Naquele dia o papai noel acordou indisposto e não haveria problema algum ele não querer sair da cama nem tirar o pijama nem escovar os dentes nem tomar banho nem se trocar nem fazer o desjejum nem se reunir com os ajudantes nem traçar o plano de voo nem almoçar nem fazer um alongamento nem… Continuar Lendo →
Microcontos do pizzaiolo – Fernanda Caleffi Barbetta
I – Escreveu um livro tão saboroso, que o dividiu em oito partes. II – Diante dos aplausos, a pizza virou calzone. III – Toda À Moda da Casa alimenta o sonho de tornar-se pizza para viagem.
Estou indo embora – Fernanda Caleffi Barbetta
O habitual beijo, aguardado nos lábios, foi desviado para a testa, e aquele gesto, após os demais que a vinham inquietando, pareceu-lhe o derradeiro. Desfez o bico seco e o observou alcançar a escada, os pés pesados ganhando os degraus, a calça desbotada, os sapatos precisando de graxa.
O Velho – Fernanda Caleffi Barbetta
(Fabíola vai até a cozinha, onde a mãe lava a louça) Fabíola – O que o Tião queria a essa hora?Mãe – Tião?Fabíola – É. Ele não tava na sala com o pai?Mãe – Era o velho.
Vômito – Fernanda Caleffi Barbetta
VômitoSentinojoquando dissetudo o que quisdizer,gritando,tudo o que queriaque euouvisse.Nojo,não das palavras,mas da suaboca,como se o asco residisseem quemvomitae não na comidaregurgitada.
Sem Saída – Fernanda Caleffi Barbetta
Construi uma casacom todas as janelas paradentro,do banheiro via a salado quarto via a cozinha.Não deixei portas para oexteriorpara que ninguém entrasse,e eu não conseguia sair também.De fora,faziam buracos nos tijolos,que eu tapava,apressada, ansiosa, nervosa.Hoje, quebrei as paredesinternasaté derrubar a que davapara fora.Mas a rua estavadeserta.
Uma noite de Insônia – Fernanda Caleffi Barbetta
Abro os olhos, e o quarto ainda está escuro. Olho para o rádio-relógio. São 3 horas da manhã e o sono já foi embora. O Paulo dorme placidamente. Sinto inveja. Viro pro outro lado. Começo a pensar nas coisas que preciso fazer quando acordar. Isso se eu acordar mais uma vez ainda hoje. Espanto os… Continuar Lendo →
O pegador – Fernanda Caleffi Barbetta
A Marinalva chegou com a saia curta e o olhar longo, espichado para onde eu estava. Atrás do balcão, meu corpo estremeceu. “Hoje vou beber todas, Túlio”, disse o Marreco, batendo a mão espalmada no tampo de madeira melecado de whisky barato. “Já sei, uma coca-cola”, falei, um olho nele o outro na Marinalva, talvez… Continuar Lendo →
Quanto falta? – Fernanda Caleffi Barbetta
Estava chegando, mas ela não entendia distâncias. A idade tão pouca, a vida tão tenra. O ar ficando pesado, a respiração mais difícil, o corpinho se molhando de suor. Sim, estava chegando, mas ela não entendia o tempo. Era difícil aquietar um corpo ansioso por viver.
Visita natalina – Fernanda Caleffi Barbetta
— Quem é o senhor?— Opa, a senhora tá ai!— O que o senhor faz aqui?— É o dia de eu vir, então eu vim.— Dia de vir?— É o que dizem.— Dizem? Quem dizem?— Muitas pessoas.— Aqui na minha casa? Veio ver o Beto?
O irmão da Maria Theresa – Fernanda Caleffi Barbetta
Quando eu nasci, ninguém sabia meu nome. Eu era o irmão da Maria Theresa. E isso era informação que bastava. Só depois, bem depois, foi que eu me tornei o Nelsinho.Na época do meu nascimento, 25 anos atrás, minha irmã já era a Maria Theresa, com agá, famosa lá pras bandas do Mato Grosso. Eu,… Continuar Lendo →
Tempo e espaço – Fernanda Caleffi Barbetta
Há espaços por entre as fendas do tempo,onde derramo, em cada vão, os meus instantes.Horas errantes a preencher todo Espaço,no vai-e-vem que torna o hoje como dantes.
