À ESPERA DELE – desafio – Claudia Angst

Esperava por ele, ansiosa, quase febril. Desejava apenas se acomodar entre os dias. Vigiava as horas fazendo atrito entre os ponteiros. Voltas e voltas de interrogações. Mas sabia que ele viria conforme o prometido.
Ela sempre sorria assim que ele se anunciava, logo ao amanhecer ou nos momentos mais tardios. Ele vinha, chegava e se instalava. Só por um dia, dizia. Só por um dia, nada mais. E ria dos medos, mas aplaudia os sorrisos. Nunca deixava de vir. Podia contar com ele até o fim. O seu fim. E os números seguiam em crescente escalada, uma silenciosa sintonia até o horizonte se fundir ao nada. Já haviam vivido muitos momentos juntos, compartilhado tantas cores e algumas dores, que a cumplicidade fazia-se evidente. Ele viria mais uma vez, silencioso e carregado de promessas. E ela novamente sorriria.  Sim, ele a fazia feliz. Sempre. Para sempre. Mesmo nos tempos mais difíceis, ele cumpria o juramento. Enquanto ela vivesse, ele viria. O seu aniversário não tardaria.

11 comentários em “À ESPERA DELE – desafio – Claudia Angst

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  1. OI, Claudia, que lindo o seu poema. Muito boa a ideia de usar os ponteiros do relógio de forma tão linda e poética para falar da passagem do tempo, da espera durante esta passagem. “Vigiava as horas fazendo atrito entre os ponteiros” – gostei muito desta frase. É um poema muito sensível, que fala de amor. Infelizmente eu já imaginava o final e não fui surpreendida, o que não é um problema, pois o conto é muito bom. Parabéns.

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  2. O amor amolece. Pode ser que ele banque pacotes completos para a fantasia, com tudo incluso, inclusive planos para um futuro breve e leves poemas, cadenciados como este aqui.

    Parabéns pelo texto Traz uma carga poética invejável e inegável. Gostei muito da expressão: “E os números seguiam em crescente escalada, uma silenciosa sintonia até o horizonte se fundir ao nada.” Ficou de arrepiar. Todas as suas descrições são precisas e ótimas e o final é maravilhoso.

    Parabéns pelo trabalho sensível. Um grande abraço.

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  3. Para mim esse “ele” é o próprio tempo, a contagem dos anos, o aniversário que vem, não importa se queremos ou não. Talvez porque acabei de fazer 30 anos no último dia 4 e ainda estou sensível pelo não desacelerar do tempo, rsrsrs. Mas foi isso que tocou em mim “Enquanto ela vivesse, ele viria”, esse tempo que não se sabe se é amigo ou inimigo, todavia, não deixa de vir. Bjs ❤

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  4. Que linda prosa poética enigmática 🙂
    Comecei achando q era o sol, depois o dia.. afinal o dia dura apenas um dia.. rsrs
    Mas é o aniversário, não diga q me enganei.
    Apesar da passagem do tempo, há quem ame aniversários!! kkkk
    Muto competente com as palavras sempre, Claudia
    Parabéns

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  5. Adorei, Claudia. Os aniversários sempre vêm, até o fim, Carregados de promessas, boas sempre porque promessas. Gostei da forma enigmática como você construiu seu texto. Também das imagens, metáforas e, como sempre, da melodia da sua prosa. Ótimo texto. Parabéns!

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  6. Querida Claudia,

    Um conto em um só parágrafo, prosa poética da melhor qualidade.

    À espera do aniversário ela vigia… É interessante notar que o tempo não cessa. Ela passa inexoravelmente através de nós, ou, quem sabe, nós através dele, a data que marca essa passagem, no entanto, é simbólica no sentido de ser tornar mais palpável. Aqui, ele é o amor pela vida, ao menos para mim assim pareceu.

    Parabéns.

    Beijos
    Paula Giannini

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  7. Tempo, tempo, tempo, tempo… Amigo das “horinhas de descuido”, inimigo das esperas. Mas sempre vale a pena deixar o tempo passar, comemorar os aniversários, nossas vitórias e derrotas, aprender a cada volta do relógio. Muito bom, Claudia! Parabéns!

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  8. Ah, Claudia, que conto mais lindo ❤
    Doce, suave e muito você, nesse mergulho no sentimento, tão humano, mas de uma maneira mais profunda e reflexiva, no tocante ao que é, de fato, importante nessa vida…
    Lindo, lindo!!

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  9. Olá Claudia,
    Esse conto é muito sensível e lindamente escrito.
    Esse “ele” pode ser um amante, mas pode também ser um pai, desses que aparece uma vez ao ano.
    Triste e belo.
    Um beijo,

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  10. Um poema derramado em prosa. Instigante e sedutor. Não no sentido sexual da coisa, mas em nos conduzir suavemente como se não mandássemos em nós mesmos. Muito lindo, Claudinha. Parabéns

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