História de amor – Ana Maria Monteiro

Daniel era um rapaz em torno de quem as raparigas volteavam como borboletas entontecidas. O caso não era para menos, nem de admirar: filho do homem mais rico lá da terra (embora esse pai tivesse um passado algo obscuro que ninguém questionava por razões óbvias), ele era o “homem perfeito”. Logo a começar, pela vasta herança que lhe calharia, mas como se tal não fosse suficiente, ele era alto, bonito e galante como os actores dos filmes americanos por quem todas as raparigas lá da terra suspiravam.

Mas Daniel só tinha olhos para Isabel. Aquela menina, a quem todos apontavam a dedo devido à sua forma intempestiva de ser e de estar. Isabel fascinava-o e a sua ideia, fixa nela, não o deixava dormir em sossego noite após noite. Mas Daniel tinha por essa altura 28 anos e Isabel apenas 13, e, embora talvez a família dela (pobres, trabalhadores e ignorantes) não se fosse esquivar a uma aproximação sua, Daniel achava que tinha por obrigação esperá-la e ter esperança em que o seu coração voluntarioso o escolhesse.

Talvez por isso, ou pela sua própria natureza de rapaz sem necessidades nem obrigações, numa terra em que todos o reverenciavam devido à sua posição económica privilegiada, Daniel habituou-se a sair de casa todas as noites procurando nos braços de outras mulheres uma sensação semelhante à que sonhava encontrar se fosse ela a sua companhia. O facto de a realidade ficar sempre muito aquém das suas expectativas não o levava a desistir dessa busca, mas desviava-o para outras actividades igualmente lúdicas que lhe proporcionavam excelentes descargas de adrenalina. E foi assim que se tornou jogador.

Isabel continuava a crescer e mantinha aquele seu jeito selvagem, os ares fogosos e um génio tal que ninguém se atrevia a desafiá-la.

O crescimento, a evolução da adolescência para a juventude e a idade adulta, são processos extremamente rápidos, de que os próprios raramente se dão conta. Mas, neste caso, ao coração apaixonado de Daniel o tempo parecia desenrolar-se com uma lentidão devastadora.

Contactou então o irmão mais velho, Jaime, que vivia em Lisboa e nem conhecia, no sentido de saber se o receberia em sua casa. Como a resposta foi positiva e até animada, foi para Lisboa e passou os cinco anos seguintes com aquele homem taciturno que vivia sozinho num ascetismo peculiar que assentava que nem uma luva na sua figura miúda e frágil. O irmão, apesar das grandes diferenças entre ambos, recebeu-o bem, interessou-se por ele e conseguiram viver em bastante harmonia debaixo do mesmo tecto. Criou-se até entre ambos uma aproximação que anteriormente nenhum deles acreditava possível. Jaime, bancário, trabalhador minucioso e homem de convicções católicas e morais bastante arreigadas, cortara muito anos antes com todos os laços que o uniam à família do pai, quando este abandonara a sua mãe para vir a casar-se com uma mulher muito mais nova e de quem viria a ter este outro filho, Daniel, quase vinte anos mais novo do que ele.

Mas as diferenças entre ambos, em lugar de os afastar, aproximaram-nos. Daniel bebeu algum do bom senso de Jaime, chegando a abandonar por longos períodos, mas nunca em definitivo, os seus hábitos nocturnos com o jogo e as mulheres fáceis que povoavam as noites e as ruas da capital, e o irmão, que se dedicara a tratar e a sustentar a mãe até à recente morte desta, sentia o vazio deixado pela sua ausência ligeiramente atenuado pela companhia deste irmão mais novo, tão diferente de si e tão apaixonado por essa rapariga de que ele apenas conhecia o nome e a descrição dada por ele, cujos olhos apaixonados, lhe descobriam uma beleza e qualidades que nunca lá tinham estado.

Por fim, Daniel decidiu que era tempo de voltar. Isabel já teria então os seus vinte anos e convinha que se despachasse, não fosse outro avançar em seu lugar e ficar-lhe com a sua mulher de sonhos.

Teve sorte. Muita sorte. Foi tiro e queda.

