Descobri Ana Claudia Quintana Arantes no YouTube, ao buscar vídeos sobre um tema que eu queria trabalhar com meus alunos, há uns dois anos. Fiquei impressionada com a maneira da escritora, médica e palestrante, tratar o assunto “morte” e ao mesmo tempo abordar sua antítese, a “vida”. Já fui procurar sobre algum livro dela e encontrei “A morte é um dia que vale a pena viver”, publicado pela editora Casa da Palavra. É um livro que desde o seu título provoca o leitor a pensar sobre o assunto de uma forma mais positiva. O que há de positivo em se saber que está para morrer? O que você preferiria? Saber a verdade, ou ser poupado?
Ana Claudia, como médica, sempre se preocupou com o que via acontecer: pacientes terminais sendo tratados como “caso encerrado”, recebendo um cuidado paliativo que talvez nem devesse ser chamado como tal. Ela também ouvia uma frase bem clichê de colegas de profissão que diziam querer trabalhar nessa área de cuidados paliativos: “Quero cuidar de pacientes terminais, evitando o quanto possível o sofrimento”. Já para a autora seguir esse caminho, o motivo foi outro: ajudar seus pacientes a viverem, da forma mais digna, até o último instante. Sem tratá-los como coitados, sendo extremamente sincera e cuidadosa na sua rotina de atendê-los.
Afinal, todos temos que viver nossas vidas desse jeito, da forma mais digna possível e não sabemos quando a morte chegará. Por isso, na verdade, o assunto do livro é sobre vida. O que somos nessa vida que temos? A vida é feita de histórias, todas as vidas. Qual é a sua história, como você a construiu? Tem a ver com aquela máxima do legado que você pretende deixar para aqueles a quem você quer bem e com isso também se fazer bem, até o dia em que a tal da indesejada das gentes, como dizia o poeta, não tiver outra alternativa a não ser nos buscar, simplesmente porque já vivemos o que deveríamos e assim fomos até o final, e não por estarmos fadados à morte.
O livro ganhou outras edições, a que tenho é a primeira, de 2016. Em 192 páginas, Ana Claudia usa de uma prosa fácil e emocionante, que nos captura, entremeada de frases de Clarice Lispector, Adélia Prado, Fernando Pessoa, Rainer Maria Rilke, entre outros, traçando um paralelo entra a frase de abertura e o conteúdo de cada capítulo, como por exemplo a frase “Tudo deve estar sendo o que é”, de Clarice Lispector, abertura do capítulo intitulado “As nossas mortes de cada dia”. Um trabalho editorial bem sensível e nada apelativo.
“Não se discute como cuidar de uma pessoa na fase final de doença grave e incurável. Os professores fugiam das minhas perguntas e alguns chegaram a dizer que eu devia fazer alguma especialidade que envolvesse pouco ou nenhum contato com pacientes. Diziam que eu era sensível demais e não seria capaz de cuidar de ninguém sem sofrer tanto quanto meus pacientes, ou mais. A graduação foi o tempo mais difícil da minha vida, sem dúvida alguma. Ao final dela, escolhi a geriatria. Pensei que, se cuidasse de pessoas mais velhas, talvez viesse a encarar a morte de uma forma mais fisiológica e natural. […] Prometi a mim mesma: ‘Eu vou saber o que fazer.'” (p. 26)
“Quando estamos perto da morte, aquilo com que nos deparamos é um muro. Um grande amigo, Leonardo Consolim, uma vez disse que imagina esse muro muito alto e comprido, como a muralha da China. e eu gostei dessa imagem, é com ela que me relaciono quando penso na minha morte. Não tem como dar a volta, não tem como escalar. E quando nos deparamos com esse muro e tomamos consciência da nossa morte, a única coisa a fazer é olhar para trás. Então, quando estamos diante da morte de uma pessoa, que fique bem claro para nós: aquela pessoa está olhando para o caminho que percorreu e tentando entender o que fez para chegar até ali – e se aquela viagem valeu a pena.” (p. 100)
No site Frases e Livros podem ser lidos trechos do livro, como:
“O medo não salva ninguém da morte, a coragem também não. Mas o respeito pela morte traz equilíbrio e harmonia nas escolhas. Não traz imortalidade física, mas possibilita a experiência consciente de uma vida que vale a pena ser vivida, mesmo que tenha sofrimentos aliviados, tristezas superadas por alegrias, tempo de beber para celebrar, de fumar para refletir, de trabalhar para realizar-se. Mas tudo na medida boa, na medida leve.”
