Sem certezas, sem promessas, sem quase forças. Era agora a hora? O momento de sentar e começar a sonhar? Diante do calendário riscado, somente à espera de outra virada. De ano. De página. De mesa. Não precisava de convite ou lista de metas, apenas da sua tão temida ousadia. De sonhar.
Debruçou coragem e força sobre os obstáculos que já avistava na troca dos números. Nada parecia tão intransponível assim. A menos que os sentimentos fossem outros. Se a lua tivesse alterado tudo mais uma vez, se não fosse aquele o último dia. Se as marés surgissem ao contrário, derramando-se em retirada, levando as horas derradeiras. Sabia que enquanto houvesse luz, haveria também sombras. E perspectivas à beira do abismo.
Percebia-se de repente iluminada, mesmo com a mente perdida em regiões escuras, projetando suas manchas enegrecidas pela mesmice dos tempos. Nada mais do que a ausência dos passos em direção tão oposta ao que havia sido determinado para outro fim.
As portas de um novo tempo estavam ali abertas, forçadas pelo entusiasmo geral, nas casas, nas ruas, bares e lugares secretos como um abraço. Para que serviria tanta ansiedade? Uma passagem no estreitamento da ampulheta, promessas inúteis para o vão de novos acontecimentos?
Olhou novamente para si mesma, na sombra e na luz. Quis. Realmente quis. Desejou o improvável, desejou a si mesma, a dona daquele caminho que agora lhe parecia bom demais. Não tomaria atalhos, já havia experimentado pedras e espinhos além da conta. Seguiria em frente até que novos horizontes se desenhassem. Um novo ano.
No fim, não antes nem durante, estaria ali a recompensa. Douradas alegrias, mergulhadas em preciosas sensações. Era o que merecia, afinal. Nem mais, nem menos, ser assim recompensada. Um ano inteirinho, todo novo. Por que não?
Amanda Gomez
akcamargo
Ana Maria Monteiro
claudiaangst
Amana
Catarina Cunha
desafioascontistas
Evelyn Postali
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Fheluany Nogueira
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Paula Giannini
Priscila Pereira
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Rose Hahn
Sabrina Dalbelo
Thata Pereira
Vanessa Honorato
werneck2017
As Contistas 
Muito lindo seu conto que fala de recomeços, de novas chances, de esperança. Muito bem escrito, envolvente, melancólico e positivo, ao mesmo tempo. Gostei do tom poético.
“Se as marés surgissem ao contrário, derramando-se em retirada, levando as horas derradeiras” – que lindo isso.
Pra não dizer que não sugeri nada, duas palavras para mim não foram bem escolhidas. Já que estamos aqui para meter o bedelho, vou fazer sugestões para tentar justificar o incômodo:
“na troca dos números” – talvez “na sucessão dos números” ou “sucessão dos dias” (no caso de se referir ao calendário sendo riscado aos poucos e não apenas à mudança de ano).
“experimentado” neste trecho: “já havia experimentado pedras e espinhos além da conta”, me veio a imagem dela colocando pedras e espinhos na boca… pode ser coisa da minha cabeça maluca, mas pensei que talvez pudesse substituir por encontrado, defrontado, encarado, enfrentado ou aceitado…
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Sempre me pergunto o motivo de esperarmos o final de ano para fazer diferente, mudar, dar meia volta, virar… “De ano. De página. De mesa.” Talvez porque se associe a esse final de ciclo, o final de muitas coisas. É como retirar dos ombros o peso dos dias e respirar fundo e dar o primeiro passo (de novo) de outros tantos. Talvez porque tenha que ser assim, afinal, quem pode dizer que não é? E por que não? Somos tão previsíveis e tão surpreendentes, não?
Mais um conto, aqui, no blog, para pensar, para nos remeter a questionamentos.
Parabéns pelo texto.
Abraço!
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Vi no seu texto uma representação das emoções contraditórias que permeiam a virada de ano. As frustrações acumuladas no ano que termina e a renovação dos planos e dos desejos no ano que começa. Achei excelente o ritmo do seu texto, agradabilíssimo de ler. Parabéns e feliz ano novo pra você. Beijos
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Olá, contista!
Seu texto me trouxe uma sensação boa de esperança, de renovação, determinação. Gostei muito, parabéns!