Casaram menos de seis meses depois do seu regresso, numa união abençoada pela família dela e tolerada com alguma dificuldade pela dele, mas muito mal vista por quase toda a aldeia. Daniel era um partido cobiçado por todas as famílias com filhas casadoiras e Isabel mantinha o seu trato desabrido; e a aparência, antes selvagem, dera lugar a uma voluptuosidade que causava um mal-estar indefinido às mulheres e um bem-estar muito definido aos homens.

Contrariamente ao que diziam as más-línguas, apenas partilharam a mesma cama na noite do casamento. Nunca saberemos se Isabel teria recebido favoravelmente as investidas de Daniel, porque em plena década de quarenta, ele nem ousou tentá-las sobre a sua amada. O que sabemos é que aquela foi uma noite gloriosa para ambos. A vasta experiência que Daniel adquirira com prostitutas, levada à prática com o imenso carinho e devoção que sentia por ela, permitiram-lhe levá-la às alturas; por seu lado, Isabel, embora virgem, não era parva, nem cega, e tinha um talento e uma apetência especiais para toda a espécie de acasalamento.

A vida decorria sem sobressaltos. Daniel não fazia absolutamente nada, era supostamente um proprietário (na prática vivia à custa do pai) e Isabel preguiçava languidamente, de manhã na cama, e à tarde pela casa (o pai de Daniel também sustentava o lar e as criadas que o mantinham limpo e organizado). Adoravam dormir a “sesta”. Aquelas sestas deixavam-nos sempre exaustos mas felizes, e, com o tempo, o intenso rubor que provocavam às criadas, deu lugar a uma série de casamentos mais produtivos lá na terra e a uma nova prole de bebés que trouxe uma esperança renovada àquela aldeia antes bastante envelhecida.

Ao fim de dois anos ainda não tinham filhos e não havia maneira de Isabel engravidar. Claro está que o assunto era comentado à boca pequena um pouco por todo o lado e com o misto de censura, comiseração e satisfação que sempre acompanham as conversas dos invejosos.

Isabel tinha um imenso desgosto superficial por esta ausência de filhos; superficial, porque o seu íntimo adivinhava que a vida após eles, teria talvez outras recompensas, mas certamente não lhe permitiria continuar a ser a 100% aquilo para que sabia que nascera: ser amante. Daniel, esse sim, tinha um desgosto verdadeiramente sincero. Não nos iludamos: se Daniel olhasse para dentro de si, também encontraria essa pequena angústia do pós-filhos, mas ele não o fazia. O subconsciente masculino está bem mais protegido que o feminino e por isso o seu carácter tem normalmente menos cambiantes. Assim, Daniel era infeliz e Isabel apenas se sentia infeliz.

Esta pequena sombra, no entanto, em nada alterava a sua relação ou o amor que os unia; apenas levou a que Daniel procurasse de novo algum conforto diverso, não nos braços de outras mulheres, que isso não queria nem desejava, mas antes de novo na companhia dos antigos amigos para uns serões de jogo com muito álcool à mistura.

As sestas, essas mantinham-se. E as noites de amor, embora começando mais tarde, só raras vezes se viam inviabilizadas pelo excesso de álcool.

Por isso, muitas histórias se contaram, mas nunca se apurou a causa nem a forma da sua morte.

Certo é que, um dia à tarde, depois de pela primeira vez Daniel não ter dormido em casa e de Isabel quase ter enlouquecido a procurá-lo, foi encontrado morto na margem do rio que atravessava a aldeia. As marcas de violência eram tantas e tais que a polícia e o médico da aldeia tiveram grande dificuldade em fazer a vontade do pai e arquivar o processo atribuindo a sua morte a causas naturais. Mas os tempos eram outros e foi o que aconteceu.

