distanciamento. esse é um belo exercício, e não falo aqui de distanciamento entre as pessoas, mas das expectativas delas em relação à uma ação. é entender que a gente age conforme nossos princípios, aprendizados, vivências e que, ao provocar uma reação exasperada no outro (que esperava algo totalmente diferente de nós), o foco não está... Continuar Lendo →
ANTROPOCENTRISMO – Juliana Calafange
Em algum astro no remoto rincão do espaço sideral, surgiu uma espécie de seres que julgou dominar tudo aquilo que estava ao seu redor. Foi o minuto mais soberbo da história do Universo. Mas foi apenas um minuto. Rapidamente esse astro congelou e esses seres desapareceram. (Filósofo anônimo. Codinome: Nietsche) Que o Homem se sinta... Continuar Lendo →
Garota Caveira (Vanessa)
"CORPO ENCONTRADO NA PRAIA BEIRA-MAR NORTE, FLORIANÓPOLIS" Segundo a Polícia Militar, o corpo de Breno Oliveira (29) foi encontrado na manhã da última sexta-feira (27). Ao lado do cadáver estava seu irmão menor (15) em estado de choque e muito perturbado. A perícia fez uma busca pelos arredores, encontrando várias garrafas de bebidas alcoólicas, cigarros... Continuar Lendo →
Trilátero Aurífero – Luciana Merley – Estreia
Os olhos dela esperavam, noite a noite, a rouquidão do último apito longo. Só anoiteciam de vez lá pelas onze e quinze. Uma última olhada pela greta da veneziana que era limpa por dentro e cinza por fora. O feixe de luz vindo da locomotiva parada lá atrás, decadente, esticava, esticava (...) até não poder... Continuar Lendo →
PERSPECTIVA – Juliana Calafange
De qualquer maneira, de helicóptero, o desespero é mesmo tranquilo; o desespero e a tranquilidade parecem ser, aliás, a mesma coisa, quando vistos daqui. Gonçalo M. Tavares - Visto de helicóptero Uma velha senhora toma chá junto à janela do seu apartamento, como faz todos os dias às cinco da tarde. Enquanto bebe o líquido... Continuar Lendo →
(Um)A Rosa – Paula Giannini
UmA Rosa Meio-dia. Sobre a mesa do restaurante, na praça, o gelo derrete no copo de suco. Ao lado deste - do copo -, o prato, a fome e a pressa, dispostos simetricamente, não mascaram o foco dos olhos, que mudam rapidamente para o outro canto, o da própria mesa. O da própria mão, a... Continuar Lendo →
Estou indo embora – Fernanda Caleffi Barbetta
O habitual beijo, aguardado nos lábios, foi desviado para a testa, e aquele gesto, após os demais que a vinham inquietando, pareceu-lhe o derradeiro. Desfez o bico seco e o observou alcançar a escada, os pés pesados ganhando os degraus, a calça desbotada, os sapatos precisando de graxa. Suspeitou que aquele fosse o dia em... Continuar Lendo →
O especialista – Elisa Ribeiro
Viam-se todas as terças e sextas. Ela, ainda de dentro do ônibus, atraída pela estranheza de sua figura, o observava caminhando, solitário, na areia. Ele a acompanhava com a respiração suspensa assim que ela dava as costas à praia e entrava no prédio de fachada vermelha: seu andar de princesa, as pernas longilíneas deslizando, o... Continuar Lendo →
Aquilo que se impusera – Elisa Ribeiro
Sentou-se no tapete em frente à janela. As pernas dobradas, as mãos sobre os joelhos, os olhos da gata da vizinha nos seus. Fechou-os. Pensou em si mesma como uma fruta em ponto de tombar ao chão de madura ou uma hortaliça em fim de ciclo na terra. Usava essa imagem para fazer-se imóvel, o... Continuar Lendo →
JARDIM – Juliana Calafange
Do telhado do edifício mais alto, eu olhava para o jardim de petúnias lá embaixo. O ar estava pesado, nem parecia primavera. Me sentia feliz, mas o termômetro e o barômetro confirmavam que as coisas estavam bem acima do normal. Puxei a Rolleiflex para fotografar o derradeiro frescor da vida, mas antes que eu pudesse... Continuar Lendo →
