Um estranho (apenas de cuecas), no seu sofá da sala, bebendo sua cerveja, assistindo futebol pela sua tevê?!!
Com esforço e olhos esbugalhados, ele conseguiu perguntar:
— Cadê minha mulher?
— Está na cozinha preparando um tira gosto — (Mostrava uma naturalidade desconcertante).
Foi conferir: a mulher de roupão, cortava queijo em cubos e dispunha-os na travessa já coberta por salaminho e azeitonas. Pretas, verdes. Cuidadosamente. (Nunca havia preparado o que quer que fosse para ele, seu próprio marido!)
Ela não levantou os olhos, mas ele supôs divisar a ameaça de um sorriso nos lábios dela. Azeite. (Tranquila.) Orégano. (Sensual.) Gotinhas de limão. (Brilho nos olhos). Ela, que sempre implicou com o futebol, com a cerveja, com os vizinhos, com a empregada, com a sogra, com tudo enfim, estava em paz. Indiferente às consequências de seus atos.
Ele, então, alheio a tudo aquilo, abriu a geladeira, pegou uma latinha e encaminhou-se para a sala. Sentou-se no outro lado do sofá e atento ao jogo de futebol, abriu a cerveja e permaneceu em silêncio.
O silêncio de quem entendia a essência de algo. Lá estava um ser superior.
Sim! Muitas vezes um susto assim grande .. hehe nos faz atingir um grau de compreensão nunca dantes experimentado 🙂
Gostei do seu texto, Fátima!
Muito bem escrito, dá gosto de ler
❤
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigada pela leitura, comentário e estímulo. Beijos.🌹
CurtirCurtir
Quem seria esse invasor tao confiante? Talvez uma versão do próprio marido? Alguém que ainda desperta o interesse da mulher que, com prazer, prepara uma travessa de tira gosto. Note-se aí a ironia = tira gosto para quem lhe devolveu o gosto? Uma porção de sabores e cores, oferecida como recompensa.
Muito interessante restar ao marido – vivendo uma epifania – apenas a opção de se conformar com o outro lado do sofá, dando lugar ao sujeito de cueca. Bobeou, perdeu o posto para um ser “superior”.
Texto muito bem escrito, com camadas de imagens e simbologias que se intercalam com incrível habilidade. Parabéns!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Grata, Cláudia. Sua opinião é importante para mim. Beijos. 💖
CurtirCurtido por 1 pessoa
Uma epifania em toda a sua essência. Meu Deus! Curto, convicto, seguro. Amei, amei, amei! As situações são loucas mas a conclusão deu cabo de quaisquer dúvidas. Um conto fantástico e super inteligente. Parabéns, querida.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Beijos pela sua simpatia e estímulo. Obrigada!
CurtirCurtir
Dizem que quem vai ao vento, perde o assento, mas a compreensão da impotência diante da excelência foi o ponto alto dessa narrativa. Conformar-se, talvez e só talvez, seja o passo para a felicidade.
Parabéns pelo texto.
Beijos e abraços carinhosos.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Perdeu o assento mesmo, hein, Evelyn! Obrigada ! Sua opinião é valiosa para mim. 💖
CurtirCurtido por 1 pessoa
Muito bem sacada a coisa da epifania. O choque foi tanto que o marido “pulou” etapas e atingiu rapidinho a iluminação. Mas a luz veio mesmo do brilho nos olhos da esposa. A cena é ótima: “Ela não levantou os olhos, mas ele supôs divisar a ameaça de um sorriso nos lábios dela. Azeite. (Tranquila.) Orégano. (Sensual.) Gotinhas de limão. (Brilho nos olhos). ” Vai construindo degrau por degrau a perplexidade do marido até o clímax/epifania. Muito bom, Fátima. Adorei!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigada, Ju! Gentil e simpática você é.
