A Fábrica de Sonhos
Está fechada.
Inimaginável, diziam alguns, os mais otimistas, que foram pêgos de surpresa diante do cancelamento das atividades de sua principal produtora de matéria-prima. E agora? Como ser feliz sem sonhos?
Eles, os otimistas, não conseguiram se conformar. Como que do dia para a noite, numa breve distração e num piscar de olhos tudo mudou? Como continuar vendo luz no fim dos túneis de agora em diante?
No outro extremo, os pessimistas estavam com o peito inflado. – Nós avisamos! Era completamente óbvio que isto acontecesse. Como uma indústria de nada com coisa nenhuma se manteria ativa?
Vendendo sonhos? Um absurdo! Mentiras, falácias, ilusões, isto é o que era produzido ali! A vida é o que é e sonhar com belezas e facilidades e o escambau a quatro era perda de tempo. Melhor assim!
-Melhor assim? Melhor viver sem cores, sem inspirações e sem criatividade?
-Por certo que é melhor, colocar os pés no chão e trabalhar.
-Trabalhar com o quê? Pra quem? Por qual motivo?
-Para sobreviver.
-Sobreviver a quê?
-À morte.
-Quer dizer que se trabalharmos arduamente, sem sonhos, não morreremos jamais?
-Morreremos, claro. Mas, enquanto não morremos, sobrevivemos.
-E quando tínhamos sonhos, por acaso não sobrevivíamos?
-Vocês, os que sonhavam, não viviam de verdade.
-Ou não sobrevivíamos de verdade?
-Isso, não sobreviviam de verdade.
-Então, nós vivíamos e não sobrevivíamos como sombras de um corpo fadado a morrer.
A discussão ia longe entre os opostos, os pé na terra e os seres alados repentinamente usurpados de suas asas de sonho… Estes estavam alimentando as lembranças de seus dias de glória e deslumbramento quando suas mentes sonhavam, alheias às mesquinhezas do cotidiano. Mas não conseguiam ter ideias novas, não conseguiam imaginar… Como seria a nova realidade em um mundo sem imaginaçao?
A angústia oprimia ainda mais os corações antes otimistas, eles temiam a cada minuto se tornar um ‘deles’, uma sombra cinzenta. Para evitar isto, os otimistas sonhadores estão organizando um abaixo-assinado pedindo a reabertura da Fábrica de Sonhos. Eles contam com o seu apoio.
“Em prol da continuidade da espécie humana, viemos por meio deste documento solicitar o retorno dos trabalhos da Fábrica de Sonhos. Nos dispomos a colaborar no que for preciso para o total reinício das atividades o quanto antes melhor pois estamos sob o risco de um apagão intelectual e o conseguinte declínio de nossas relações sociais e humanas. Segue a lista dos postulantes deste documento.”
Você assina embaixo?
Anorkinda Neide
Assino demais, e com prazer. Um conto reflexivo em que mente e coração são pesados e a racionalidade leva a melhor, apenas por um tempo. A arte, afinal, é o que há de mais gratuito e mais caro que existe no universo. Assim como encontramos artistas de rua, da mesma forma as telas mais caras. Mas, se você bem pensar, tudo não passa do mais fino alimento do mundo, aquele que nutre nossas almas.
Torci do começo ao fim pela fábrica. Parabéns pelo conto e sucesso na vida, Kinda, linda. Beijos da amiguinha.
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Oi, Kinda!
Assino muito ❤
O que seria do mundo sem os sonhos, a arte, a ponte entre o real e o mágico, que ensina a ir além, sonhar e realizar? Bonito, sensível….gostei muito.
Beijos
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Assino já!
O debate entre os sonhadores e os pessimistas. Quem só vive, sobrevive? Ou só vive quem sobrevive sem sonhos? E sem sonhos, vale a pena viver?
Bela forma de trazer uma importante reflexão sobre a vida. O sentido da existência ou a graça de continuar seguindo.
Parabéns pelo encantamento
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Sinto muito, não assino rsrsrs. A esperança e os sonhos são motivos de grande ansiedade para mim. Estou na luta para aprender a viver a realidade, o hoje, sem sonhos, sem planos… Quem sabe daqui alguns anos, quando e se, a fábrica de sonhos voltar à ativa, eu não mude de ideia? Bjs Kinda ❤
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Assinado. É possível viver sem este sentimento de espera por algo desejado almejado; sem fé que tudo dará certo? É um processo natural. O sonho é a semente de um processo de mudança.
Seu texto, Kinda, é um sopro poético dentro da realidade, subjetivo e que traz abstrações incríveis, adorei. Seu estilo doce é único.
O conto traz reflexões importantes, com uma linguagem figurativa sensível. Um conto profundo, mas você consegue se expressar sem complexidade, de maneira simples e comunicação fácil.
Parabéns pelo bom trabalho. Aguardando o próximo. Beijos.
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Lógico que eu assino, Kinda!!! Que texto gostoso, inusitado, interessante, criativo. Muito boa a discussão entre os pessimistas e os otimistas, o que rende uma bela reflexão. Muito bom, parabéns.
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Olá, Kinda!
Que texto interessante!!!! Ele remete à reflexão. Eu acredito que não se pode viver encantado nesse mundo sem a Arte e a Cultura. A contação de histórias é apenas parte desse universo. Há as músicas. Há o teatro. Há as pinturas que nos levam a outros sonhos. Há tantos tipos de encantamento e, por Deus, que felicidade ter esse arsenal à mão num mundo onde as tragédias e as catástrofes abundam. As anunciadas são as mais tristes. Sem falar da mesquinhez humana que nos leva à intolerância e às guerras. Sem a Arte, no meu modo de ver, não vivemos, só sobrevivemos. Grata pela reflexão. Assino, sem dúvida.
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Querida Kinda,
Demorei, mas, cá estou.
Que linda e necessária utopia.
Parabéns, Muito bom.
Beijos
Paula Giannini
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Dá tempo de assinar ainda? Assino, apoio, faço o que precisar. Nada de deixar essa fábrica fechar, nem pensar… Amei o enredo, Anorkinda! Uma metáfora da nossa sociedade, em certas situações…
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