CADEIRA DO DIABO – Juliana Calafange

Aqui nesse beco foi onde o Diabo se sentou para descansar. Descansar da vida no inferno, que é muito dura. Sem pausas para recreio. No inferno não há cadeiras para sentar. É preciso estar de pé, sempre. No inferno é tudo muito seco e quente, não há deleite, nem doce, nem bebida refrescante. No inferno… Continuar Lendo →

RENOVAÇÃO – Juliana Calafange

Nascida na capital da província, Akili fora para a aldeia ainda moça, para se casar com o filho do soba[1] local. Ao longo de trinta anos foi esposa dedicada, teve três meninos saudáveis e fez-se útil à sua comunidade, ajudando na lavra e também ensinando o português para as crianças, pois a maioria na aldeia… Continuar Lendo →

FIO DENTAL – Juliana Calafange

Enquanto passa fio dental nos dentes, Dr. Peixoto observa sua imagem no espelho. O velho espelho do banheiro está lá desde que comprou a casa, fazem já 24 anos. É um bom espelho, ele pensa. Sempre fora bom para ele. Sempre refletira sua imagem com elegância e sutileza, embaçando os buracos resultantes da acne adolescente… Continuar Lendo →

ANTROPOCENTRISMO – Juliana Calafange

Em algum astro no remoto rincão do espaço sideral, surgiu uma espécie de seres que julgou dominar tudo aquilo que estava ao seu redor. Foi o minuto mais soberbo da história do Universo. Mas foi apenas um minuto. Rapidamente esse astro congelou e esses seres desapareceram. (Filósofo anônimo. Codinome: Nietsche) Que o Homem se sinta… Continuar Lendo →

Sonho gostoso – Ju Calafange

Sonhei que estava no altar, ao lado do pai da noiva, que era o garçom do bar. Após algum suspense, chegava ela. Não havia outra mais bela, Vestida em folhas de manjericão. Disparou meu coração! Cogumelos adornavam seu vestido. O véu, todo derretido, era puro queijo com sabor de beijo.

Estranha Loucura – Ju Calafange

Estou amando e não importa Se essa paixão é torta Lamento que me digam, Alguns até me intrigam, Que sou exagerado, Que amar assim é pecado. Peço aqui meu perdão Mas não tem comparação Mussarela ou calabresa, champignon ou portuguesa. Amo todas, sem frescura. Porque pizza é minha loucura!

PERSPECTIVA – Juliana Calafange

De qualquer maneira, de helicóptero, o desespero é mesmo tranquilo; o desespero e a tranquilidade parecem ser, aliás, a mesma coisa, quando vistos daqui. Gonçalo M. Tavares – Visto de helicóptero Uma velha senhora toma chá junto à janela do seu apartamento, como faz todos os dias às cinco da tarde. Enquanto bebe o líquido… Continuar Lendo →

JARDIM – Juliana Calafange

Do telhado do edifício mais alto, eu olhava para o jardim de petúnias lá embaixo. O ar estava pesado, nem parecia primavera. Me sentia feliz, mas o termômetro e o barômetro confirmavam que as coisas estavam bem acima do normal. Puxei a Rolleiflex para fotografar o derradeiro frescor da vida, mas antes que eu pudesse… Continuar Lendo →

PINK – Juliana Calafange

Lembro sempre de você, estrelinha Pink! Seus olhos amendoados, o sorriso farto e sincero, rasgando a boca, mostrando os dentes sem vergonha nenhuma. Nos conhecemos no mais improvável dos momentos – um fim de festa – eu com frio e você com sono. Eu com raiva, cansaço, impaciência e você com amor. Demorei um pouco,… Continuar Lendo →

FÉ – Juliana Calafange

A Bahia. Terra de muita luz e axé. Onde todos os santos se encontram, se cumprimentam, se abraçam, se beijam. E entre carinhos envolvem e protegem os que por aqui passam, mesmo que não fiquem, como eu. Acabaram as férias, me despeço desse pedaço do paraíso na praia, nas areias famosas de Itapuã. Gostaria de… Continuar Lendo →

