Última palavra (Renata Rothstein)

A palavra última

Silencioso apelo

O sangue rubro

No chão desfolhado

E a primeira vez

Desaba um céu torto

Violada hora e sei

Descortinado o véu

E a última palavra

É vaga, incompleta

Exagero, erro, eu

Uma versão inversa

Morta,  imersa em caos

Vã revolta,  inócua

Maltrata e esmaga

Sibila sem pressa

Olhos no invisível

Ácida chuva azul neon

Caindo sobre restos

São pingos de canivete

Ferindo a pele nua

Colorindo as veias

Contraste nas vias

Gris. Mortas-vivas

Crimes e contratos

Cânticos e castigos

Transborda o nada

Fé fogo festa e fama

Lama. E é hora errada

Onde ainda a vida, finda?

Verto o inverso, despeço

Cenários de areia ao vento

Jazem infinitos em mim

E tudo é nada, o que restou

Perde-se ou não, para sempre (?)

É nunca. Levado pelo vento

Agoniza sem fim, o tempo

Nunca mais será pouco

Tormento – passageiro

(Sonho…)

Levada pelo vento.

11 comentários em “Última palavra (Renata Rothstein)

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  1. Renata, seu poema combina palavras, significados, expressando diretamente sentimentos, visões pessoais e seus conflitos, de forma intensa e visceral. O vento arrastando a “última palavra”.

    Ao longo dos textos convivemos com versos melancólicos (“Jazem infinitos em mim”- lindo!) e uma linguagem concisa, rica de aliterações, metáforas que lhe trazem beleza e sonoridade.

    A temática, de certa forma, faz referência à trilogia “O Tempo e o Vento”, o clássico de Érico Veríssimo, “O Vento da noite”, de Emily Brontë, “Chão de Vento” de Flora Figueiredo ou mesmo o filme “O Vento Lá Fora” — todos fazem a correlação entre tempo e vento, com muita poesia e emoção.

    Parabéns! Podemos sentir a força das suas palavras, assim como sua suavidade e delicadeza tecendo versos que transformam o cotidiano em matéria sólida, que respira, transpira, se transforma e sente. Beijos carinhosos.

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  2. Não sei se entendi. É bonito, é uma linguagem enclausurada, mas decifrável, talvez em várias versões. Para mim, algo morreu. Há sangue, há uma última palavra, há um tom melancólico que permeia toda a poesia. Mas pode não ser de uma pessoa. De um sonho, quem sabe? Um projeto, uma ilusão, algo impalpável mas, como dói! É muito bonito, Renata. Parabéns.

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  3. Olá, Renata!
    Confesso que você me surpreendeu com esse poema, belíssimo, por sinal. Essa sua verve poética pulsa em sua essência com talento inato. Os versos trazem uma melancolia. No meu entendimento – e me perdoe se eu estiver errada – é de alguém que agoniza, talvez um pivete que sonhou ter tanto, ou alguém simplesmente que tinha tantos sonhos pela frente, morto por estocadas de canivete e cujo sangue se esvai nas vias cinzentas de uma cidade qualquer. E se sonhou com festa e fama, nada mais importa porque tudo se esvai, o tempo, o tormento e o resto de um cenário de inversos e de revolta. Gostei das metáforas, das aliterações, vc soube subverter a linguagem com maestria. Seu poema me encantou. Devia escrever mais versos, seu eu lírico é comovente. Parabéns!

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  4. Texto bom é assim deixa varias interpretações, todas podem estar “erradas” diante da ideia original mas todas estão certas também já que cada leitor tem a sua experiência, por isso repito que texto bom, possibilita várias leituras, todas interessantes.

    Eu fiquei com a impressão que esses são os pensamentos de uma pessoa enquanto é violentada e então pensa:

    “Morta, imersa em caos

    Vã revolta, inócua”

    Depois…

    “Jazem infinitos em mim

    E tudo é nada, o que restou

    Perde-se ou não, para sempre (?)”

    Parabéns!!!

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  5. Oi, Renata!
    Seu poema é perturbador, porque não consegui entender todo o significado, mas a ideia geral, o fio que conduz ao final e queria muito ter entendido tudo, mesmo que não haja nada a entender. De qualquer forma é muito bonito! A morte, a perda, o morrer aos poucos, em câmera lenta, tudo tão triste, tão visceral e cru! Intenso e fugaz! Parabéns! 💖😘

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  6. Lindo poema; rico em sonoridade, significados, sensações. A cena urbana, a solidão, o vento, o sofrimento… tudo converge para a melancolia. Maravilhoso! Parabéns!

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  7. Interpretar poemas é algo bem pessoal. E esse é carregado de significados não muito bons para mim. O que vejo, apesar do movimento, apesar do ritmo pulsante, é agonia, vazio, solidão. Talvez pelo momento que eu esteja vivendo, mas acredito que é bem o poema que escreveu. Um mergulho profundo, uma queda inevitável.
    Parabéns.
    Beijos e abraços carinhosos.

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  8. Renata,
    Eu já conheço a tua poética e a interpreto como uma importante forma de catarse.
    Teus versos são gritos contidos, apelos, sintomas.
    A interpretação, desse modo, perde importância para o sentimento que o poema é capaz de trazer ao leitor.
    Continua no caminho da poesia!
    Beijos

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  9. Querida Renata,

    Algo morre em nós com a perda das ilusões. O mundo é duro, mas a pena da poeta traz tanta beleza retratando tal aridez.

    Parabéns!

    Feiz 2021.

    Beijos
    Paula Giannini

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  10. Um poema muito bom, Renata!
    Forte e com ótimo ritmo. Palavras muito bem escolhidas para um contexto profundo que mexe com as entranhas.
    Parabéns

    Curtido por 1 pessoa

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