É mais fácil imaginar a vida de Isabel a partir desse momento, do que tentar descrever o seu sofrimento. Fiquemo-nos pois pelos factos: a família de Daniel virou-lhe as costas, a sua recebeu-a de novo em casa, ainda que de muito má vontade. Isabel, claro está, não recebeu qualquer herança, porque o seu abastado marido era apenas um futuro herdeiro e nada tinha de seu a não ser o amor da mulher e um mar de dívidas contraídas ao jogo e que mantivera em segredo até que a morte o calou, mas que logo os seus credores deram a conhecer. Aqui, um pequeno parêntesis: o pai pagou-as todas e embora depois disso tenha deixado se ser um homem rico, conseguiu viver consideravelmente bem o resto dos seus dias. As pessoas da aldeia atribuíram tudo a Isabel, culpando-a por ter arrastado o marido por uma vida de luxúria e devassidão de que qualquer outra mulher teria sabido manter o seu homem afastado. Isabel provavelmente nem se deu conta de nada disto. Tinha passado a viver uma vida de clausura e abandono e entregara-se totalmente ao sofrimento pela perda de Daniel. Esta era a única forma como sabia viver: entregando-se. Primeiro fizera-o à vida e tivera uma infância e uma juventude solitárias mas felizes, depois entregara-se àquele marido que amava desesperadamente e continuara a ser feliz e agora entregava-se à dor de o ter perdido com a mesma plenitude das anteriores entregas mas sem qualquer felicidade.

***

Quando, meses mais tarde, foi comunicado a Jaime que o irmão tinha morrido, este foi ao Alentejo para confrontar o pai com o porquê de não ter sido levada a cabo qualquer diligência com vista a esclarecer as estranhas circunstâncias da morte de Daniel.

Jaime tinha por esta altura 59 anos e continuava a viver sozinho na mesma casa antiga de Lisboa onde primeiro acompanhara a mãe e que depois partilhara quase cinco anos com aquele irmão que de alguma forma chegara a amar.

O reencontro com o pai foi perfeitamente inútil. Os médicos tinham-lhe diagnosticado uma doença degenerativa do sistema nervoso (hoje em dia chamar-lhe-iam Alzheimer, mas nessa época ainda estavam pouco familiarizados com ela) e que o levava progressivamente a um estado de letargia que o afastava da realidade e de quantos a habitavam. A verdade é que o pobre homem, já na casa dos oitenta e também ele destroçado pela perda do filho que o deixara sem descendência e praticamente arruinado, se tinha recolhido para dentro de si próprio esperando apenas que a morte viesse buscá-lo e deixando que o manto do esquecimento se abatesse sobre toda a sua vida, proporcionando-se dessa forma alguma paz.

Jaime decidiu então procurar a cunhada de quem tanto ouvira o irmão falar e era agora a sua viúva. O estado em que a encontrou não era muito melhor do que o do seu próprio pai. Isabel tinha agora vinte e cinco anos, não era particularmente bonita (e nunca o fora muito) e sofria duma profunda apatia. Além disso, o desprezo e a rejeição da família, em nada ajudavam a que saísse dessa situação.

Jaime condoeu-se da rapariga e com base na velha tradição de casar as viúvas com o irmão do seu defunto marido, propôs-se-lhe como tal. Isabel aceitou. Era-lhe indiferente, naquela altura, o que faria com a sua vida e, perante o entusiasmo com que os pais receberam aquela promessa de genro mais velho que eles próprios, achou que nada poderia ser pior do que continuar a viver com eles.

Tudo foi tratado num relâmpago e Jaime casou com Isabel numa tarde de Outono que não ficou para a história por nenhum outro facto que não esse mesmo. Ainda nesse dia regressaram a Lisboa e nunca voltaram ao Alentejo.

No espaço de 2 anos, Isabel deu à luz dois belos rapazes, que vieram a tornar-se tão bonitos quanto o fora o seu próprio tio. Ao mais velho deram o nome de José e ao mais novo, o de Pedro.

Isabel foi lentamente renascendo para a vida, mas nunca conseguiu chegar a ser mais do que amiga do seu segundo marido; talvez tenha sentido por ele algum amor, mas de outra espécie. Por algumas vezes cumpriu, fora de casa, a sua vocação de amante, mas, não encontrando nela as alegrias de outrora, fácil e rapidamente se conformou em viver apenas para o marido e os filhos.