Compre o livro: e-book na Amazon.
Muito boa a resenha, e o livro parece muito interessante. Legal saber que existe essa preocupação com um tema tão sensível e importante.
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Obrigada, realmente, é algo com a qual na maior parte do tempo não pensamos, mas que é bom refletir sobre o que fazemos dessa nossa vida…
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Querida Bia,
Sei que esse livro marcou muito você, pelo tanto que fala dele. Pretendo ler em breve. rsrsrs
Parabéns e obrigada pela bela resenha.
Beijos
Paula Giannini
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Um livro que me ensinou muitas coisas. Essa semana estará indo pra você. 🙃
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Muito boa a sua resenha. Assunto sempre instigante a Dona Morte.
Assisti a um vídeo no YouTube, uma conversa entre a médica Ana Cláudia Quintana Arantes e a professora de filosofia Lúcia Helena Galvão, da Nova Acrópole. Gostei muito. Segue o link para quem se interessar.
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Estou desenferrujando nas resenhas, Claudia! Até fazer a do seu livro estarei craque! Vou ver o vídeo, com certeza. Obrigada!
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Adoro ler resenhas, é como assistir um trailer de um filme e ao mesmo tempo ler a crítica fundamentada de alguém que sabe o que está falando. Esta sua resenha funciona como um estímulo para quem a lê. Faz com que o leitor fique com vontade de ler a história.
Parabéns pela escolha. Sempre espero coisas inteligentes vindas de vcs e nunca me decepciono.
Beijos.
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Obrigada pelo comentário! Aprendi a gostar de escrever resenhas e lê-las também. Eu tento me policiar para não exaltar demais o que leio, é um bom exercício. Difícil é resenhar se não gostar da história, o que ainda bem nunca tive que fazer…
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Não li o livro mas pelos trechos apresentados pareceu-me um relato franco, sensível e inspirador da experiência de médica cuidadora de quem está morrendo; para o leitor “uma lição de coragem e empatia”.
E você, Bia, emitiu claramente sua opinião sobre a obra: a produção é surpreendente e sensibiliza o público desde o início; soube influenciar a escolha do leitor. Despertou, ao menos, o meu interesse incondicional.
Parabéns pela concisão e objetividade do texto! Esta abordagem descreveu o livro de forma inteligente e enumerou os aspectos relevantes sobre ele. Abraços!
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Obrigada pela leitura e comentário, Fátima. Acho que o que mais gostei da leitura foi o tom que ela usou, como se fosse uma conversa e nada derrotista ao falar do assunto.
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Como comentário à sua resenha, reproduzo os versos do poeta português José Tolentino Mendonça que li hoje pela manhã.
Diz-me se é certo
que o tempo
é um único olhar
prolongado nos dias
se a vida é o avesso da vida
e se há morte
Achei sua resenha modelar. Fala da autora, do conteúdo do livro e do seu aspecto, traz citações e convida sem exageros à leitura. Quem sabe me inspiro nela para produzir alguma resenha para o nosso blog.
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Oi, Elisa, que lindos versos! Eu gostei muito desse livro e da autora, que li e que também assisti em vídeo. Simpatia à primeira vista. Fazia tempo que não escrevia resenhas, já escrevi muitas e acho que o meu defeito é ser sentimental demais, então tento seguir um “esquema”.
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Parece um livro para digerir aos poucos. E a resenha deu a exata direção da escrita da autora. Uma resenha bastante objetiva e clara, sem entrar na emoção da leitura – o que eu não consigo. Se amo o que leio, fica impossível me desligar e ser concisa em qualquer apresentação de livro.
Abraços carinhosos.
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