Ibraim abandonou o carro que apresentara problemas na estrada, e decidiu seguir a pé, sozinho, naquela madrugada fria e cinzenta, portando apenas uma lanterna. Já havia percorrido cerca de dois quilômetros, quando, em meio ao asfalto da rodovia, encontrou uma mancha enorme de sangue. Ele ajoelhou, conferindo que a poça de sangue que encontrara era fresca. O medo tomou conta do seu corpo magro, fazendo arrepiar todos os pelos do seu ser. Sua mente o incitava a correr dali. Quem quer que tivesse feito aquilo, poderia estar ali ainda, de campana, no mato. Mas suas pernas pareciam barras de chumbo, pesando e o impedindo de correr.
Tudo piorou quando ele sentiu uma gota de líquido cair sobre sua face e, quando a tocou, o cheiro ferroso se espalhou, manchando sua face. Olhar para cima era um risco enorme. Nem mesmo existiam arvores por ali, que cobrissem a estrada e pudesse explicar um corpo dependurado nos galhos.
Era um risco sem limites de tamanho, mas precisava corrê-lo.
Ele olhou para cima e tudo o que vira fora uma espécie de vulto. Um ser disforme, como uma nuvem negra. Mas, o ser tinha expressão, aquela que dizia que iria matá-lo, possuía também um par de esferas vermelhas, que deveriam ser os olhos e uma boca aberta, de onde pingava o sangue. Havia naquela boca uma fileira de dentes que lembravam a boca de um tubarão. O medo levou o corpo de Ibraim ao chão. Era como se a gravidade do mundo o tivesse espremendo naquele espaço.
— O que é você? O que quer de mim? — Ele tentava proteger os próprios olhos, para não mais ver a criatura. — Eu não tenho nada a lhe ofertar…
— Eu quero a sua alma! Ninguém percorre este trecho no meu horário, de graça. Sua alma é o preço por violar minha estrada à noite e sozinho. — Sua voz era estridente.
— Não! Minha alma você não terá. Nada em mim, pois antes que a leve, eu o derroto!
— Você nunca poderá me derrotar. — Ele zombou entre gargalhadas agudas.
— Eu não, mas o Deus que eu sigo e adoro o derrotará!
— Deus não está aqui, e não o defenderá — disse-lhe.
— Ele não abandona um filho, nunca. — Ibraim arrastou-se pelo chão, tomando distância do demônio. Ele fechou os olhos, ajoelhou-se e começou a orar silenciosamente.
Sua fé e sua oração tinham grande fervor e com ela, a forma demoníaca que ali estava, dispersava-se e desintegrava-se, diante de seus olhos. Ibraim, mais uma vez em sua vida, agradeceu a Deus, pois mais uma vez o livrou daqueles seres que o perseguiram por toda sua vida. E ele vira mais uma vez, o quanto valia ser um servo fiel. Quando abriu os olhos, pôde ver que a poça de sangue encontrada no asfalto, sumira.
As marcas do inimigo não se mostravam mais presentes, pois a força demoníaca jamais seria capaz de vencer a fé verdadeira naquele que tudo pode. Nenhum filho seria desamparado.
O inimigo voltaria, como sempre o fazia, em suas varias formas, e, quando retornasse, Ibraim estaria pronto outra vez. Lutaria grande batalha espiritual, e elevaria a sua fé e por crer estaria sempre amparado.
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PARA INSPIRAR: Escolhi a autora Mércia por ser uma pessoa que admiro muito. Começou postando no Wattpad e já tem livros físicos e e-books na Amazon. Mesmo diante das batalhas da vida, ela não desiste. Sobre o conto, já tive esta fé viva, hoje, não mais. Acredito que os “demônios” estão dentro de nós mesmos, sendo o principal deles, a mente.
BIOGRAFIA: Mércia Ferreira, Piauiense de berço, Graduada em Administração Pública, Pós graduada em Docência do Ensino Superior, autora de inúmeros livros e contos, apaixonada desde cedo pelas artes literárias, entregou-se muito cedo ao mundo das letras. Entre seus escritos estão Na Calada da Noite (romance policial) e A Casa dos Enforcados (conto), entre outros.
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Uma trama sombria e fascinante em que a fé predomina sobre tudo.
Pareceu-me uma leitura crítica que nos faz refletir sobre os estereótipos de gênero e as mudanças contemporâneas do comportamento religioso.
Interessante como a autora mantém o estilo e linguagem característicos do gênero: uso de monstros e simbolismo; o núcleo problemático existencial; a sequência clássica de estruturação textual (começo, desenvolvimento, fim) e a função básica de refletir sobre o bem X mal.
Realmente um texto inspirador. Ótima escolha, Vanessa. Obrigada pela leitura envolvente. Um abraço.
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EU ainda não tenho palavras para descrever a emoção que foi receber o seu convite, Vanessa Honorato! Ver esse conto dessa forma me traz alegria. Simplesmente amo ele, principalmente por falar de fé.
Só posso dizer OBRIGADA, de coração. ❤ ❤
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Quem agradece sou eu! Está convidada para nos visitar sempre! ❤ ❤
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Querida Vanessa,
Obrigada por nos apresentar a Mércia.
Beijos
Paula Giannini
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