A primeira coisa que Júlia viu, ao entrar na igreja de braço dado com o pai, foi a cabeleira ruiva de seu futuro marido. Agradeceu pelo véu que cobria seu rosto e ocultava sua expressão de surpresa. Via o patriarca espiando, tentando descobrir o que pensava. “Como ele pôde escolher um homem ruivo?”, quase deixou escapar. À medida que se aproximava do carcereiro que a manteria, segundo sua família, segura e estável, como uma dama deve passar o resto de seus dias, conseguiu notar as sobrancelhas fartas, cor de cobre, franzidas, dando um ar de revolta a um rosto nada amigável.
O forte odor de inúmeras espécies de flores, agrupadas sem algum senso de elegância, aumentava a dor de cabeça que começara logo após ouvir a sentença: “Júlia, querida, seu pai arrumou para você um ótimo pretendente. Jovem, rico e saudável. Arrume suas coisas, meu bem, o casamento será no domingo”. E a música que jorrava do órgão, quase trincando as vidraças, só servia para abafar sua voz interior que berrava: “foge!”.
Chegando ao altar, sentiu o bigode do pai arranhando sua pele sob o véu, alguns segundos antes que fosse quase empurrada para os braços do carrasco. Olhando assim de perto, notou as sardas e os olhos verdes, como os de Galileu, seu gato, o que acalmou um tantinho as batidas estrondosas do seu coração. Ele levantou o véu devagar, como se quisesse alongar a surpresa de como seria a aparência de sua noiva. Não conseguiu ler em sua expressão nada além de tédio, nem um ar de reprovação nem a mais leve excitação. Nada.
Não se lembrava de como a cerimônia terminara, nem como havia sido a festa, tampouco o caminho até sua nova casa, da qual também não pudera enxergar nem a fachada, já que a lua não dera o ar de sua graça. Depois de tantas emoções, cheiros, sons e rostos, de repente, Júlia se vira sozinha num enorme quarto decorado no estilo colonial, com sólidos e sóbrios móveis, onde só as alvas cortinas de renda da cama traziam um ar jovial de pureza ao ambiente.
Sabia mais ou menos o que esperar. Sua mãe dissera que seria embaraçoso, repugnante e dolorido, mas que deveria se portar como uma dama, evitando demonstrar qualquer emoção negativa. Apressou-se em tirar o vestido de noiva e, depois de refrescar-se, vestir a camisola preparado para a ocasião. Soltara também os cabelos, que se espalhavam pelas costas em ondas, da cor de assoalhos recém-encerados.
Sentou-se na cama e esperou. Cada segundo martelava seus ouvidos, mostrando que o homem não tinha pressa. Quase uma hora depois, ouviu passos no corredor e uma batida apressada na porta. Sem esperar a resposta, Thiago entrou, franzindo as sobrancelhas. Júlia se levantou e afastou-se um pouco da cama.
—Me perdoe… Júlia, é isso? — limpou a garganta enquanto ela assentia. Notou que sua voz era grave e áspera, e que ele ainda estava com a roupa que usara no casamento. Ele chegou bem perto dela, como se inspecionasse uma encomenda que acabara de receber.
— Júlia, sinto muito frustrar suas expectativas… — disse passando os olhos demoradamente por sua camisola rendada, que mostrava muito mais do que ela gostaria de revelar a um estranho — Mas não pretendo tomar posse do que é meu essa noite. Na verdade, pode dormir sossegada e gozar de completa paz de espírito porque não pretendo consumar nosso casamento. Bem, boa noite, se precisar de algo, qualquer coisa, peça a um dos criados. Adeus!
Saiu tão rápido quanto entrara, deixando atrás de si um leve perfume amadeirado.
No dia seguinte, viu todo o esplendor de sua nova casa: quadros de artistas famosos, estátuas, enfeites caros, tudo mostrando o excelente gosto do dono da casa. A biblioteca era sensacional, poderia viver ali para sempre. Jardins de inverno, estufas, uma fonte. Um verdadeiro paraíso.
Foi apresentada à sua cunhada, Camila, única irmã de seu marido, ainda no auge da adolescência. Menina adorável! Seus cabelos ruivos, as sardas e os olhos de gato caiam perfeitamente nela, realçando uma personalidade alegre e exótica. Logo ficaram amigas. Via Thiago unicamente durante as refeições, onde ele tentava ser tão amável e atencioso quanto se esperaria de um bom marido.
