Uma beleza de estampilha antiga amolda o rosto do jovem que dobra camisas Na loja decadente da rua de baixo. Ele dissolve-se nas prateleiras abarrotadas de roupas masculinas de mau gosto. Sua face de esculturais traços é desumana. O humano é imperfeito, não comporta o êxtase que esse olhar azul instiga. Nem os pelos da... Continuar Lendo →
Para Inspirar – Novo Vírus – Tatiana Portela
Novo Vírus Tatiana Portella Abraçar uns aos outros era a ordem. Naquele dia todos os costumes eram os mesmos. Uns tomaram banho, outros só lavaram os olhos e escovaram os dentes e pentearam os cabelos. E foram comer. Alguns encontraram com outros moradores da casa. Havia pessoas na casa. Filhos, esposas, maridos, pais, mães e... Continuar Lendo →
A COPA DE 1970 (de Lenise M. Resende) – Para Inspirar
Armando era um bom homem, muito amado pela família e amigos. Depois de sofrer três enfartes, precisava se cuidar e evitar emoções muito fortes. Só que durante a Copa do Mundo não era fácil evitar emoções. Nos dias de jogos do Brasil, a família se preocupava, e a esposa acompanhava as partidas atenta as reações... Continuar Lendo →
Tatá na Jaquaribe – 20 (Márcia Maria Anaga) – Para Inspirar
Tatá na Jaquaribe - 20 (Márcia Maria Anaga) No encontro com a equipe multifuncional, composta por médicos, cardiologista, nefrologista e geriatra, assistente social e psicóloga, a família mensurou o grau da evolução da doença do avô. Naquela linguagem única de médico, depois de muito tentarem apaziguar o impacto do comunicado pelas palavras, o... Continuar Lendo →
FELIZ ANIVERSÁRIO (de Luisa Geisler) – Para inspirar
FELIZ ANIVERSÁRIO (de Luisa Geisler) As tias permaneceram no carro, Sofia e a mãe só buscam o bolo, questão de minutos. Saem da confeitaria, a mãe carregando, com as duas mãos, a caixa. No banco do carona, Juliana, a prima, destrava as portas. Os óculos de sol, a janela aberta e a camiseta de mangas... Continuar Lendo →
Distâncias – Carola Saavedra – Para Inspirar
(Publicado no jornal O Globo 2008) Eu sempre sabia quando ela chegava, não porque ela tivesse horários fixos, mas pelo barulho dos sapatos. Os saltos dos sapatos eram um latejar lento e contínuo a percorrer degraus, lances de escada, a escada que se estendia em estreitas curvas pelo interior do prédio. Enquanto isso, sentado à... Continuar Lendo →
Para inspirar – SERVO FIEL (MÉRCIA FERREIRA)
Ibraim abandonou o carro que apresentara problemas na estrada, e decidiu seguir a pé, sozinho, naquela madrugada fria e cinzenta, portando apenas uma lanterna. Já havia percorrido cerca de dois quilômetros, quando, em meio ao asfalto da rodovia, encontrou uma mancha enorme de sangue. Ele ajoelhou, conferindo que a poça de sangue que encontrara era... Continuar Lendo →
Para Inspirar – Rosto Nu (Sophia de Mello Breyner Andresen)
Rosto nu na luz directa. Rosto suspenso, despido e permeável, Osmose lenta. Boca entreaberta como se bebesse, Cabeça atenta. Rosto desfeito, Rosto sem recusa onde nada se defende, Rosto que se dá na angústia do pedido, Rosto que as vozes atravessam. Rosto derivando lentamente, Pressentimento que os laranjais segredam, Rosto abandonado e transparente... Continuar Lendo →
Para Inspirar: Maternidade (Kátia Muniz)
Quando uma mulher diz que optou por não ser mãe, eu respeito a escolha e não estendo o assunto com questionamentos ou ponderações. Nem todas nasceram para a maternidade. Carregamos o potencial de gerarmos a vida, mas nem sempre se tem a vocação. Porém, a opção pela “não maternidade” deve ser pensada e repensada para... Continuar Lendo →
Para Inspirar – Os Porcos (Júlia Lopes de Almeida)
Quando a cabocla Umbelina apareceu grávida, o pai moeu-a de surras, afirmando que daria o neto aos porcos para que o comessem. O caso não era novo, nem a espantou, e que ele havia de cumprir a promessa, sabia-o bem. Ela mesma, lembrava-se. Encontrara uma vez um braço de criança entre as flores douradas do... Continuar Lendo →
Para Inspirar – A Bela Adormecida (Martha Angelo)
A história que vou lhes contar agora é de uma era muito distante, uma época em que existiam rãs falantes e fadas poderosas... Era uma vez, há muito tempo, um rei e uma rainha jovens e belos, mas infelizes, porque não conseguiam realizar o sonho de ter filhos. — Se pudéssemos ter um filho! —... Continuar Lendo →
Para Inspirar – Os anões (Verônica Stigger)
Ele tinha a altura de um pigmeu, e ela batia na cintura dele. Os dois eram tão pequenos que mal alcançavam o alto da bancada dos doces. Ela dava saltinhos para tentar ver o que a confeitaria tinha de bom. Ele, mais circunspecto, espichava o pescoço, apontava o nariz para cima e aspirava fundo —... Continuar Lendo →