Ele é um amigo da onça e não joga com o baralho todo, por isso o convite cheirava a esturro. Mas aceitámos e fomos de pé atrás e com a pulga atrás da orelha. Chegados ao restaurante o ambiente era de bradar aos céus e cheguei a pensar que tínhamos enfiado o barrete, quando o... Continuar Lendo →
A imponderabilidade de tudo – Ana Maria Monteiro
Sobre o corpo da menina deitada, jazem agora todos os sonhos que nem chegou a sonhar e os futuros que não irão acontecer, cada dia, cada momento, cada natal. São tantos! Quem dira? Quem diria, ao chorá-la no agora, a que distância lhe estaria no futuro - ou talvez não. Morreu na véspera de natal,... Continuar Lendo →
Francisca – Ana Maria Monteiro
A sorte de Joaquim foi aquele assalto. Não tivesse alguém assaltado a casa de Francisca e roubado o precioso mealheiro e nunca estaria prestes a celebrar os cinquenta anos de casados. A verdade é que Joaquim desesperava por casar enquanto Francisca protelava indefinidamente porque entendia que eram ambos muito jovens e ela queria um enxoval... Continuar Lendo →
O Sonho de Priscila (Ana Maria Monteiro)
(Para a minha amiga secreta, Priscila, com o desejo de que cumpra os seus sonhos, em 2019 e sempre.) Priscila adormeceu tranquilamente sem imaginar o que o sono lhe traria. Sonhou que era noite de Natal e ela, quase criança no sonho, caminhava por uma rua deserta e mal iluminada, levando nos braços o seu... Continuar Lendo →
Gostava de andar por ali – Ana Maria Monteiro
Gostava de andar por ali. Pouco lhe importava qual o café onde finalmente se sentava a ler o seu jornal, ou o cinema onde passaria duas horas, ou até mesmo o filme que iria ver. O que ele gostava mesmo era de andar por ali. Andar por ali e entregar-se ao seu passatempo favorito: não... Continuar Lendo →
Vida às avessas – Ana Maria Monteiro
19 de janeiro de 2009 Mãe, Não sei o que se passa nem onde estou, mas é bom. Não sinto nada, apenas calma – como se flutuasse numa nuvem de algodão. E não há emoções, apenas este bem-estar. Foi-se a negritude, o desespero, o abismo. Escrevo apenas para te descansar. Sei que estás sempre preocupada... Continuar Lendo →
Prólogo a um epílogo – Ana Maria Monteiro
Nadam nos teus olhos peixes azuis E há neles um profundo imenso. Olhos oceânicos em pequenos globos onde os peixes azuis deslizam no impulso de movimentos imperceptíveis. Mergulho nesse olhar, fico una a ele diluída eu em tudo e tudo em mim. Há memórias imprecisas, vagas noções de quem sou - um peixe azul... Continuar Lendo →
Mónica (Ana Maria Monteiro)
Vi-a pela primeira vez no centro comercial Apolo 70 em Setembro de 1992, na loja de animais que existia na cave. Olhou para mim com aquele olhar infinito de cão bebé e as nossas vidas tomaram um novo rumo a partir desse instante. Era arraçada de podengo (mãe pura e devassa e pai incógnito... Continuar Lendo →
Zorro – Ana Maria Monteiro
Recordo-me que crescia feliz, como quase todas as crianças crescem, sem nunca pensar nisso. Queria ser grande, ser como “os grandes”. Todos queríamos, nessa época em que ser criança era sinónimo de “não ter voto na matéria”, estar calado à mesa, cumprimentar qualquer desconhecido amigo do pai ou da mãe, com a maior cortesia; enfim,... Continuar Lendo →
Mudam-se os tempos – Ana Maria Monteiro
Sucedeu há uns anos. Vem-me hoje à memória a propósito do dia da mulher. É, no entanto, uma associação de ideias algo estranha. Mas conto a história na mesma. Depois de uma longa estada em Madrid, onde estivera destacado por uns meses, regressava a casa, comodamente instalado num desses compartimentos de que, à época, estavam... Continuar Lendo →
Gestação – Ana Maria Monteiro
Estarmos juntos era-nos tão natural quanto o existirmos. Nem imaginávamos que pudesse ser diferente. Tudo era perfeito. E o nosso conhecimento mútuo, de tão intrínseco, dispensava o diálogo – compreendíamo-nos por osmose, ambos solutos e solventes. Brincávamos muito. Éramos felizes, até por nem sabermos o que isso fosse. Naquele dia… Não, não naquele dia; não... Continuar Lendo →
História de amor – Ana Maria Monteiro
Daniel era um rapaz em torno de quem as raparigas volteavam como borboletas entontecidas. O caso não era para menos, nem de admirar: filho do homem mais rico lá da terra (embora esse pai tivesse um passado algo obscuro que ninguém questionava por razões óbvias), ele era o “homem perfeito”. Logo a começar, pela vasta... Continuar Lendo →