Fui para a fila do caixa com meu pacotão de intimus gel com abas e uma caixa de ibuprofeno 400mg cápsulas gelatinosas para as cólicas que estavam começando. Nossa, que gato! Só pelo cabelo e pela postura, mesmo de costas, eu percebi. Cheguei mais perto e não deu outra, ouvi ele pedindo um teste de gravidez para a atendente. Exibia um dedo na aliança dourada enorme, casadíssimo.
Semana passada conheci um cara de 40 anos no bar que me levou para o apartamento dele. Antes de irmos para a cama, ele demorou uma hora tirando as roupas do chão do quarto enquanto lamentava o fato de a mãe dele não ter vindo naquela semana fazer a arrumação.
Ontem tive que chamar de novo o pessoal da desentupidora para lidar com um presente que um cara com quem fiquei deixou no meu banheiro.
Esse foi meu ano, vazio de amores, azarado de parceiros.
Autoestima sob controle, de bem com meu corpo, minha rotina, minha família, mas cansada de estar sozinha, sem um relacionamento. É assim que estou. Já faz alguns anos, mas nesse confesso que isso está me frustrando, já que os homens pelos quais me interessei não me quiseram, não me entenderam ou tiveram medo de mim.
Os mais simples de lidar são os que não me quiseram. Cada um com seus gostos, eu sei. A gente se conhece, se diverte e depois a coisa fica morna e a gente vai se esquecendo daquela pessoa. É como um filme da sessão da tarde. Assistimos, até curtimos, mas mês que vem não sabemos contar o enredo. E está tudo bem. A fila anda e as pessoas não são obrigadas a se amarem à primeira vista. Esse nem é o objetivo, por mais cinderelístico que isso seja.
Os homens que não me entenderam até quiseram algo comigo, mas não acessaram minha essência. Isso não é bom. Normalmente são aqueles que me procuram para um segundo encontro. O problema é que estou sozinha a tempo suficiente para saber quando um homem não vale o segundo encontro, não por ele, mas pelo futuro da relação. Eu me conheço, sei o que quero, estou pronta para um dueto, mas preciso que ele seja sadio, sem falsas esperanças.
Teve um carinha que queria porque queria que eu viajasse na garupa da moto dele até a Patagônia para casarmos sob as montanhas nevadas. Não, né. Nem moto, nem montanha, amigo. Você está esperando de mim algo que não vai ter, nunca vou te dar, tchau. Não perco tempo e não me sinto mal com isso. É preciso entender as limitações das expectativas.
Agora, os piores momentos são com os homens que têm medo das mulheres contemporâneas bem resolvidas em geral. E esses são os mais comuns por aí. Eu posso falar pelo que experimento, não pelo que se passa na cabeça desses caras. Eles vêm doces, projetam-se fogosos, prometem abrir a porta do carro, porque supostamente sou uma princesa e porque discordam dessa moda feminista de que mulher não merece agrados. Prometem também me saciar na cama.
Esses não entendem a diferença entre feminismo e gentileza. Qualquer pessoa merece afeto e cortesia. Uma mulher pode ser mestre de obras, chorar ouvindo Mozart e cozinhar de madrugada para os filhos comerem no outro dia, feliz e realizada com isso. Abram a porta do carro para ela, homens, para todas elas!
Aí esses manés que juram ser os durões e acham que estão fazendo algum tipo de boa ação feminista ao deixar a mulher pagar a conta do motel, são os mais inseguros e, portanto, os que mais brocham. Estou tão cansada desses, os falso-durões. Eu vejo medo nos olhos deles quando eu, de fato, pago a conta e conto tudo do que sou capaz. Os olhos esbugalhados e a cerveja tomada aos golões enquanto falo do quanto sou grata pela minha vida deixa claro o medo que esse homem sente da mulher moderna.
Talvez passe pela cabeça deles que a gente queira ficar sozinha, que não queremos um relacionamento.
Homens, a verdade é que queremos. Queremos ter alguém, todos nós. Vocês também.
Nenhuma relação substitui o relacionamento a dois. Olhar nos olhos e saber o que o outro está pensando, as piadas internas, saber agradar e ser agradado, dar espaço, criticar positivamente, crescer como indivíduo, dividir. Dividir tudo: despesas, alegrias, tristezas, momentos, sensações, frustrações, conquistas, a cama, o tempo.
