A palavra última
Silencioso apelo
O sangue rubro
No chão desfolhado
E a primeira vez
Desaba um céu torto
Violada hora e sei
Descortinado o véu
E a última palavra
É vaga, incompleta
Exagero, erro, eu
Uma versão inversa
Morta, imersa em caos
Vã revolta, inócua
Maltrata e esmaga
Sibila sem pressa
Olhos no invisível
Ácida chuva azul neon
Caindo sobre restos
São pingos de canivete
Ferindo a pele nua
Colorindo as veias
Contraste nas vias
Gris. Mortas-vivas
Crimes e contratos
Cânticos e castigos
Transborda o nada
Fé fogo festa e fama
Lama. E é hora errada
Onde ainda a vida, finda?
Verto o inverso, despeço
Cenários de areia ao vento
Jazem infinitos em mim
E tudo é nada, o que restou
Perde-se ou não, para sempre (?)
É nunca. Levado pelo vento
Agoniza sem fim, o tempo
Nunca mais será pouco
Tormento – passageiro
(Sonho…)
Levada pelo vento.
Renata, seu poema combina palavras, significados, expressando diretamente sentimentos, visões pessoais e seus conflitos, de forma intensa e visceral. O vento arrastando a “última palavra”.
Ao longo dos textos convivemos com versos melancólicos (“Jazem infinitos em mim”- lindo!) e uma linguagem concisa, rica de aliterações, metáforas que lhe trazem beleza e sonoridade.
A temática, de certa forma, faz referência à trilogia “O Tempo e o Vento”, o clássico de Érico Veríssimo, “O Vento da noite”, de Emily Brontë, “Chão de Vento” de Flora Figueiredo ou mesmo o filme “O Vento Lá Fora” — todos fazem a correlação entre tempo e vento, com muita poesia e emoção.
Parabéns! Podemos sentir a força das suas palavras, assim como sua suavidade e delicadeza tecendo versos que transformam o cotidiano em matéria sólida, que respira, transpira, se transforma e sente. Beijos carinhosos.
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Não sei se entendi. É bonito, é uma linguagem enclausurada, mas decifrável, talvez em várias versões. Para mim, algo morreu. Há sangue, há uma última palavra, há um tom melancólico que permeia toda a poesia. Mas pode não ser de uma pessoa. De um sonho, quem sabe? Um projeto, uma ilusão, algo impalpável mas, como dói! É muito bonito, Renata. Parabéns.
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Olá, Renata!
Confesso que você me surpreendeu com esse poema, belíssimo, por sinal. Essa sua verve poética pulsa em sua essência com talento inato. Os versos trazem uma melancolia. No meu entendimento – e me perdoe se eu estiver errada – é de alguém que agoniza, talvez um pivete que sonhou ter tanto, ou alguém simplesmente que tinha tantos sonhos pela frente, morto por estocadas de canivete e cujo sangue se esvai nas vias cinzentas de uma cidade qualquer. E se sonhou com festa e fama, nada mais importa porque tudo se esvai, o tempo, o tormento e o resto de um cenário de inversos e de revolta. Gostei das metáforas, das aliterações, vc soube subverter a linguagem com maestria. Seu poema me encantou. Devia escrever mais versos, seu eu lírico é comovente. Parabéns!
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Texto bom é assim deixa varias interpretações, todas podem estar “erradas” diante da ideia original mas todas estão certas também já que cada leitor tem a sua experiência, por isso repito que texto bom, possibilita várias leituras, todas interessantes.
Eu fiquei com a impressão que esses são os pensamentos de uma pessoa enquanto é violentada e então pensa:
“Morta, imersa em caos
Vã revolta, inócua”
Depois…
“Jazem infinitos em mim
E tudo é nada, o que restou
Perde-se ou não, para sempre (?)”
Parabéns!!!
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Oi, Renata!
Seu poema é perturbador, porque não consegui entender todo o significado, mas a ideia geral, o fio que conduz ao final e queria muito ter entendido tudo, mesmo que não haja nada a entender. De qualquer forma é muito bonito! A morte, a perda, o morrer aos poucos, em câmera lenta, tudo tão triste, tão visceral e cru! Intenso e fugaz! Parabéns! 💖😘
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Nao são necessárias muitas palavras, apenas as palavras certas para se contar uma história… ou várias. Muito bom. Parabéns pelo belo poema.
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Lindo poema; rico em sonoridade, significados, sensações. A cena urbana, a solidão, o vento, o sofrimento… tudo converge para a melancolia. Maravilhoso! Parabéns!
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Interpretar poemas é algo bem pessoal. E esse é carregado de significados não muito bons para mim. O que vejo, apesar do movimento, apesar do ritmo pulsante, é agonia, vazio, solidão. Talvez pelo momento que eu esteja vivendo, mas acredito que é bem o poema que escreveu. Um mergulho profundo, uma queda inevitável.
Parabéns.
Beijos e abraços carinhosos.
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Renata,
Eu já conheço a tua poética e a interpreto como uma importante forma de catarse.
Teus versos são gritos contidos, apelos, sintomas.
A interpretação, desse modo, perde importância para o sentimento que o poema é capaz de trazer ao leitor.
Continua no caminho da poesia!
Beijos
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Querida Renata,
Algo morre em nós com a perda das ilusões. O mundo é duro, mas a pena da poeta traz tanta beleza retratando tal aridez.
Parabéns!
Feiz 2021.
Beijos
Paula Giannini
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Um poema muito bom, Renata!
Forte e com ótimo ritmo. Palavras muito bem escolhidas para um contexto profundo que mexe com as entranhas.
Parabéns
❤
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