CurtirCurtir
Que conto incrível, Fátima. Um homem inteligente e que sabe o que quer, o melhor personagem do desafio. Pulou etapas e alcançou a felicidade em um piscar de olhos. A narrativa é precisa, a situação insólita causa um estranhamento sob medida no leitor e o final foi um achado. Parabéns, querida. Ótimo texto.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigada, Elisa. É uma delícia trabalhar com o insólito. Beijos!🌹🌹
CurtirCurtir
Ótimo conto, Fátima. Muito bem escrito, interessante, divertido. Fui fisgada logo de cara e adorei. Só fiquei um pouco confusa com a escolha pela palavra alheio em “Ele, então, alheio a tudo aquilo…” pois ele não me pareceu alheio. Seria ele mesmo vindo da sala pegar a cerveja? Uma forma de nos fazer ver que eram os dois a mesma pessoa? Muito legal o final rsrs. parabéns.
CurtirCurtir
Obrigada pela leitura e comentário. Sua opinião é muito importante para mim e possibilita uma edição mais acertada. Pensei assim ao optar pelo termo alheio: ao perceber a mudança da mulher, para melhor, personagem se tornou alheio ao ato de traição; ele percebeu sua impotência. O que acha?
Um grande abraço.
CurtirCurtir
Querida Fátima,
Ótimo texto, bem ao estilo de Luiz Fernando Veríssimo! O que, de certa forma, aproxima a narrativa da crônica. Se por um lado, nos deparamos com um conto de realidade fantástica, por outro, este é um conto tão verossímil quanto nossa realidade brasileira, cheia de peculiaridades quase inacreditáveis.
Muito bom, parabéns!
Beijos
Paula Giannini
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigada, amiga! Sua opinião tem valor inestimável para mim. Beijos.
CurtirCurtir
Oi Fatima,
Eu adorei, o título foi muito bem desenvolvido com o conto.
Esse marido tendo de em tão pouco tempo compreender e se contentar que foi trocado por outro, um outro mais digno de respeito, sensualidade, cuidado e atenção por parte da esposa… foi muito bem construído. Eu adoro esse pé no absurdo, no insólito, adoro!
Beijos
CurtirCurtir
Grata pela leitura e comentário tão simpático. Gosto muito do absurdo, mas falta coragem para explorar mais. Beijos.
CurtirCurtir
Oi, Fatima!
Que conto fantástico, escrito com maestria e de uma inteligência ímpar.
Seria o ser superior o próprio marido? Certamente.
Estaria a mulher, pelas palavras escolhidas enquanto preparava os tira-gostos, tentando recuperar um casamento perdido em meio ao tédio?
A epifania vem do marido, constatando que tem um baita mulherão, com ele….amei seu conto!!
Beijos!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Um conto bem aberto, hein? Gosto muito do ambíguo. Aprendo muito com vocês, apesar da idade minha. Obrigada pelo encorajamento. Beijos.
CurtirCurtir
Quem encontrou a epifania? Ele ou a esposa, que enfim deixou de reclamar, ou ela encontrou um outro marido, que mesmo fazendo as coisas do ex, a deixava tão feliz ao ponto dela querer agradá-lo, ou talvez seja um sonho dele, apenas, rsrsrs. Deu um nó na cabeça, mas ainda acho que era apenas um sonho dele hahaha. Bjs ❤
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigada pela leitura e comentário.
“Quem encontrou a epifania?” Vai saber, a vida é assim cheia de mistérios. Beijos.
CurtirCurtir
Olá, Fátima!
Seu conto é dos mais instigantes. A cena é do nosso cotidiano, um jogo de futebol e a mulher que prepara um tira gosto, mas a maior sacada é a ambiguidade no final. Vejamos. O marido não está só na sala. “Está na cozinha preparando um tira gosto” é dito pelo visitante, assim eu entendi ( e me corrija se eu estiver errada!). Ele percebe que a mulher nunca preparou uma bandeja dessas para ele antes, então ela prepara para o visitante e, ao final, ele reconhece que ” Lá estava um ser superior”, o marido diz respeito ao visitante e não a esposa ou a ele próprio. Enganei-me? E aí está a maestria, o final aberto dá margem a mil interpretações. Muito legal! Adorei! Parabéns pela bela sacada!
CurtirCurtir