Passar o tempo juntos. Gastar o tempo. Fazer tudo e nada. Fazer sozinho só para reencontrar depois.
Eu desejo um homem e, com ele, quero sentir amor. Eu desejo um ano cheio de amor.
Seu conto já começa bem, colocando o leitor ali na fila do caixa, apresentando a situação, criando expectativas.
“Exibia um dedo na aliança dourada” – gostei desta inversão kkkk, mostra que a aliança, naquela situação, era mais importante do que o dedo.
O título me assustou, e foi um delicioso alívio ler um texto leve, com um toque de humor, e que termina positivo, com uma esperança de um ano cheio de amores. Não que eu não goste de textos depressivos, mas o desafio acho que pede algo mais como este belo conto que você escreveu.
Vamos às sugestões, que são apenas a minha forma de ver o texto.
“ouvi ele” – ficou feio
“no bar que me levou” – aqui parece que foi o bar que a levou para o apartamento… (é obvio que não, mas é o que está escrito rsrs)
Quando começa o parágrafo “Autoestima sob controle”, achei brusca a mudança de assunto, de foco. Talvez um espaço a mais entre este parágrafo e o anterior.
“Os mais simples de lidar são os que não me quiseram” – neste mesmo parágrafo você não descreve isso, mas situações de não interesse por ambas as partes. No final deste parágrafo, também não entendi a inclusão de “amarem à primeira vista” já que você não está falando de amor à primeira vista. Talvez eu que tenha confundido tudo. São apenas opiniões na melhor das intenções.
“para casarmos” – para nos casarmos.
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Olá, Azarada! Parabéns pelo seu conto, que traz essa esperança de um ano repleto de amor. Gostei da protagonista, uma mulher corajosa, que ama a si mesma e se conhece. Apesar de querer alguém para amar, ela sabe que é melhor só do que mal acompanhada.
Algumas sugestões que talvez deixem o texto mais fluído seria retirar os pronomes (eu, ele, etc) quando não são necessários (é uma questão estética e de gosto pessoal, mas eu particularmente prefiro sem). Ex: Só pelo cabelo e pela postura, mesmo de costas, eu percebi.
Ex: Antes de irmos para a cama, ele demorou uma hora…
Outro ponto que me chamou atenção foi a generalização nesta parte: “Homens, a verdade é que queremos. Queremos ter alguém, todos nós. Vocês também”. Tudo bem que é um conto, uma ficção, mas a afirmação de que TODOS nós queremos ter alguém me incomodou porque a meu ver limita as relações humanas e exclui aqueles que não querem ter alguém no sentido romântico/amoroso. Mas, como eu disse, é uma ficção então fica a seu critério, so apontei para uma reflexão.
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Tem uma fala do Dalai Lama que diz que “as vezes, não conseguir o que se quer é uma tremenda sorte”, mas é claro que é natural querer um(a) companheiro(a). Entendo bem o sentimento, essa agonia de sentir que já deveria ter acontecido, ou que está demorando mais do que se merece. E o fato de que merecemos ser felizes nos faz pensar em nosso infortúnio, não é?
Eu ri em algumas passagens porque me identifiquei totalmente com a personagem, essa pessoa tão carente de alguém e que encontra alguns opostos literalmente opostos. O bom é que ela já sabe o que quer da vida. Isso faz uma grande diferença.
No mais, parabéns pelo texto.
Abraço!
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Olá, querida contista!
Seu conto foi como um desabafo de uma mulher livre (solteira ou divorciada) e das possibilidades que aparecem em sua vida. Sendo eu uma mulher divorciada vejo muita verdade nas situações que a protagonista traz.
Acho que quando nos descasamos, perdemos muito da visão de mundo que tínhamos antes e durante o casamento. Ficamos mais observadoras, desconfiadas, não nos deixamos levar pelo fino verniz da sedução. No fim das contas, acho que até concluímos que a vida é mais fácil quando temos a liberdade das decisões, tomando o protagonismo de nossas vidas.
