelente escolha. Beijos.

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  9. Nossa, que conto forte! Violência gratuita, desnecessária e tão comum no nosso dia a dia, infelizmente. As pessoas acham-se no direito de julgar e condenar os “diferentes” por qualquer coisinha que fazem, e não percebem que estão fazendo pior. Um tapa na cara da sociedade!
    Bjs ❤

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