Já de Jaime não se pode dizer o mesmo, a verdade é que encontrou no casamento uma felicidade que o arrebatava e que nunca tinha sequer pensado em procurar. Foi um marido dedicado e um pai extremoso que se orgulhava dos filhos e da mulher para além de qualquer limite.

Conseguiu morrer de amor aos 98 anos, poucos dias depois da morte de Isabel, vítima de cancro, e que ele acompanhou em cada segundo na sua lenta agonia.

Não sabemos se terá ido para o Céu por ter levado uma vida sem mácula em que foi sempre e apenas uma boa pessoa ou se pelo contrário terá ido parar ao Inferno por durante quase quarenta anos incluir nas sua orações diárias um agradecimento sincero pela prematura morte de Daniel, deixando-o como beneficiário de Isabel, a sua única riqueza.

José e Pedro, já adultos, choraram a morte de ambos os pais num tão curto espaço de tempo. Mas a história deles é outra.

Ana Maria Monteiro

28 comentários em “História de amor – Ana Maria Monteiro

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  1. Olá! Adorei conhecer a história dos moradores de Alentejo. Gostaria muito de conhecer, também, a história dos filhos do casal, e, afinal, qual foi a causa da morte do jovem rapaz? Uma dúvida que persistirá…

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    1. Obrigada, Vanessa. Normalmente não sou muito clara e talvez tenha exagerado desta vez. Abro portas à interpretação, sem dizer o que se passa ao certo. Ainda assim, pensei que se percebia que Daniel teria sido morto numa noite de muito álcool e jogo devido às grandes dívidas acumuladas e que o pai depois pagou. Não precisa ficar em dúvida. Obrigada de novo.

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  2. Oi Ana, que delícia de conto… Esse é o segundo conto seu que leio e já adniro muito tua forma de escrever. Tudo flui tão docemente… Gostei demais de conhecer seus personagens tão interessantes. Parabéns!!

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  3. A narrativa prendeu minha atenção do começo ao fim. Sabe aquela sensação de estar com uma amiga que não vê há muitos anos e ela começa a lhe contar casos da sua vida? Então, li o conto com essa curiosidade familiar. Foi uma leitura muito agradável.
    Só queria mesmo saber o que aconteceu com Daniel.Foi assassinado devido às suas dívidas de jogo?
    Gostei muito do seu conto. Parabéns!

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    1. Obrigada Cláudia. Sim, foi isso, numa das suas noites de álcool e jogo, terá havido uma rixa mais acirrada e Daniel foi assassinado por essas imensas dívidas acumuladas. Um beijo.

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  4. Querida Ana,

    Tudo bem?

    Sem sombra de dúvida, você escreve muito bem. Seu conto é uma espécie de recorte na vida de uma família, de toda uma geração dela, na verdade.

    O que me impressionou foi a capacidade de contar uma vida inteirinha em apenas um conto.
    Confesso que senti um pouquinho de falta de um conflito mais exposto. Acho, também, se me permite opinar, que a solução para tal conflito deva estar justamente no motivo da morte de Daniel. Cheguei a pensar que o irmão, ou até a esposa, houvessem cometido o assassinato, mas, pela solução apresentada história, percebi que estava enganada.

    Talvez o conto faça parte de um trabalho mais longo. Nesse caso, acredito que as soluções aparecerão nos próximos capítulos. O texto aqui apresentado renderia, certamente, uma narrativa de maior fôlego. Um romance?

    Parabéns pelo belo trabalho.

    Beijos

    Paula Giannini

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    1. Olá Paula. Obrigada pelo seu comentário. Sim, o conto poderia dar uma história tão maior que você nem imagina. Mas eu quis contar apenas isso e fazer somente um conto. Mas ele foi inspirado por pessoas reais: existiu uma Isabel, feia que nem uma porta e ninfomaníaca, nascida no Alentejo e que casou com um Jaime muito mais velho que ela, 40 e poucos anos de diferença. Existiu esse Jaime que teve um irmão mais novo e que morreu jovem, não faço ideia de quê. O Jaime que eu conheci já muito velho, nunca me deu a ideia de ser crente ou não, como nunca soube se amava aquela megera horrorosa. Ele era bancário também e morreu com 98 anos, mas antes dela. E eles tiveram dois filhos lindíssimos, os quais, comentava-se, eram a cara chapada do tio falecido. Penso que ambos, ou pelo menos o mais velho, terão sido abusados sexualmente pela mãe, mas nunca consegui apurar isso em definitivo.Um desses filhos até se chamava José, o outro não era Pedro, desse inventei o nome. Porque foi o meu primeiro marido de quem enviuvei aos 30 anos. Ou seja, tudo aqui é romanceado excepto os personagens contrais com quem fui muito, mas muito generosa.

