Ana Maria Monteiro

Ana, apenas, onde cabe tudo e não veste nenhuma camisola em especial. Sei lá o que dizer de mim. Ou escrevia um livro (fora de questão) ou não há nada para dizer.

Autorretrato

Ana
Deixem que vos fale da Ana, uma vez que sou a sua melhor amiga e quem há mais tempo a conhece. Além de que, se vamos ficar à espera que seja ela a fazê-lo, bem podemos esperar sentadas. A Ana não sabe falar de si, nem gosta, não tem jeito.
Foi sempre assim. Era uma miúda calada, filha única de filhos únicos e superprotegida (estupidamente protegida). E estava sempre doente. Mal aprendeu e ler, nunca mais quis outra vida (nunca mais, é uma maneira de falar, porque a partir dos vinte e tal anos, foi lendo cada vez menos).
Era um autêntico rato de biblioteca e não tinha muitos amigos. Gostava de aprender na escola e de ler em toda a parte. E vivia com os olhos desenhados por olheiras de noites em branco, porque não conseguia interromper os livros a meio, era impaciente (ainda é). Também escrevia, mas cedo deixou de o fazer. Houve motivos para isso, mas não cabem neste resumo.
Um dia apaixonou-se. À primeira vista, acreditem ou não. E o mundo virou-se do avesso. Ela não sabe, e eu também não, se isso foi a melhor ou a pior coisa que lhe sucedeu, mas não temos dúvidas de que aquela paixão vertiginosa a guiou para uma vida totalmente inesperada.
Entretanto deixou de estudar e começou a trabalhar. Eram trabalhos sem grande importância, em livrarias (que mais poderia ser?), mas descobriu de imediato que gostava daquilo – e nunca mais pensou em estudar.
Deu-se muito bem no trabalho. Mas a ascensão foi lenta. Chegou a gerir a mais antiga e uma das mais importantes cadeias de livrarias de país. Depois foi contratada para criar a filial portuguesa duma editora de livros técnicos. E nunca mais saiu desse mundo. Vivia no meio de livros, mas não dos que amava.
Escrevia imenso, quase não fazia outra coisa; mas eram cartas comerciais, acordos, contratos, campanhas publicitárias.
Pelo meio, teve uma vida pessoal intensa, casou e descasou e casou de novo (a grande paixão durou uns anos mas não deu em casamento – aquilo era demasiado violento para os dois).
Finalmente, já bem tarde e com muito medo, aceitou a ideia de ser mãe. Essa foi, provavelmente, a única decisão completamente acertada da sua vida. Apaixonou-se pela filha e essa é uma paixão que não esmorece.
A única, aliás. Porque ela é assim, aos altos e baixos. Tem dificuldade em manter-se interessada nas coisas – se falham, porque falharam e se resultam bem, porque já está e prefere partir para outra.
Nasceu em Lisboa e é portuguesa até à medula, mesmo quando até se envergonha de o ser. Mas já viveu pelo país todo. Agora vive no Norte, mas ainda há-de mudar, pelo menos mais uma vez (de cada vez, digo eu que a conheço). Não gosta de estar mais de dez anos no mesmo sítio (isto agora, que está a ficar entradota, porque antes de a filha nascer, cinco anos eram uma eternidade).
Que mais dizer-vos? Tímida e reservada, isso não a impediu de ser feliz e infeliz, pobre e rica, de rir e chorar, amar e sofrer, viver, viver muito.
Há uns anos, ficou desempregada dum dia para o outro e numa idade já complicada. Durante algum tempo andou entretida a criar páginas no Facebook, tem páginas de montes de coisas, mas quando começaram a chateá-la para fazer publicidade e anúncios pagos, abandonou-as – afinal eram apenas páginas de entretenimento. Ainda existem, mas ela desinteressou-se.
Entretanto voltou a escrever – devagarinho e sem propósito nenhum. Nunca tentou ser publicada, excepto no jornal local, para onde escreve de vez em quando. Uns artigos de opinião, um conto ou outro – eles gostam e ela também.
No final do ano passado descobriu os microcontos no escambau e tomou-lhe mais o gosto. Daí para cá, tem escrito um pouco mais.
E agora está aqui, com vocês, enquanto gostarem da companhia dela e ela da vossa.

Contos da autora no blog:

História de amor

Gestação

Gostava de andar por ali

Vida às avessas

Prólogo a um epílogo

Mónica (Ana Maria Monteiro)

Zorro

Mudam-se os tempos

História de amor

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