Carmem surpreende o marido remexendo a gaveta das camisetas.
— O que foi? Procurando a listrada? Acabei de tirar da máquina.
— A lâmpada, achei que tivesse colocado aqui.
— As lâmpadas ficam na despensa, naquela caixa transparente. Por que teria uma lâmpada aí?
Coloca o cesto de roupas limpas sobre a cama.
— Não, não essa, a do gênio.
Ela joga a camistea de volta no cesto.
— A do gênio? Mas é pra casos extremos. Aconteceu alguma coisa?
Roberto bate a gaveta com força.
— Aconteceu sim. E é extremo, extremíssimo.
Carmem se aproxima, tentando não pensar no pior.
— Fala, Beto. O que foi?
— O Joca.
Ela coloca a mão no peito.
— O que tem o Joca? Fala, Beto. É doença?
— Ele vem pras festas. E falta pouco mais de uma semana.
— Sim, isso eu sei. Mas e o que é que tem?
— O que tem é o que não tem. Não tem um carro na garagem, não tem um projetor na sala, não tem uma piscina no quintal.
Ela tira a mão do peito e joga os braços para o alto.
— Então você quer despertar o gênio para fazer os três pedidos. Um carro, um projetor e uma piscina? Faça-me o favor.
Roberto chuta a cômoda e sai do quarto, esbravejando.
— Não, eu pediria dinheiro, seria um só pedido e poderia comprar isso e muito mais. Não me chame de burro. Faça-me o favor você.
Durante toda a semana, enquanto Carmem prepara a casa para receber a família, Roberto revira cada cômodo à procura da lâmpada. Não encontrando, tenta convencer a esposa a indicar o esconderijo, dizendo que aquela seria a melhor forma de usar os desejos, que todos ficariam felizes, que era bem capaz de eles acabarem morrendo antes de aproveitar a sorte grande de terem recebido aquela lâmpada.
No dia 23 de dezembro, a casa está arrumada, a geladeira, cheia, Carmem, feliz, Roberto, irritado. Assistem ao noticiário, quando a âncora anuncia que um avião vindo de Paris havia caído a poucos quilômetros do aeroporto de Cumbica.
Ela leva as duas mãos ao peito, ele se levanta do sofá, em um pulo.
— Dentro da minha bota de borracha, em cima da estante, lá na garagem, Beto.
Adorei!
Humor e crítica!
Cheguei a sorrir um riso amargo no final.
Parabéns!
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Adorei o conto. Ágil, fluido, dinâmico. O final dá aquela virada própria dos melhores contos.
Também arriscaria dizer que dá uma cena de peça de teatro.
Acho que o texto já foi bem lapidado e não tenho nenhuma contribuição a fazer.
Parabéns!
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AAAAAH QUE LEGAL, AMEI!
Aí sim, trazer humor para as festas e desejos de fim de ano foi uma ótima sacada. Rápido, bem alinhavado, gostoso de ler, maravilhoso.
Obrigada!
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Conto muito bom, escrito com toques de humor, trazendo um final que dá uma guinada… me fez lembrar de A Pata do Macaco, conto sobrenatural do autor W. W. Jacobs.
Qual seria o desejo do casal feito ao gênio afinal? Resgatar alguém do acidente de avião? Joca era o filho deles? Aí a trama se assemelha ao conto que citei.
Parabéns pela humorada/sobrenatural participação no desafio.
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O conto começa surpreendente com o tipo de lâmpada que o homem procura. Aí o homem se frustra, a mulher segue com a vida e VAPO! O destino muda tudo e eu não vou dizer mais nada para não dar spoiler. Mas eu gostei muito. Humor, sagacidade e uma reviravolta do balacobaco. Amei.
