Enquanto aguardava na fila, Feliciano tentava conter a ansiedade. Lembrava-se vagamente de ter lido em um livro que ela só atrapalha na hora H. Inspirar e expirar bem devagar, dizia o livro, acalma o espírito. Estava concentrado na respiração quando sentiu uma cutucada no ombro. – É sua primeira vez? – perguntou o cara que... Continuar Lendo →
Seu nome era Ranielda – Neusa Fontolan
— Isso lá é nome de gente? A história não é sobre uma mulher? — E é nome de mulher, sim! Você não quer ouvir a história daquela que se sentia NASCIDA PARA RICAR? Então me deixa contar. E antes de por defeito no nome dos outros, da uma olhadinha no seu, JOCA LOUVA DEUS.... Continuar Lendo →
Sortilégio – Iolandinha Pinheiro
Ela apareceu, pela primeira vez, no final de uma manhã de outono; trazida pelo sopro frio do vento. Não tinha pressa, nem sabia o próprio destino; apenas ia em trajetória oblíqua, entre os troncos e cipós que lhe roçavam o vestido cinza. Quando chegou ao centro do bosque, sentiu que havia finalmente encontrado seu... Continuar Lendo →
Ausência – Amanda Gomez
Acordei sobressaltada, havia terra em meu rosto e boa parte do meu corpo estava coberto por ela. Tentei conter o pânico, não era a primeira vez, nem mesmo seria a última. Com dificuldades levantei, nada parecia ter mudado - escuridão, frio e a ausência. Observei a montanha que eu tão desesperadamente tentava escalar e senti... Continuar Lendo →
O afeto está servido – Anorkinda Neide
-Tá certo o troco, filha? - Sim, sim... claro. Heloísa guardava as moedas numa niqueleira e antes de pegar suas sacolas de compra, com as duas mãos segurou na mão da ervateira num gesto de carinho e agradecimento: - Obrigada, D. Rosa. Tenha um bom dia! Heloísa conhecia bem das ervas e seus poderes.... Continuar Lendo →
Joca Louva Deus – Renata Rothstein
Da vida, lembrava muito pouco. Quase nada, perto daquele troca-troca alucinógeno e alucinante em que vivia, desde muito cedo. Olhava com ares de nada para seu interlocutor e, balbuciando palavras quase ininteligíveis, ia explicando como fora parar ali, olhos perdidos no espaço, um espaço só dele, quase perfeito - não fossem as dores, muitas, e... Continuar Lendo →
Multiplicação do Amor – Vanessa Honorato
Às vezes eu me pergunto, se existe uma responsabilidade maior que outra. Sei que muitas pessoas, quando têm interesses, tratam tudo ao seu redor como sendo seu, mas, quando sabem que não terão vantagem alguma (ou terão desvantagens), simplesmente ignoram, mentindo para si mesmas que não tem nada a ver com a história. Tudo na... Continuar Lendo →
Ninhada – Elisa Ribeiro
Era um sábado quando ela apareceu na quadra onde morávamos. Vagou por um tempo até escolher a sombra do pequizeiro na frente da nossa casa para descansar. Era feia, mal cuidada e parecia adoentada. Sei que era sábado porque não era dia de escola. Fiquei observando da janela do meu quarto o jeito como... Continuar Lendo →
Os olhos de Maria – Rose Hahn
O diagnóstico precoce, e o avanço esfomeado da doença, não desvaneceram a minha determinação e a alegria de viver. Passei dois anos enxergando manchas esbranquiçadas, enquanto seguia titubeando pelas paredes e confiante na lista de espera. A nebulosidade do meu olhar enxergava as cores do arco-íris impressas nas recordações da mente. Quando abri os olhos,... Continuar Lendo →
A Renascida – Fheluany Nogueira
A Renascida — Primeira vez — Festa de aniversário. Minha amiga puxou a cadeira e eu bati com a cabeça no chão. Diante do susto aglomerado, a mãe dela explicou: — Bárbara tem uma bola de sangue na cabeça, levou três dias para nascer, foi preciso apertar uma carapuça na cabeça dela e aí endireitou.... Continuar Lendo →
Nascida para ricar – Catarina Cunha
Joanete veio ao mundo predestinada ao sucesso. Não esse de pobre de Bonsucesso que nasce na merda, trabalha como um jegue para morrer na beira da praia; com a aposentadoria contada para tomar uma água de coco, o remédio para artrite e pressão alta. Decididamente ela seria rica de terras a perder de vista, imóveis,... Continuar Lendo →
Cama de Rosas – Evelyn Postali
Quase amanhecia quando estacionou o carro em frente à garagem da residência. Não se preocupou em guardá-lo. E estava cansada demais para esperar. Cruzou o jardim, passando em frente ao canteiro de rosas. A estação mostrava a exuberância nas cores e formas. Ao entrar, encontrou a casa iluminada. Aquilo lhe pareceu incomum; não havia... Continuar Lendo →
O nascimento de uma mãe – Priscila Pereira
Quando percebi o resultado positivo no teste de gravidez, eu chorei. Não foi de alegria. Não, não foi de tristeza também. Foi de medo. Meu marido perguntou se eu não estava feliz, afinal, depois de seis anos de casados, iríamos ter nosso bebezinho. Ele não entendia. Como poderia entender? Como eu iria explicar que... Continuar Lendo →
A poesia, o sangue e o lixão – Sabrina Dalbelo
Ela amanheceu poesia. Estava inchada mas o sangue rimava com cor e com vida. Pedia aos céus uma estrela para encher sua casa de alegria. Sentir-se dentro de um balde vermelho e ardido não era de todo ruim. Em um canto da sala uma bela arte profana. Uma estátua de uma figura feminina de pernas... Continuar Lendo →
Pãozinho perfumado – Paula Giannini
(de Paula Giannini) A primeira coisa que sentiu foi dor. Duas bolas de ping-pong brotavam, em brasa, bem ali, dentro de seus mamilos. Não dava! Não para dormir de bruços, sua posição preferida. Com a cabeça de lado e os braços estendidos sob o peso do corpo, das pernas. A mão espalmada sob as coxas.... Continuar Lendo →
Gestação – Ana Maria Monteiro
Estarmos juntos era-nos tão natural quanto o existirmos. Nem imaginávamos que pudesse ser diferente. Tudo era perfeito. E o nosso conhecimento mútuo, de tão intrínseco, dispensava o diálogo – compreendíamo-nos por osmose, ambos solutos e solventes. Brincávamos muito. Éramos felizes, até por nem sabermos o que isso fosse. Naquele dia… Não, não naquele dia; não... Continuar Lendo →
A Lição – Sandra Godinho
(* Conto escrito por Sandra Godinho, baseado num post do Facebook) - Benção, vó! - Deus te abençoe, Miguel. Agora vá caçar o que fazer. Assim era minha avó: curta e pragmática. Não se deitava em afagos ou cortesias. Não perdia tempo com o que não fosse necessário. Também não perdia ocasião de ensinar. Com... Continuar Lendo →