Um dia, numa de suas expedições pela casa, descobriu um aposento iluminado por janelas enormes, onde materiais de pintura misturavam-se a vários quadros, todos estampados com o rosto de uma mulher. Loira, olhos castanhos cativantes, sorriso discreto e pele rosada. Uma mistura de surpresa e curiosidade a impulsionava a continuar ali, mas o medo de que fosse pega bisbilhotando foi maior e saiu apressada de lá.
Na primeira oportunidade, perguntou à Camila quem pintava as telas e, o mais importante, quem era a modelo. Descobriu que seu marido sempre fora apaixonado por Cecília, uma amiga de infância. Eles chegaram a trocar juras de amor, mas, sem explicação alguma, a moça marcara casamento com um conde, deixando Thiago arrasado. Foi assim que, movido pelo ciúme e despeito, arranjou casamento na primeira oportunidade e marcou para uma semana antes do dela, que por sinal era naquele dia.
Não viu Thiago na semana seguinte. Sentia raiva e vergonha de ser uma mera peça no joguinho de vingança dele. Como seu pai pudera arranjar um casamento tão vil? Mesmo sabendo que ele não viria, passou a trancar a porta do quarto.
Eita que eu já quero saber o próximo capítulo. Será que eu precisarei esperar um mês? Adorei. Tão interessante, curioso, emocionante capítulo! Adoro quando pego textos que tenho vontade de saber o que vai acontecer, e vc é muito boa nisso. Um grande abraço, menina. Gosto muito de vc.
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Acho que dessa união com início nada promissor nascerá um grande amor, Pri.
Gostei do primeiro capítulo, a ambientação é perfeita, a descrição dos personagens também, agora é aguardar o próximo capítulo.
Amei,
Bjokas
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Fiquei curiosa! O que acontecerá com esse improvável casal? Conhecendo o romantismo da autora, suponho que no final estarão felizes e apaixonados. Mas até lá, imagino que uma trama de suspense e romance será belamente construída. Aguardo ansiosa o próximo capítulo. ❤
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Uau!
ótimo primeiro capitulo.
Como já li muitos romances, imagino o que virá..mas quero q vc me surpreenda!! kkk
abraços, Priscila
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Tenho um certo receio com romances, prefiro sempre o terror e suspense, acredito mais no medo do que no amor. Maaaas, esse capítulo me prendeu. Não foi um episódio dramático e chato, muito pelo contrário, em poucas linhas já me afeiçoei pela personagem, e lógico, quero saber mais. Bjs ❤
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Uau! Ansiosa pelo capítulo 2, pois este aqui estácom um gosto incrível de “quero mais”.
Gosto de suas histórias com certo tom clássico: o triângulo amoroso, o desprezo na primeira noite que acabará por ser um incentivo, tenho certeza, a irmã que se torna amiga.
A escrita é muito boa, segura, e com construções frasais bem elaboradas. Boa dose de suspense e ritmo perfeito, a leitura agradável. As cenas se formaram com clareza e a narração foi eficiente.
Parabéns, Priscila! òtimo trabalho. Já começou a escrever o seguimento? Vamos lá… Beijos.
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Muito legal ter dividido esta história em capítulos porque certamente ainda tem muito a acointecer. Suspeito de um amor brotando ai entre o casal recém-casado.
Muito boa a descrição das cenas. Gostei do clima de romance de época.
“E a música que jorrava do órgão, quase trincando as vidraças, só servia para abafar sua voz interior que berrava: “foge!”” – muito bom isso. Beijos e parabéns. Aguardando o próximo capítulo.
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Olá, Priscila!
Que ótimo começo! A ambientação é primorosa e nos dá um gostinho de quero mais!
Ansiosa para o próximo capítulo! 🙂
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Oi Priscila,
Demorei, mas cheguei.
Que delícia de história de amor. Ansiosa pela continuidade.
Parabéns,
Beijos
Paula Giannini
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Menina! Isso dava uma edição de Contos Românticos Históricos e dos bons, rsssss… Gostei muito da narrativa, bem envolvente e num ritmo bom de leitura, sem muitos devaneios. Claro que vou ler a continuação!
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