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      1. Querida Ana,
        A vida real pode ser mais inacreditável que os romances, não?
        Obrigada por dividir comigo as duas versões, a real e a romanceada por Ana Maria Monteiro. Cá entre nós, prefiro a sua versão.
        Parabéns mais uma vez.
        Beijos`
        Paula Giannini

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  5. Oi, Ana!

    Então, achei sua escrita boa no sentido de ser livre de erros, tanto de digitação quanto de concordância (pelo menos eu não os percebi). Gostei da trama devido à predileção por motes ligados a relacionamentos. Gosto de sotaques, de perceber vozes diferentes e de conhecer culturas. Se posso dá um pitaquinho, diria que a narrativa ficou um pouco arrastada devido a demora em apresentar os personagens. Achei brilhante a revelação do teor das orações do irmão mais velho, e digo que esse ponto, por ser engraçado e importante para trama, merecia um espaço maior.
    Gostei muito do seu texto, mas sinto que ele poderia ter um pouco mais de brilho se alguns pontos interessantes da trama fossem mais ressaltados.
    Parabéns!

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    1. Obrigada pela leitura, Maria Santino. Não compreendi a parte em que comenta a narrativa arrastada devido à demora em apresentar os personagens. Reli tentando analisar isso, mas não consegui chegar lá, ao que comentou. Para mim a história é, sobretudo, uma narrativa rápida, sobre o cruzamento de três personagens tão diferentes entre si, mas com uma ligação muito forte entre todos. Isto à mistura com umas pinceladas sobre como se coabita em pequenas povoações onde todos se conhecem bem. A crueldade inerente ao ser humano, torna-se bem mais patente em meios pequenos do que nas cidades. Então, se puder e quiser, explique-me melhor o que não entendi, pode ser? Obrigada e um beijo.

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      1. Olá, Ana!

        Então, o que quis dizer é que o texto se preocupa em apresentar a vida de cada um dos personagens em separado, e isso faz crescer a expectativa pelo conflito e clímax do texto. Ao meu ver se as situações fossem mais dinâmicas, o conto ganharia agilidade. Mas talvez isso seja questão de estilo e esse seja o seu.
        Um abraço!

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  6. Olá, Ana!
    Guria, que história rica para um romance de 200 páginas!
    Fiquei com muita vontade de ler detalhes sobre cada um destes acontecimentos, da personalidade de Isabel e do Jaime que acabou sendo um personagem bem forte com seus paradoxos, enfim personagens maiores do que este conto, sinceramente, quero um livro deles!
    Abração

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    1. Obrigada Kinda. O livro deles você nunca irá ler pois não será escrito, mas se quer saber um pouco mais, eu contei a história real, por trás da ficção, na resposta à Paula. Talvez fique ainda mais curiosa, mas pelo menos fica com uma ideia mais real dos verdadeiros Jaime e Isabel. Um beijo,

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  7. Eis que eu leio e sigo até o fim, como se conversássemos. Essa é a grande qualidade da escrita sua. Você tem uma narrativa fluída, que vai se desdobrando e nos conduzindo até o fim sem percalços. Sobre o tema… Nossas vidas são um emaranhado de acontecimentos. Vamos construindo relacionamentos, e vamos nos perdendo deles. Vamos amando, ou simplesmente gostando. E segundo para o inevitável final.
    Parabéns.
    Grande e carinhoso abraço!