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Eu ri no começo, por causa da lâmpada. Marido inconsequente, né? Querendo gastar os pedidos com coisas para impressionar o convidado de final de ano. A mulher, toda centrada, organizando tudo para as festas. Lendo as passagens, questionei-me sobre esses papéis dentro do lar. Porque, normalmente, é assim mesmo. Não importa o grau de escolaridade, a famigerada classe social, a ocupação profissional… Vira e mexe, lá estamos nós, mulheres, em afazeres domésticos, organizando tudo, mostrando o discernimento entre o necessário e o supérfluo. No final, a reviravolta, o material contra o espiritual.
Um conto para pensar, simples e direto.
Parabéns pelo texto.
Abraço!
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Querida Contista,
Feliz 2023!
Seu conto é leve e divertido, além de brincar com a máxima do gênio da lâmpada e seus três desejos.
Na Tunísia, eles amam Aladin e sua lâmpada e vendem lâmpadas lindas no Souq. Me arrependi de não ter trazido uma…
Vamos ao conto.
Calcado nos diálogos, o texto nos permite enxergar a cena quase como em um texto de dramaturgia. E, embora não tenha esta estrutura, uma mexida aqui e ali transformaria o conto em uma cena perfeita para uma comédia de casal.
Um certo toque nonsense é a cereja do bolo. O casal tem uma lâmpada com um gênio guardada para emergências na garagem?! Sensacional. Se nunca usaram, é porque gostam da vida que levam mas, é interessante notar que aqui há uma mensagem: cuidado com o que desejas!
O final, quase aberto, dá corda para a imaginação do leitor. Vão ressuscitar o que julgo ser um casal de irmão e cunhada?
Minha sugestão de estranhamento vai para: “Procurando a verdinha?”. Sei que era a camisa, mas soa como dinheiro ou maconha, não acha? Na sala de roteiro essa fala seria chamada de “falsa pista”, algo que indicaria a personalidade do marido, ou do casal dependendo do conhecimento de mundo do leitor.
Aqui, também acho que encontrei outra “falsa pista”: “Ela joga a calcinha de volta no cesto”. Tive que reler pois pensei… Não tinha percebido o clima de sedução. E não tinha. Mas a palavra calcinha, ou o ato de jogar de volta, pareceu um balde de água fria na mulher…
Para além de meus comentários bobos, porém, há aqui um ótimo texto, cheio de verdadeiras pistas para o leitor como: Beto é quase uma criança, e mente sobre seu status social para o irmão ou amigo. Isso é ótimo, mostra uma escrita madura que não entrega tudo ao leitor.
Seu texto traz o humor e leveza ao desafio!
Parabéns.
Beijos
Paula Giannini
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Humor, agilidade e um final quase aberto, que deixa espaço para o leitor tentar preencher algumas lacunas que o texto não entrega. Acho que você se valeu de uma ideia original para o tema meio assim-assim, digamos, previsível do desafio o que aumentou o frescor do seu texto e nosso prazer em lê-lo. Meu momento estranhamento vai para o trecho “Ela tira a mão do peito e joga os braços para o alto”, acho estanho tirar a mão do peito. Eu diria apenas que ela joga as mão para o alto. É isso, contista maravilhosa. Acho que sei quem você é. Feliz Ano! Beijos
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Olá. O marido querendo usar um desejo para impressionar a visita, que julguei ser irmão ou cunhado dele. A esposa, esperta, não deixa a lâmpada em fácil acesso, resguardando os pedidos. O final não foi legal, aconteceu algo fora do esperado e então a lâmpada finalmente seria usada, mas para que? Evitar o acidente? Um texto divertido. Recentemente li um livro de romance chamado Três Desejos, onde a protagonista teve a chance de receber três desejos em uma experiencia de quase morte, mas os desejos tiveram consequências… Abraços e um feliz 2023. ❤
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Conto bem-humorado, ágil, com uma mensagem que deixa várias reflexões sobre o papel da mulher. Adorei!
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Olá Fernanda, gostei muito, está muito engraçado e detalhado
Parabéns
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Que legal receber seu comentário, amigo. Muito obrigada.
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