Uma única questão me chamou atenção logo no início do texto e diz respeito a escolha que você fez nas primeiras frases: “Sem certezas, sem promessas, sem quase forças. Era agora a hora?”
O mais comum é dizer “quase sem forças”, porém para seguir na estética do que vem antes você inverteu e na sequência também, pois é mais comum dizer “Agora era a hora?” ou “A hora era agora?”. Meu comentário sobre isso é que apesar de ter sentido um certo estranhamento, ficou mais poético dessa forma.
Parabéns!
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A despedida de um ano, o encerramento de um período de doze meses, contados no calendário. Apenas uma formalidade, mas que representa o fim de mais um ciclo e o início de uma nova chance.
A princípio, achei a narração, em prosa poética, mais intimista, pessimista até, mas depois foi ganhando cor e energia, e o desfecho trouxe um ar de esperança ao texto.
Parabéns pela esperançosa participação.
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Olá, querida amiga.
Feliz ano novo para todas nós. Seu conto é uma viagem. O início de um novo ano é sempre visto como recomeço, mas, e se ao invés de fazer tudo diferente, o mundo não poderia ser diferente para nós? Adorei as marés ao contrário. Nunca havia pensado nisso. O texto é sobretudo uma reflexão sobre a vida. Não é necessário aguardar o fim dos trezentos e sessenta e cinco dias para recomeçar ou fazer tudo diferente, somos autores de nossas histórias e todo dia é ano novo. Um grande abraço e que 2023 seja marcante para você.
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Querida colega contista,
O seu texto me faz pensar nos meus sentimentos após receber a notícia do falecimento de meu pai (acidente) quando eu era ainda moça.
Especialmente esta parte: “Se a lua tivesse alterado tudo mais uma vez, se não fosse aquele o último dia. Se as marés surgissem ao contrário, derramando-se em retirada, levando as horas derradeiras.” me leva ao momento em que eu pensava em como as coisas poderiam ter sido diferentes, se a natureza não seguisse sua lógica (às vezes estranha a nós).
Esta parte “Sabia que enquanto houvesse luz, haveria também sombras. E perspectivas à beira do abismo.” retoma em mim o fato de que, em como passados alguns meses de luto, percebi que eu precisava continuar, embora mudada; sempre ali, agora, a confabular possibilidades com o abismo.
Grata pela sua obra!
Abraços,
Amanda
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Olá,
Um texto que nos relembra que o final do ano é o momento ápice das maiores promessas e também das maiores decepções.
A virada do ano nos traz esse ímpeto de querer ser e fazer tudo, tudo o que não se fez… até que a gente perceba, algum tempo depois, que é apenas mais um dia comum.
Mas é justamente esse tom de esperança que é esperado.
Muito bom, muito coerente.
Adorei! Obrigada
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Um novo ciclo, uma nova chance, e com isso, recompensa, mas é necessário dizer sim! Gostei da atmosfera de esperança que o texto trouxe para quem o lê. Abraços e feliz 2023. ❤
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Querida Contista,
Feliz 2023!
Seu texto é muito imagético. Amei a sensação de ler sobre as ondas ao contrário, inspirador.
Porém, a ampulheta não para não é? Precisamos seguir sempre em frente e o tempo é mais real doque supúnhamos até poucos anos. Assisti a uma série “Mistérios do Universo” (acho que é isso) e um dos capítulo é sobre o tempo e o ciclo de nosso planeta, de 365 dias. Muito interessante, o episódio mostra que a vida na terra depende desse ciclo para existir.
Pelas minhas digressões, você logo nota que seu texto faz pensar.
Que venha o recomeço!
Beijos
Paula Giannini
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Amiga Contista,
Um Feliz 2023!
Então, que belo e reflexivo conto você nos traz, com incríveis imagens, jogo de palavras que eu, particularmente, amo, o enfrentamento (vitorioso) sobre a sombra e aluz, pois há, ali, a coragem, a movimentar.
Só percebo, e talvez seja minha impressão, que a protagonista ainda não preparada para uma jornada imediata, procrastina: “No fim, não antes nem durante, estaria ali a recompensa.”
Tudo no devido tempo, sim – e talvez o fim seja já o daquele ano, ou nós mesmos fazemos o ano?
Renata psicanalista rs ❤
Amei!
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