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    1. Obrigada Evelyn. Normalmente, nem sempre, é assim que escrevo, sem sobressaltos e deixando algumas portas abertas para a imaginação divagar. Procuro uma escrita perceptível e agradável para qualquer pessoa. Se você gostou e se sentiu bem enquanto leu, não posso desejar mais. Um beijo.

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  8. O seu estilo de narrativa neste texto me fez lembrar dos contos do escritor uruguaio Horácio Quiroga, mas sem a parte do terror. Gostei da sua história, ela nos carrega pela mão e nos faz mergulhar na vida daquelas pessoas. No meio do texto achei que ele havia acabado e me entristeci com a sorte de Isabel. Mas aí veio a reviravolta e eu gostei muito do feliz desenlace. Lendo os comentários das colegas, bem como as suas respostas, vi que se embasava o caso em uma história real e muito próxima à própria autora. Aqui eu entendi que não poderia haver um conflito maior, com cenas mais dramáticas, pois o conto foi muito fiel ao que, de fato, ocorreu. A fluidez do texto foi excelente, e o conto me fez torcer pelos personagens. Parabéns. Um abraço.

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    1. Obrigada pelo seu comentário Iolandinha. Na realidade eu poderia, sim, ter feito o que quisesse dos personagens (aliás, fiz). A história nasceu sem personagens; quando isso sucede, eu procuro no “armário de registo de memórias” alguém real que ajude a dar-lhes corpo – foi o que fiz. A história não é a deles; apenas os nomes, as idades, a profissão dele e uma ou outra coincidência aproveitada. Acredite que os próprios filhos, se tivessem lido, apenas teriam percebido algo além de mera coincidência, se soubessem que tinha sido eu a escrever. Acho que, nesse caso, eles teriam ficado indignados comigo, por ter tratado tão bem a mãe.Ela não mereceria, efetivamente. Eu sabia e eles melhor ainda. Na verdadeira história daquelas pessoas ninguém acreditaria, penso. Este é um daqueles casos em que a ficção é bem mais credível que a realidade. Eu acho é que um conto deve contar uma história e não entendo que o conflito seja sempre necessário, muito menos obrigatório. Nunca frequentei, nem creio que venha a fazê-lo, nenhum curso de escrita criativa e sinto uma grande relutância em relação a isso. Existem umas pessoas que escrevem mais ou menos e têm todas a mesma cartilha, parece-me. Depois conseguem ganhar a vida a dar esses cursos e põem toda a gente a escrever da mesma maneira e dentro dos mesmos moldes. Não gosto disso. Aprendi a escrever, lendo. E escrevo com a mesma liberdade com que li. Não uso definições nem estrangeirismos para definir o que leio. Aliás, gosto mesmo de ler, é como leitora. Custa-me criticar. Porque quando leio, não penso, vivo. E no fim, fico com a sensação de ter sido bom ou não. Ler ou escrever é mais ou menos como fazer sexo: interessa a sensação, o que fica no fim. Faz-se por intuição desde o início e vão-se limando as arestas em busca da perfeição. E pode sempre ser melhor, mas não tem regras fixas. Para mim, não tem.

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  9. Oi Ana, a sua escrita demonstra alguém com intimidade com as palavras, madura, pronta. Gosto de saborear o português da sua terra, as palavras esculpidas, tão poéticas e melancólicas como um fado. As suas histórias de amores fluíram como a sua narrativa, fiquei com dó de Isabel. Que bom ter vc. por aqui, bjs.

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    1. Obrigada pela leitura e comentário Rose. Realmente é muito diferente a forma como portugueses e brasileiros usamos e escrevemos a língua (até muitas palavras têm grafia diferente). Costuma resultar agradável, às vezes demasiado estranho. Ultimamente tenho lido muito de autores brasileiros (só no entrecontos foi o que sabemos). Antes a minha experiência de leitura brasileira vinha mais dos vossos clássicos, que também são bem diferentes dos atuais. Às vezes ainda fico “empencada” nas vossas expressões, confesso. Mas é uma experiência enriquecedora. espero que isso seja mútuo. Um beijo.

