A cada enxadada, fincando o chão seco, duro e praguejado, o suor escorrendo pelas costas abaixo, sob um sol impiedoso, Gregório, involuntariamente, matuta. Se ao menos essas lembranças o abandonassem um pouco, a força dos braços seria mais viva. Qual o quê! Ferem seu corpo como espinhos, ficam como acordes de tristeza a lhe tocarem... Continuar Lendo →
Dos Amores Divididos e Multiplicados (Regina Ruth Rincon Caires)
Arroz, feijão, mexido de ovo e farofa de torresmo. Tudo misturado, amassado. Isso era feito dia após dia, sempre nos mesmos velhos e descascados pratos de ágate. Cada neto era servido com esse manjar dos deuses, carinhosamente temperado de generosidade, doação, amor. A avó compactava a comida no círculo central de cada prato, borrifava algumas gotas de limão-cravo, e... Continuar Lendo →
Flor-de-Capitão (Regina Ruth Rincon Caires)
O quarto menor da casa era reservado para as visitas. Apenas a cama e um velho baú de madeira, reforçado com tiras de metal, compunham a mobília. As alças do baú já não existiam, sobraram apenas os sinais do encaixe. A chave ficara perdida em algum lugar, nas muitas mudanças. Colocado sobre pilhas de tijolos, que o erguiam do... Continuar Lendo →
O mendigo do Viaduto do Chá (Regina Ruth Rincon Caires)
A moeda corrente era o cruzeiro. A passagem de ônibus custava sessenta centavos. O ano era 1974. Eu trabalhava no centro da cidade, em um banco que ficava na Rua Boa Vista. Morava longe, quase ao final da Avenida Interlagos, e usava diariamente o transporte coletivo. Meu trabalho, no departamento de estatística, resumia-se a somar... Continuar Lendo →
Dores e Amores (Regina Ruth Rincon Caires)
Ajeitada na velha cadeira, na calçada da pequena hospedaria que administra, Carminda observa a noite que cai. O costumeiro xale a lhe cobrir os ombros, os pés metidos em sapatos de pano, aspecto que em nada lembra a menina cheia de ideias que fora um dia. Desolada, de cabelos brancos, opacos, olha o movimento rotineiro... Continuar Lendo →