Para Inspirar: Maternidade (Kátia Muniz)

Quando uma mulher diz que optou por não ser mãe, eu respeito a escolha e não estendo o assunto com questionamentos ou ponderações. Nem todas nasceram para a maternidade. Carregamos o potencial de gerarmos a vida, mas nem sempre se tem a vocação.

Porém, a opção pela “não maternidade” deve ser pensada e repensada para que não haja arrependimentos futuros. Dizer “não” é uma escolha, desde que ela não venha acompanhada de culpa.

Faço parte da imensa maioria que resolveu procriar e se admirar com o balé mensal das transformações no corpo que a natureza é capaz de promover. Gerar foi uma decisão acertada e jamais me provocou um segundo sequer de arrependimento.

Gastei horas em pediatras, tentando fazer o bebê dormir, juntando brinquedos, fazendo sopinhas e alimentando, contando historinhas, ensinando a falar, a desfraldar, esperando que ele se esbaldasse em brinquedos infláveis.

Sou mãe, mas também sou realista. Admito sem nenhuma culpa que a maternidade é linda e é uma pedreira. E nunca gostei da frase: “Ser mãe é padecer no paraíso”. Quem disse isso? Deve ter sido alguma mãe combalida pelas frequentes noites mal-dormidas. Desconsidere esse mantra. Paraíso é outra coisa. As praias de Fernando de Noronha e da Tailândia encaixam-se melhor nos exemplos.

Na sala de parto, nascemos para a maternidade e enterramos quem um dia fomos. Há um nascimento e um luto, no mesmo momento, por mais controverso que isso possa parecer. Nunca mais seremos as mesmas.

A maternidade é uma viagem com passagem só de ida. Não há ex-mães. Uma vez mãe, mãe para toda a vida.

Seguimos na árdua tarefa de educar, sem nenhuma cartilha, nem manual de instrução. Levamos em conta a intuição, os mandamentos do coração e a voz da razão. Vamos orientando os caminhos, cimentando a base, tentando proteger a prole das intempéries da vida, assoprando machucados, explicando sobre as escolhas. É um looping de erros e acertos.

Depois de um tempo, o que nos resta é acompanhar de soslaio se eles assimilaram nossas orientações. Não há muito o que se fazer. A parte árdua do todo é a infância, é a formação do indivíduo. É aí que devemos prestar atenção, e intensificar os bons exemplos. Refletimos hoje resquícios do nosso passado. É só dar uma olhada para trás para entendermos melhor nossos comportamentos.

O que nos espera lá na frente será um olhar voltado para nós mesmas. Deixar a prole seguir sozinha, bater as próprias asas é sinal de que nossa parte foi cumprida, basta agora apreciar o voo deles, com o coração cheio de amor, que é a nossa fonte inesgotável.

Para inspirar – Por que escolhi a escritora Kátia Muniz?

Kátia é excelente cronista, de escrita fluida – delicada -, e ao mesmo tempo possui o dom de abordar os diversos assuntos de forma que chama à reflexão, desperta a capacidade, a vontade de pensar, de buscar um aprofundamento sobre o que está sendo transmitido.

Suas crônicas dizem muito nas linhas – e ainda mais nas entrelinhas, no que deve ser levado para além do óbvio.

A crônica Maternidade fala lindamente sobre esse momento único e eterno na vida da mulher, nos caminhos e descaminhos que serão percorridos nessa aventura deliciosa de ser mãe.

No mês de maio, més das Mães, é reconfortante saber que, conquistas profissionais à parte, de estarmos, nós, mulheres, ganhando o mundo, ainda somos “a mão que balança o berço e governa o mundo”.

Kátia, muito obrigada por abrilhantar nosso mundo Contista.

Beijos!

Biografia:

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas. Atualmente é colunista quinzenal do Jornal Folha do Litoral.

Contatos da Autora:

Facebook: Kátia Muniz – Crônicas

Email: katiacronicas@gmail.com

20 comentários em “Para Inspirar: Maternidade (Kátia Muniz)

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  1. Parabéns Katia! Isso me deixou muito feliz. Já falei que sou sua fã. Você escreve muito bem! Tem muita facilidade de passar para o papel, o que pensamos em dizer e não sabemos como. Lhe desejo muito sucesso. Beijo

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  2. Ah, sou mãe e este fato foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida, isso, no entanto, não faz de mim uma mulher melhor que as outras. Assim como sou contra o aborto, mas não tenho nenhum direito de julgar quem faz. Tudo na vida são escolhas e consequências, além de muita gente metida, querendo decidir a vida alheia. Oremos.

