Gaúcha, formada em Direito, servidora pública federal, mãe e escritora de tudo um pouco. Inspira-se nas mais variadas coisas, tem facilidade para verbetes e desde a adolescência já mostrava tendência para a escrita. Passou a registrar, desde 2013, suas emoções e intenções com palavras nas páginas do Facebook “Se Tem Nome Existe” e “Pensamento Sem Moldura”, onde posta seus textos comumente online, assim que lhe bate à porta a inspiração. Publicou em junho de 2017 seu primeiro livro de poesias, “Baseado em Pessoas Reais”, pela Poesias Escolhidas editora. Em 2018, publicou “Lente de Aumento para Coisas Grandes”, pela Penalux e, em 2020, publicou “Rasga-ossos”, também pela Penalux, livro esse que revela amadurecimento na sua escrita.
Autorretrato
Minha mãe queria companhia e, meu pai, que ela não reclamasse: quem sabe um(a) filho(a)?
E aí meus pulmões aspiraram ar sozinhos, pela primeira vez, a 1h30 da madrugada de uma quarta-feira, no 95º dia do ano de 1978, 5 de abril, em Porto Alegre.
Nasci aos trancos, puxada a ferro. Já desconfiava que nada seria fácil por aqui, na terra firme, na vida real.
Criança calma, de fácil lida, conversava até com as paredes.
Minha mãe sempre foi deprimida e insatisfeita. Meu pai sempre trabalhou muito. Eles nunca formaram um bom casal e os três filhos sempre souberam disso.
Aprendi a me virar sozinha e passei a pedir menos ajuda, para tudo. Já que eu não tinha dificuldade na escola, meus pais foram largando ainda mais as rédeas, e eu segui só ali também. O compromisso deles era que eu estivesse em um bom colégio, nem que eles mal pudessem pagá-lo. Eu sabia disso e aí me esforçava mais ainda.
Boa aluna, metida a líder, mas sem talento para a educação física, eu era a colega que redigia os trabalhos, escrevia os cartões de aniversários coletivos e falava pelos tímidos, isolados e marginalizados. A típica cdf que se dava bem com todo mundo, mas que não era escolhida para o time de vôlei.
Meus dentes tortos, minhas ancas largas, meus cabelos cheios de frizz faziam com que meu talento para os estudos me destacasse entre as “feiosinhas legais”.
Amei de verdade somente o homem com quem me casei, em 2002: um ex-colega de ensino médio que não me chamava a atenção na época, mas que veio a se tornar um grande homem, nos dois sentidos. Além de tudo, é narigudo, como eu gosto (vai entender coisa de tesão, não é!?).
Ele sabe que eu sou controladora, impaciente, preguiçosa, insistente e avoada, mas olha para a mesma direção que eu e, ao colocar minhas virtudes na balança, acha que eu valho a pena. E esse é nosso combinado…valer a pena.
Disso tudo, duas coisinhas lindas mudaram o meu mundo: a Samantha, em 2009; o Nícolas, em 2012. Ela, incansável, veio para enfrentar e questionar. Ele, um doce, veio para acariciar e oferecer. Os dois são frutas da mesma árvore em estágios diferentes de amadurecimento. O meu intuito é oferecer-lhes água e sombra, mas liberar o sol de que eles precisam para viver.
Perto dos 40, eu tenho olhado mais para mim, meu corpo, minha mente.
Incentivadora do respeito por todos, sempre acreditei que um sorriso ou um cumprimento para um desconhecido tem o poder real de fazer o dia de quem cumprimenta e de quem é cumprimentado mais feliz.
A escrita é algo ínsito. Ela não é para horas vagas, pois a poesia, a narrativa, o olhar do escritor, nada disso é passageiro, nem aceita disponibilidade ou momento certo. A escrita é viva, ela respira no meu cangote e me instrumentaliza. Eu obedeço.
Foi o conteúdo de uma caixa da coleção de clássicos da editora Globo que me fez engatar na leitura, na adolescência. E, na escola, não era sacrifício nenhum mergulhar nos romances brasileiros.
O curso de Direito veio para ajudar a treinar redação, mas foi no quarto escuro e silente, amamentando meus filhos, que minha imaginação me avisou que não dava mais. Ela estava cheia de guardar estórias. Era a hora de colocar para fora.
Quem sou eu para contradizer algo tão poderoso?
O dito e o não-dito se apaixonaram.
De todo o dito, não-dito se cansou.
Do não-dito, dito queria mais.
Foi aí que nasceu a poesia.
Poesia é entrega e espera.
Contos da autora no blog: