VômitoSentinojoquando dissetudo o que quisdizer,gritando,tudo o que queriaque euouvisse.Nojo,não das palavras,mas da suaboca,como se o asco residisseem quemvomitae não na comidaregurgitada.
Probleminha – Amana
Um gosto um tanto mórbido pela Matemática. Vivia entre números, racionais e irracionais. Apoteose? Não, sambar mesmo era na hipotenusa. A máscara da Bháskara sempre lhe coubera bem. Os ângulos? Para os agudos nada, para os rasos, quase tudo. Quase, dependia do grau de interesse. A menina nutria um amor tangente (ou pungente?) pelo professor... Continuar Lendo →
Vestígio – Elisa Ribeiro
VESTÍGIO Penetra a trama do meu vestidodesfaz o liso dos meus cabelosqualquer brecha é caminhoarrepia-me os pelos. Sibila nos meus ouvidosdelícias que eu não entendocerra meus olhos, prefiroalongue-se e seja lento. Dança comigo, aproveitameu corpo servil ao seu ritmopor um tempo até que a chama se extingasem deixar qualquer vestígioao sopro do próximo vento. (*)... Continuar Lendo →
Sem Saída – Fernanda Caleffi Barbetta
Construi uma casacom todas as janelas paradentro,do banheiro via a salado quarto via a cozinha.Não deixei portas para oexteriorpara que ninguém entrasse,e eu não conseguia sair também.De fora,faziam buracos nos tijolos,que eu tapava,apressada, ansiosa, nervosa.Hoje, quebrei as paredesinternasaté derrubar a que davapara fora.Mas a rua estavadeserta.
Vidro (Amana)
Abraçou o irmão, abraçou o pai. A mãe garantiu: haveria outras vezes, sempre que quisesse. A menina entrou no carro se agarrando a essa promessa. Do banco do carro acenou, sensação de algo se partindo, e não era o vidro da janela. Talvez um frágil bibelô. Homem e menino então foram sumindo, mais e mais... Continuar Lendo →
Tropeço – Elisa Ribeiro
Porque olhava adiantenão no espaço — o chão abaixo,o imediato à frente —mas no tempo o mundo transfigurado as dores próprias e as dele que ainda não sabia, mas que viriam e a névoa que lhe embaçaria... Continuar Lendo →
O tempo que o tempo tem* (Amana)
O tempo que o tempo tem é o tempo de um sorriso, do leve movimento dos lábios até se abrir por inteiro como o desabrochar de uma flor. O tempo que o tempo tem É um tempo só dele, não adianta tentar fazer de conta que não percebemos sua contagem Ele brinca, ah, esse tempo,... Continuar Lendo →
Tempo e espaço – Fernanda Caleffi Barbetta
Há espaços por entre as fendas do tempo,onde derramo, em cada vão, os meus instantes.Horas errantes a preencher todo Espaço,no vai-e-vem que torna o hoje como dantes. Será vão o tempo à espera de seus versos.Há de ser urgente o voo aguardado, jamais previsto.Que as asas sustentem o peso doce das palavrasSerão menos leves os... Continuar Lendo →
Mosaico – Amana
Tenho sorrido após as lágrimas Tenho chorado depois do riso forçado Muitos pedaços de mim estão perdidos Ou talvez só adormecidos Cansados esgotados Seria bom contabilizar quantos cacos? Qual é a forma do mosaico que hoje eu carrego? (27 set 2020) Esse poema é dedicado a todos os que não conseguiram juntar seus cacos... Continuar Lendo →
A poesia do outro (Fernanda Caleffi Barbetta)
Não vejo graça em ler o que escrevo.Gostoso é pousar os olhos nos escritos do outro.Igual comida que a gente mesmo faz,não tem sabor,falta tempero.O problema é que ler o outroàs vezes me dá gastura.Quando a coisa é boa mesmodá uma sensação amarga de desejar ter escrito aquiloe não poder mais.Plágio é crime.Outro dia, pedi... Continuar Lendo →
Em Praga, um cisne (Elisa Ribeiro)
Branco é o animal ferido,as asas de anjo encolhidas,prostrado no asfalto frio.Seu parceiro de uma vida,o coração partido,desliza sozinho no rio. Isso, o amor desfeitoantes do anjo caído,intriga o turistaque escorrega pelas ruas da cidadetambém sozinho,em despedida. Pensa em salvá-lo— tão alvo, tão liso —com aquele bico indefinidose de tédio, maldade ou riso.Mas vai molhar... Continuar Lendo →
Desejo – Fernanda Caleffi Barbetta
Postou-se ao meu lado,a respiração acelerada, ansiosa.Desejava que eu lhe notassea presença,que eu erguesse a cabeçae lhe encarasse os olhos,lhe fitasse os lábios.Mas retive minha atençãoaos seus sapatos,que, pouco a pouco,se afastaram,deixando para trása respiração acelerada, ansiosa,que talvez fosse minha desde o início.Ignorando o desejo,que talvez fosse somente meu,de que me notasse eme encarasse os... Continuar Lendo →