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  3. Li este conto como crónica que efetivamente é. Concordo com cada linha e está muito bem escrita, mas é uma crónica, sem dúvida. Está muito boa, mas não tem pelo que comentar – ou se está de acordo ou não. Estou, penso assim. Fico satisfeita por mais e mais mulheres não se sentirem acorrentadas a essa aparente obrigação de ser mães. Agradeço à Katia e, neste caso, também à Renata, por assim contribuirem para afastar esse estigma de tantas mulheres que se sentem culpadas pelas suas escolhas.

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  4. Oi, Renata,

    Muito boa sua escolha, uma crônica, ainda mais sobre a maternidade, algo que, de certa forma, nos tange a todas, ainda que algumas por aqui possam ter optado ou ainda não chegaram ao tempo de ser mães.

    Só tenho um recado para a Káthia… rsrsrs Filhos são de fato para sempre. E sempre é sempre mesmo. Quando crescem, tudo continua como antes, as preocupações, os medos, a torcida para que se saiam bem em suas escolhas. Sofri horrores quando meu filho se separou, preocupo-me com a saúde dos netos, a saúde deles, enfim… É, como a autora diz, uma escolha para sempre. Escolha que se faz, ou que a vida faz por nós, sempre bela, mas, realmente, por vezes muito doída.

    Obrigada por compartilhar conosco.

    Beijos
    Paula Giannini

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    1. Oi, Paula. Obrigada pela leitura e comentário. Sim, filhos são pra sempre. A gente não descansa nunca. Estamos sempre preocupadas com eles, independente da idade que tenham. Concordo contigo. Beijos.

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  5. Oi Renata! Ótima escolha, tanto pelo tema como pelo gênero. Variar é sempre bom. Pois bem, eu estou no grupo das que não tiveram coragem de ser mãe. Tenho uma lista de motivos pelos quais evitei a maternidade, o mais grave e dramático, o fato de minha mãe quase ter morrido por causa de uma infecção puerperal, chegou a ter morte clínica. Uma penca de pessoas – família, vizinhos – fizeram fila para me adotar, um dramalhão, lenda familiar de terror. Mas o sentimento que mais me bloqueava era o fato de ser um risco e um compromisso para a vida toda. A vida toda sempre me pareceu, e parece ainda hoje, tempo demais. Fora isso, tinha medo da gravidez, do parto, de não saber cuidar do bebê, enfim, um bloqueio total! É isso, amiga! Beijos!

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  6. Em família, sempre brincamos: “Filho é muito bom, mas dura muito”, que tem o mesmo sentido de “Uma vez mãe, mãe para toda a vida”. Esta crônica faz refletir bem sobre essa afirmação, ao tratar de acontecimentos corriqueiros do cotidiano e trabalhar com a opção de ser ou não-ser mãe.

    Leitura agradável, a leitora interage e se identifica com as ações apresentadas pela autora, como se estivessem em uma conversa informal. Texto curto e de linguagem simples, exposição dos sentimentos e a reflexão sobre o que se passa com a maternidade.

    Parabéns, Kátia, pelas palavras sábias e pela fluência com elas! Parabéns, Renata, pela ótima escolha! E, obrigada a ambas pela leitura prazerosa. Beijos.

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  7. Uma crônica estupenda que remete à reflexão. Há um trecho que saliento: Há um nascimento e um luto no momento que nos tornamos mãe, isso é de uma verdade atroz, quase visceral. Somos outras a partir do momento que um filho nasce. E , uma vez mães, mães para sempre. Tenho 3 tias que perderam seus filhos em idades diferentes, elas não se esquecem deles, elas não deixam de pensar neles em momento algum. Há uma ligação que perdura além da morte. Enfim, não quero me prolongar nisso porque ainda me emociono. Parabéns pela bela crônica!

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  8. Interessante ler uma crônica por aqui! Gostei do ponto de vista da autora, e concordo. Pra maternidade é necessário desejar muitoooo ser mãe, exatamente pq é algo que não tem volta, realmente para sempre. Nem sempre temos tempo para decidir isso, e a vida mesma se encarrega da decisão, mas o mais importante é que cada uma saiba de sua própria vida e assuma suas responsabilidades e não julgue as outras!
    Parabéns.
    Bjs ❤

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  9. Oi, Renata, gostei muito do texto, interessantes reflexões e concordo com a Kátia. Eu não sabia se queria ser mãe ou não, achava que devia esperar mais, sei lá até quando, mas acho que era o medo de não fazer as coisas certas, de educar de forma errada e criar seres que sofreriam, ou não seriam tudo o que eu gostaria que se tornassem… A minha família é meio complicada e não tomo muito como referência, não, essa é a verdade… Mas para a minha surpresa, de alguma forma, acho que eu levo jeito pra coisa, ahaha! Obrigada pela contribuição!

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