O Velho – Fernanda Caleffi Barbetta
(Fabíola vai até a cozinha, onde a mãe lava a louça) Fabíola – O que o Tião queria a essa hora?Mãe – Tião?Fabíola – É. Ele não tava na sala com o pai?Mãe – Era o velho. (Fabíola senta-se à mesa) Fabíola – Que velho?Mãe – Parece que encontraram um corpo.Fabíola – Corpo, que corpo?Mãe... Continuar Lendo →
Em Bom Português – Ana Maria Monteiro
Ele é um amigo da onça e não joga com o baralho todo, por isso o convite cheirava a esturro. Mas aceitámos e fomos de pé atrás e com a pulga atrás da orelha. Chegados ao restaurante o ambiente era de bradar aos céus e cheguei a pensar que tínhamos enfiado o barrete, quando o... Continuar Lendo →
Meninas e lobos – Elisa Ribeiro
Quatro da manhã em ponto, o instante em que os espíritos voltavam aos corpos, riu de sua própria desgraça. O cheiro nauseante a despertara, os olhos muito abertos, não voltaria a dormir, nem adiantava continuar deitada. O cheiro era uma alucinação olfativa, pesadelo recursivo, sem imagens, já estava acostumada. Sempre vinha acompanhado do ranger fantasmático... Continuar Lendo →
Delírio – Evelyn Postali
“Que pode uma criatura senão Entre criaturas amar” Amar o ser deitado ao lado E, no silêncio da madrugada, A rua inteira acordar? Voltando para casa do turno da noite, Mauro pensava em Jussara e no filho pequeno. Àquelas horas, estavam dormindo na casa mais humilde da rua, um puxado de uma água, do lado... Continuar Lendo →
O último incenso – Priscila Pereira
Aquela janela alegra os meus instantes desde que vim para cá. É meu único contato com o mundo lá fora. Passo quase o dia todo sentada de frente para ela, recebendo a vitamina D nos dias de sol e, mesmo quando o sol não brilha para mim, recebo a vitamina N de novidade, que faz... Continuar Lendo →
Quem quer? (Vanessa Honorato)
O sol brilhava forte no interior amazonense. A camisa de Jandir estava molhada nas costas e axilas, sinal de um longo dia de trabalho capinando entre as becas da pequena lavoura de mandioca, de onde tirava o sustento de sua família. Jandir pegou o cantil pendurado na lateral de seu corpo e sorveu um gole... Continuar Lendo →
Sopa Paraguaia – Paula Giannini
Ingredientes 2/3 de copo (250 ml) de óleo 2 Cebolas médias em fatias finas 2 Ovos levemente batidos 500 ml de leite 250 g de Flocão de Milho Colher rasa (de sopa) de fermento em pó Xícaras de queijo picado em cubos (minas ou meia cura) Queijo ralado (parmesão) Sal e pimenta do reino a... Continuar Lendo →
Uma noite de Insônia – Fernanda Caleffi Barbetta
Abro os olhos, e o quarto ainda está escuro. Olho para o rádio-relógio. São 3 horas da manhã e o sono já foi embora. O Paulo dorme placidamente. Sinto inveja. Viro pro outro lado. Começo a pensar nas coisas que preciso fazer quando acordar. Isso se eu acordar mais uma vez ainda hoje. Espanto os... Continuar Lendo →
Encarnado – Elisa Ribeiro
O espelho trincou do nada. Trinta anos pendurado na parede, trinta e um precisamente, desde que se instalara naquele sala e dois quartos. Não acreditava em maus presságios. Olhos exagerados, rugas e sarda apagadas, polvilhou no rosto o pó translúcido, última etapa da maquiagem; o batom, só na hora de sair de casa. A flacidez... Continuar Lendo →
Café com canela – de Paula Giannini
Ingredientes1 colher (chá) canela1 xícara de açúcar demerara Café Era cor de ouro. O céu de fim de tarde lambendo as mesas, o silêncio momentâneo do mundo às seis prometendo algo que há tempos desconhecia. Alento. Paz. Um algo qualquer que calasse aquela mão que se enfiara em seu peito e que se fechara crispando... Continuar Lendo →