Bem – Giselle Fiorini Bohn

Ele partira há três dias. Precisava voltar a comer, ela pensou. E parar de chorar. - Vou pedir uma pizza. O rapaz do outro lado da linha aguardava. - Err... quatro quei… Parou. Sempre pedira o que ele queria. - Palmito, por favor. Desligou e sorriu. Tudo ficaria bem.

O Que Nos Resta – Giselle Fiorini Bohn

Olho para meu filho, deitado no sofá, nesta tarde de nosso terceiro lockdown. As aulas foram suspensas mais uma vez, e um ano de seus nove foi passado assim: fazendo a lição de casa aos prantos pela manhã, e matando a tarde com o meu antigo celular nas mãos. Não, não era assim que deveriam... Continuar Lendo →

Paz – Giselle Fiorini Bohn

Ela só queria ter paz. Primeiro, apostou na religião: ia à missa, rezava o terço, fazia novenas. Aí passou à fase mística: tentou Reiki, tomou o chá de Santo Daime, buscou o sagrado feminino. Então veio a etapa niilista e, com ela, abraçou o ateísmo. Até que cansou de não acreditar em nada e recomeçou... Continuar Lendo →

Aura – Giselle Fiorini Bohn

- Você me ama? - Sim. A pergunta já lhe fora feita tantas vezes que ele respondia sem nem mais pensar. Começou pouco após conhecê-la; no início achou doce, então divertido, depois estranho, e agora era insuportável. A insegurança e a carência, que tanto o encantaram a princípio, passaram a exasperá-lo. Ele havia dito sim-claro-que-eu-te-amo-que-bobagem-isso... Continuar Lendo →

Aceitação – Giselle Fiorini Bohn

–  Eu vou te contar uma estória. Não existe? Não sabia. Bom, então tudo bem, vai ser uma história com h. Ah, não é verdade, não, é só uma historinha mesmo.  Era uma vez uma mulher, que sempre chorava. Chorava porque amava um homem, e amava tanto, e precisava tanto dele. E chorava e sofria,... Continuar Lendo →

Satélite – Giselle Fiorini Bohn

- Eu gostaria que a senhora falasse sobre o aspecto premonitório da literatura. Esse é um assunto interessantíssimo. Tantas coisas foram previstas pela ficção. Posso, como exemplo, citar Sinclair Lewis em 1935 descrevendo a ascensão de um populista idêntico a Trump, ou, aqui mais perto de nós, o Brasil distópico das obras de Inácio de... Continuar Lendo →

Rendição – Giselle Fiorini Bohn

Quando eu tinha quinze anos eu gostava de roer as unhas. Adorava tirar cada pedacinho, contorcendo minha boca até que não sentisse mais nenhuma farpa teimosa, até que meus dedos latejassem de dor. Mas eu não ligava, e eu os apertava uns contra os outros até que ficassem amortecidos. Roer as unhas era uma infantilidade,... Continuar Lendo →

Conforto – Giselle Fiorini Bohn

- Eu ouvi dizer que existe uma coisa chamada conforto... - Você acredita em tudo. A coragem na voz da menina apagou-se por um momento. Por que ele sempre fazia isso? Não que seu tom fosse rude ou prepotente; podia-se dizer até ser terno. Mas, com poucas palavras, tinha o poder de fazê-la sentir-se tão... Continuar Lendo →

Idiota – Giselle Fiorini Bohn

Ela fica dias e dias remoendo ressentimentos e rancores e repassando tudo o que vai dizer. Ele tem que saber o que ela sente, o quanto sofre, o quão terrível é seu descaso. E ela pensa e pensa e anda pela casa falando sozinha o dia inteiro e quando a noite chega ela não dorme... Continuar Lendo →

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