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  10. Com certeza a história é interessante e tem fôlego para um romance. Você escreve muito bem e o leitor é levado a acompanhar o destino dos personagens, mas concordo com a Paula que faltou um conflito mais acentuado. Foi-nos apresentado o Daniel, acompanhamos sua história, no entanto ele vem a falecer. Talvez se você trouxesse a Isabel como personagem protagonista, poderia haver um conflito maior, um destino que se desdobra com os dois irmãos, mas essa é apenas uma sugestão. Muito bom!

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    1. Obrigada pela sua leitura e comentário, Wern. Ainda bem que gostou. Efetivamente, nem sempre sinto necessidade de criar conflito, e isso sucedeu aqui. Daniel morreu, faz parte da história. Mais tarde também Jaime e Isabel vieram a morrer. Uma história é uma história, com princípio, meio e fim. A dos filhos, tal como termina aqui, seria outra, mas essa não faz parte desta narrativa. Ao escrever, pretendi apenas contar esta história, e foi o que fiz. Poderia aumentá-la muito, claro. Mas não iria alterar o seu esqueleto que seria o
      mesmo. Alterá-la seria fazer outra e já escrevi muitas outras, que são isso mesmo, diferentes. Algumas com conflito, outras sem ele,algumas mais intimistas (quase todas) outras menos. Mas agrada-me receber críticas, são sempre úteis. Escrever é uma jornada de longa aprendizagem. E cada crítica é como um tijolo na construção do edifício/escritor, fundamental para a coesão do todo que nunca chega a ser final. Obrigada e um beijo para si.

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  11. Os elementos da realidade se mesclaram ao caráter ficcional construindo um relato emocionante. O seu olhar, Ana, dá à narrativa toda a autenticidade desses destinos que se cruzaram, de outra época e de outro mundo. É com se estivéssemos tomando um cafezinho na cozinha e você fosse contando a história da vizinha, em tom de cumplicidade e sem esquecer o “sotaque” adorável. Parabéns pela fluidez e pela competência. Beijos.

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    1. Olá Fátima. Obrigada pela sua leitura e comentário. Normalmente é isso mesmo o que tento alcançar ao escrever: um momento de cumplicidade e partilha com o leitor desconhecido. Quando o consigo, fico muito feliz. Foi o que sucedeu aqui. mais uma vez, obrigada e um beijo para si.

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  12. Oi, Ana Maria,
    Boa noite!!
    História de amor – belo conto, permeado de passagens que passeiam do céu ao limbo, alegrias e tristezas, muito de tudo que acontece nas nossas vidas.
    A cada parágrafo e a cada personagem eu via mil possibilidades de continuação-prosseguimento da história, o que realmente me prendeu a atenção.
    Viajei na vida de Isabel, Jairo e Daniel, e cá estou a pensar que, talvez, Jaime tenha assassinado o irmão, quem sabe?
    Parabéns, amei seu conto!

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    1. Olá Renata. Obrigada pela sua leitura e comentário. Fico feliz porque gostou. Na história que escrevi,Daniel terá sido morto numa rixa com os seus credores no final de mais uma noite de jogo e bebidas, mas o bom de ler e de escrever é que cada história tem tantas leituras, quanto os seus leitores. E é, em grande parte, nesse multiplicar de interpretações possíveis que reside a verdadeira riqueza da leitura. Um beijo.

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  13. Olá Ana,

    Adorei sua história e sua forma de narrá-la: concisa e escorregadia, um parágrafo nos lançando apressadamente para o próximo, de forma que não pulei sequer uma palavra.
    Acho que renderia, sim, um romance com um clímax na morte de Daniel e Isabel como protagonista de alguns episódios hot. Talvez você se divertisse escrevendo.
    Algumas pérolas de concisão me encantaram, por exemplo:

    “Aquelas sestas deixavam-nos sempre exaustos mas felizes, e, com o tempo, o intenso rubor que provocavam às criadas, deu lugar a uma série de casamentos mais produtivos lá na terra e a uma nova prole de bebés que trouxe uma esperança renovada àquela aldeia antes bastante envelhecida.”

    É isso, Ana. Parabéns pela escrita! Aguardo ansiosa as próximas histórias. Beijo.

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