Nunca usados – desafio – Fernanda Caleffi Barbetta
O café esfriando na xícara, e o Ernesto com os olhos grudados no jornal. “Vendem-se sapatinhos de bebê”, leu, reforçando cada sílaba, como uma criança recém-alfabetizada. “Mora duas ruas pra baixo. Cancelamos a ida ao centro da cidade”.Ainda com um pedaço de pão com geleia na boca eu fui dizendo que de maneira alguma eu… Continuar Lendo →
Versos trocados – Fernanda Caleffi Barbetta
Um barulho na janela tirou minha atenção da leitura. Dali de onde eu estava, na poltrona, espichei um pouco o pescoço e consegui ver que era uma espécie de pássaro em pé sobre o parapeito, do lado de fora. Deixei o livro de lado e fui até lá. Era um pombo quase todo branco, não… Continuar Lendo →
A Separação (Fernanda Caleffi Barbetta)
Primeiro você mudou de linha. Imaginando que eu não perceberia, pulou para o outro parágrafo e foi se distanciando, até ultrapassar as margens e chegar à outra página. Foi então que eu te perdi de vista.Ouvi dizer que, durante dias a fio, você percorreu páginas e invadiu capítulos, ansioso, confuso, aparentemente sem um propósito definido…. Continuar Lendo →
A poesia do outro (Fernanda Caleffi Barbetta)
Não vejo graça em ler o que escrevo.Gostoso é pousar os olhos nos escritos do outro.Igual comida que a gente mesmo faz,não tem sabor,falta tempero.O problema é que ler o outroàs vezes me dá gastura.Quando a coisa é boa mesmodá uma sensação amarga de desejar ter escrito aquiloe não poder mais.Plágio é crime.Outro dia, pedi… Continuar Lendo →
Fernanda Caleffi Barbetta
Fernanda Caleffi Barbetta é jornalista, nascida na cidade de São Paulo. Publicou os romances Futuros Roubados e Passados Revelados, a coletânea de contos 30 Textos para Descontrair e o livro de poesias Já não me cabem as rimas. Mantém o site Entre Versos e Prosas (www.entreversoseprosas.com.br), onde publica poesias, contos e crônicas, além de ser… Continuar Lendo →
Desejo – Fernanda Caleffi Barbetta
Postou-se ao meu lado,a respiração acelerada, ansiosa.Desejava que eu lhe notassea presença,que eu erguesse a cabeçae lhe encarasse os olhos,lhe fitasse os lábios.Mas retive minha atençãoaos seus sapatos,que, pouco a pouco,se afastaram,deixando para trása respiração acelerada, ansiosa,que talvez fosse minha desde o início.Ignorando o desejo,que talvez fosse somente meu,de que me notasse eme encarasse os… Continuar Lendo →
Mulheres em Verbo 2 – Nosso novo livro!
Vem espiar… Estamos com livro novo no forno! A antologia “Mulheres em Verbo 2: Prosa e Verso” segue a mesma premissa da primeira antologia: cada autora participante escolheu um verbo e com ele desenvolveu seu texto. No primeiro livro, um conto de cada autora, a partir desse verbo escolhido. Dessa vez, as escritoras tiveram, cada… Continuar Lendo →
NOSSOS LIVROS
OS 50 MELHORES MICROCONTOS Neste e-book estão apresentados os dez microcontos vencedores, em ordem de classificação, e mais quarenta selecionados, em ordem alfabética. Com mais de 300 microcontos inscritos, o concurso Rapidinhas aconteceu no mês de maio, com a exigência de que todos incluíssem a palavra TRABALHO em seus textos e não ultrapassassem 300 caracteres… Continuar Lendo →