Claro, sempre sobra aquele sentimento tão frágil e protegido, e como ocorreu no mito de Pandora, lá no fundo ainda resta a esperança, e é nela que o seu “eu lírico” se agarra, pois o desejo que declara é o de viver um amor. No fundo somos todas umas românticas.
Parabéns pelo conto e boa sorte.
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Adorei o começo do conto, muito leve e contemporâneo. A cena criada conversa bem com o leitor, e podemos nos ver na fila do caixa. Uma ‘pegada’ jovem, que daria um ótimo início de romance, aliás eu fiquei na expectativa de acontecer algo ali mesmo entre a narradora e o moço na fila…
[…] até curtimos, mas mês que vem > […] até curtimos, mas no mês seguinte
[…] sozinha a tempo suficiente > […] sozinha há tempo suficiente
O texto é uma reflexão divertida sobre as atrapalhadas românticas da narradora e uma confissão sincera do desejo de encontrar um grande amor.
Parabéns pela romântica participação.
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Gostei demais do começo do seu conto, algo meio Sexy and the city, que não me decepcionou com o relato de uma Carrie meio desiludida com sua vida amorosa e um final em que a protagonista, a despeito de suas desventuras, não desiste do amor. Leitura agradável e fluida, me único momento estranhamento foi um “ouvi ele” no primeiro parágrafo. Eu diria ouvi-o para evitar o cacófato. Feliz Ano, querida contista. Beijos
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Querida colega contista,
Gosto de inícios inesperados e de prosas divertidas. Parabéns!
Talvez ao longo do texto fosse interessante retomar pontos de fragmentação, espaços mais vazios que nos pudessem levar a várias interpretações, acredito que amenizaria as generalizações!
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Olá,
Concordo com a Elisa, esse conto, meio crônica, lembra muito sex and the City, pelo menos o clima de mulher independente que sabe o que quer e o que já lhe frustrou bastante.
Me diverti bastante, mas percebo a natureza do tom de frustração da personagem.
Obrigada
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Querida Contistas,
Feliz 2023!
Texto divertido, contemporâneo, meio conto, meio crônica. Um texto que poderia perfeitamente integrar uma série ou mesmo uma comédia de teatro sobre as mulheres de nosso século, do tipo “Os Homens São de Marte”.
Interessante notar que a autora inicia sua narrativa na primeira pessoa, relatando suas mazelas com o sexo oposto, e, aos poucos, o foco narrativo vai se modificando e o texto começa a ser direcionado para o objeto de análise: os homens.
“Homens, a verdade é que queremos. Queremos ter alguém, todos nós. Vocês também”.
Uma pequena sugestão: eu voltaria ao texto e preencheria algumas lacunas estruturais das ideias, que, certamente passaram batido devido à pressa em participar do desafio. Este conto tem fôlego para uma narrativa mais longa.
Parabéns!
Beijos
Paula Giannini
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Olá. Esse ano me propus a ler gêneros que eu não estou acostumada e romance é um deles. Não acredito em amor, sonhos, essas coisas de romance, por isso gosto mais de ficção e terror. “Homens, a verdade é que queremos. Queremos ter alguém, todos nós. Vocês também.” Deus me livre, rsrsrs pensei na hora “eu não”! Apesar de ser casada, se um dia houver separação, a certeza que tenho é de que não quero relacionamento nunca mais kkkkk . Achei o texto divertido, mas fiquei com pena da protagonista, que ainda vai sofrer muito… Abraços e feliz 2023 ❤
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Vanessa, adorei seu comentário e endo o mesmo. Hahaha Feliz 2023!!!
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Tb gostei do comentário da Vanessa e pensei que deveria ter escrito algo assim tb. Penso o mesmo tb, Paulinha. Eu falo que só continuo casada pq amo meu marido, se não fosse esse amor kkkk estaria sozinha, com certeza.
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Será uma unanimidade? hahaha
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Querida Contista,
Feliz 2023 e, vamos lá,muito amor pra recomeçar rsrs
Sua crônica é leve, fazendo pensar. Acho que tudo tem a sua hora, ea hora da protagonista vai chegar, com muita sorte, espero rsrs
Bjokas!
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Vanessa, Paula e Fernanda, tmj – sigo “felizona”, sozinha, mas não solitária hahaha
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