Giselle Fiorini Bohn nasceu em São Paulo, cresceu em Campinas e hoje vive na Alemanha, com seu marido e dois de seus três filhos. Gosta de dizer que é reformada em Letras, pois foi só com a ajuda delas que conseguiu dar sentido ao emaranhado de histórias em sua cabeça.
Tem textos publicados em antologias e revistas literárias, e acabou de lançar sua primeira novela, Pele Velha.
Mas como nem tudo na vida é ficção, Giselle escreveu também a série de livros Alles Gut!, que descreve sua vida na Alemanha. Os quatro livros da série formam um diário que cobre os primeiros 365 dias em terras germânicas, e revelam uma família que, em meio às descobertas sublimes e mancadas inevitáveis que a vida expatriada oferece, não tem pudor nenhum em rir de si mesma nem de chorar quando precisa.
Autorretrato
Tarefa complicada, essa de se definir! Mas, na verdade, é algo em que tenho pensando muito, com a recente chegada aos 50 anos: quem sou eu, afinal? Sou filha, sou mãe, sou esposa, sou irmã, sou amiga, sou escritora. Esta última definição é, de longe, a mais difícil de abraçar e de declarar, assim, em voz alta, pra todo mundo ouvir. Porque foi apenas neste ano de 2020 que fui tomada pela cara de pau de mostrar meus escritos. Sim, mais de três décadas escrevendo compulsiva e apaixonadamente para ninguém. Coisa de doida.
Mas aí vem uma pandemia que faz a gente ver, como bem disse Guimarães Rosa, que o que a vida quer mesmo da gente é coragem. Viver com medo do fracasso, do sucesso, da crítica, do elogio… ah, isso não é vida, não.
E foi aí que o mais incrível aconteceu: quando enfrentei meus medos, vi que todos aqueles demônios eram apenas sombras que a luz da ousadia desfez em um segundo. E, então, em poucos meses, foram publicados livros, contos, microcontos, ensaios. E até o que parecia apenas um sonho distante aconteceu: virei uma d’As Contistas!
E que tipo de Contista sou eu? Sou do tipo que só escreve o que já viveu. Admito, não sem uma certa vergonha, que minha criatividade só vai até a esquina das minhas experiências e nunca se aventura em bairros que desconheço. Não crio mundos; só descrevo os meus. Falo de angústia, de solidão, da constante companheira: a imperfeição. Mas também falo de risos involuntários, de inocência, de tropeços que viram as melhores histórias da vida. E assim vou eu: observo muito, absorvo tudo, absolvo todos.
Nos meus escritos tem muito de mim e de minha história, mas – ao menos espero – tem um pouco de todas nós, mulheres. E se me for permitido como escritora deixar um único legado, que seja este: conte você também sua história. Tudo isso aí que só você viveu tem que ser jogado ao vento, não guardado na gaveta ou no peito. Vamos juntas.
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