A moça do balcão, embonecada no modelito laranja madura, informa que o voo vai atrasar só trinta minutos. Peço um pão de queijo. Credú! O preço está nas alturas. Faço o sinal da cruz e embarco no buzu aéreo. O manete do motor está devidamente posicionado para as manobras de descida; o sujeito ao meu... Continuar Lendo →
“Sobre Meninos e Lobos” – Rose Hahn
O clarão da lua cheia revelou a face amarronzada da criatura, os caninos afiados, a pelagem farta. O eco do uivo nervoso viajou apressado, da calçada de concreto até o quarto verde-oliva. Ela arregalou os olhos encardidos de sono − o som familiar retumbou na cabeça de porongo. Num rompante, o lobo deu um salto... Continuar Lendo →
A mulher do quarto ao lado – Rose Hahn
Flora passeou a mão ornada de dedos longos e finos nos cabelos amarelados, de corte retrô; pinçou fios avulsos atrás da orelha enfeitada com enormes argolas douradas – um tanto desproporcionais no rosto arredondado e miúdo. O suspiro de hálito quente esquadrinhou o quarto habitado por livros e mais livros, amontoados em prateleiras gigantes, jogados... Continuar Lendo →
Devoção – Rose Hahn
A vidinha pachorrenta entrou cambaleante no mês de abril. Aguardo o milagre da profundidade empanturrando-me de chocolate. Os botões do suéter xadrez estão gastos do ruminar melancólico de uma existência imponderável. Amizades rasas, casamento raso, tal qual o prato raso remexido de garfadas apáticas. O menino Jesus bem que podia me inspirar com esse negócio... Continuar Lendo →
Mampituba – Rose Hahn
– Mãe, onde fica Mampituba? Ela olhou pela janela. Os postes na estrada viajavam apressados. Estavam a pelo menos 200 quilômetros de distância do rio que divide os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, subindo em direção a Serra Gaúcha. Pensava de onde diachos o guri ouvira falar do rio Mampituba, quando... Continuar Lendo →
Os olhos de Maria – Rose Hahn
O diagnóstico precoce, e o avanço esfomeado da doença, não desvaneceram a minha determinação e a alegria de viver. Passei dois anos enxergando manchas esbranquiçadas, enquanto seguia titubeando pelas paredes e confiante na lista de espera. A nebulosidade do meu olhar enxergava as cores do arco-íris impressas nas recordações da mente. Quando abri os olhos,... Continuar Lendo →
Meu nariz de buldogue, às vezes de poodle – Rose Hahn
Um dia antes dos grandes olhos glaciais mergulharem na viagem de retorno à casa do Todo-Poderoso, ela entregou-me uma carta e pediu para eu procurar o meu pai. Sim, eu tenho pai. Agora. Agora eu sei que ele não morreu na guerra, nem foi comprar cigarros e tampouco pouco abduzido por um E.T. Tinha a... Continuar Lendo →