Vício silencioso – Juliana Calafange

São vinte um dias do segundo mês da terceira década do milênio, e há algo muito estranho acontecendo. Desde o ano passado, o silêncio parece ter desaparecido. Falo do silêncio propriamente dito. Não é aquele silêncio de quando a gente acampava no mato, som de insetos, grilos, corujas. Falo do silêncio mesmo, total. Um silêncio… Continuar Lendo →

Culturar – Juliana Calafange

Cultura popular, oriental e haikai Samba do brasileiro ensandecido e seu forró arretado de doido Cultuando o culturar Pela via do dia-a-dia Que é a rotina ardente não descontente Dos descamisados desnecessariamente úteis Dos yogues urbanos ufanos Dos mestres de rua do mundo da lua

RENOVAÇÃO – Juliana Calafange

Nascida na capital da província, Akili fora para a aldeia ainda moça, para se casar com o filho do soba[1] local. Ao longo de trinta anos foi esposa dedicada, teve três meninos saudáveis e fez-se útil à sua comunidade, ajudando na lavra e também ensinando o português para as crianças, pois a maioria na aldeia… Continuar Lendo →

BALANÇO – Juliana Calafange

De olhos fechados eu inspirava, expirava, inspirava, expirava. E assim fui suavemente me entregando ao balanço. Leve. Volátil. Doce. A morte deve ser assim. Embalado pelo mar da tranquilidade, abri os olhos devagar. Santa Maria, Pinta e Nina navegavam soltas pelo teto e meus sentidos lentamente percebiam a fria superfície sobre a qual meu corpo… Continuar Lendo →

SHERLOCK – Juliana Calafange

Seu Egydio sempre gostou de histórias de mistério. Desde menino, devorava tudo que era livro de Agatha Christie, Alan Poe, Conan Doyle, Simenon e companhia. Chegou a fazer curso pra detetive, mas quando viu que era muito arriscado e pouco lucrativo, desistiu da carreira. Acabou fazendo concurso público e virou funcionário conformado do Departamento de… Continuar Lendo →

ARDÊNCIA – Juliana Calafange

Noite alta, madrugada ainda, a mulher abriu os olhos e logo reconheceu a necessidade encalacrada na garganta. Precisava falar da sua covardia. Nunca lhe ocorrera falar sobre isso, pois lhe causava vergonha. Sempre. Mas é que hoje aquela covardia estava ardendo muito, mais do que já ardera antes. Hoje ela inflamava e urgia. Geralmente chegava… Continuar Lendo →

AZUL – Juliana Calafange

Minha amada imortal, Sinto-me tão envergonhado. Disseram-me que hoje amanheceste triste, com o olhar diferente daquele olhar vívido que sempre tiveste. E que isso foi por culpa minha, por causa das minhas atitudes. Sei que me acusas, meu amor – e tens razão em fazê-lo! Meu erro foi tremendo. Eu menti, sobre ti, sobre nós… Continuar Lendo →

ANNUS FAUSTUS – Juliana Calafange

Dizem que a primeira coisa que a gente faz na virada do ano é o que a gente vai fazer o ano novo inteiro. Espero que isso não seja verdade. Já imagino o mundo cheio de gente bêbada, vestida de branco, vagando pelas ruas, ao som dos fogos de artifício, uma versão tosca de The… Continuar Lendo →

INSÔNIA ∣ Juliana Calafange

Alice olhou o relógio, duas da manhã. Numa noite normal já estaria dormindo há horas. Nunca foi de dormir tarde, nem na juventude – quando ia a festas sempre voltava cedo pra casa. Imagine se o velho ia deixar filha moça chegar em casa depois das dez! Talvez por isso estivesse passando por essa situação… Continuar Lendo →

Crie um site ou blog no WordPress.com

Acima ↑